10- Depois de me livrar dessa máscara idiota

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SIRIUS BLACK

   Dizem que depois da tempestade vem a calmaria, mas eu não fazia ideia que esse ciclo se repetia tantas vezes.

Tive a noite mais incrível da minha vida ao lado de Remus, e agora estava prestes a embarcar em uma viagem para casa, e isso com certeza era uma tempestade depois da calmaria, e não ao contrário. Pelo menos tive o prazer de passar minha noite aninhando sobre o peito de Moony, tendo as suas mãos acariciando meu cabelo até que eu pegasse no sono.

  Se me perguntarem se eu estou bem, a resposta será sim. Apenas estou com medo do que vai acontecer, eu não sabia lidar com os meus pais, mas sabia que apesar de ter prometido, Regulus não poderia fazer nada para me ajudar, porque se ele interferisse de alguma forma, perderia todo o carinho dos meus pais, e eu sei que ele não quer isso.

Reg sempre foi o filho favorito. Antes mesmo de chegarmos aqui em Hogwarts, já éramos tratados com diferenças enormes, e quando fui selecionado para a Grifinória então, meus pais me odiaram, disseram que eu era a grande decepção da família. As coisas pioraram depois que me tornei amigo dos meninos, principalmente de Remus. Minha mãe implica com ele desde sempre, e até já pediu para que se afastasse de mim.

  Estava tentando não pensar nisso enquanto abraçava Remus, antes de sair do castelo com Reg. Nossos pais tinham vindo nos buscar, mas sequer se aproximaram.

Meus olhos estavam fechados, e eu abraçava Moony tão forte como se ele fosse fugir. Se eu pudesse ficar aqui, tudo seria melhor, mas prometi para o meu irmão que iria com ele, assim como ele prometeu não deixar nada acontecer comigo.

Família deveria ser para onde você corre quando está desmoronando, e não de onde você tenta fugir.

Me afastei minimamente, e olhei nos olhos daquele em minha frente.

── Vou pedir para Prongs jogar a capa de invisibilidade em cima de mim, daí corremos para dentro do castelo e nos escondemos ── sussurrei, fazendo ele rir.

── Essa ideia é horrível, Pads ── proferiu.

── Posso te dar um beijo? ── pedi, vendo ele negar rapidamente.

── Não mesmo, ou a sua mãe vai me lançar uma maldição imperdoável ── apontou discretamente para onde a mulher se encontrava, mas não me dei o trabalho de olhar. ── Mas pode beijar meu rosto ──

Nesse momento eu me aproximei, deixando vários selares espalhados pelo seu rosto, ato esse que o fez rir.

Como sempre, fomos interrompidos por Prongs e Wormtail.

── Desculpem-me atrapalhar esse momento meloso do casal, mas também queremos dar um abraço no Padfoot antes dele ir para a sua morte ── James disse, e por algum motivo, senti um arrepio se espalhar pelo meu corpo. ── Se cuida, Pad ── ele disse.

Ele afastou Remus, e os seus braços me rodearam. James só me abraçava forte assim quando estava realmente preocupado. Lentamente ele se afastou, segurando seus óculos para não caírem. E então foi a vez de Peter.

── Não morra ── Wormtail disse.

── Eu vou tentar

── Ainda dá tempo de fugir, Pad ── Jamie disse, e eu assenti. ── Mas não quero deixar o Regulus ir sozinho, então não vou te ajudar ── o olhei com uma falsa indignação.

── Merlin! Você se tornou um garoto apaixonado ── provoquei, mas ele pareceu nem se importar.

Em alguns instantes Regulus se aproximou, parecia tão desanimado quanto eu para voltar para casa. Normalmente ele fica feliz, e sua felicidade acaba quando chegamos lá, porque ele se lembra como são nossos pais, mas hoje ele estava realmente cabisbaixo. Pelo menos terei alguém para reclamar do meus pais a cada três minutos.

── Mamãe já está soltando fogo pelas narinas, Sirius ── ele disse, fazendo-nos rir. ── Deveríamos ir ──

── Se fazem tanta questão, então vamos ── bufei em frustração, vendo que não daria para fugir. ── Reg não ganha um abraço seu também, Prongs? ── olhei para o de óculos, que corou.

── É, Potter, não ganho um abraço seu também? ── o mais velho perguntou.

── Achei que odiasse abraços ── Prongs respondeu.

── Você e Sirius são uma exceção ── deu dois passos em direção ao meu amigo.

E eles se abraçaram.

Devo confessar que formam um belo par, só espero que nenhum dos dois saia magoado dessa história. Acabaria sobrando para mim ter que consolar aquele que estivesse triste, e ouvi-los falar apaixonadamente um do outro já era o bastante.

Eventualmente eles se afastaram.

── Vão logo, se beijem e acabem com essa vontade que está se exalando pelo olhar de vocês ── eu disse, mas não esperava que realmente fossem fazer isso.

Não foi de fato um beijo longo, mas um breve selar.

── Vamos Sirius ── eu estava boquiaberto, sequer consegui responde-lo.

── Wormtail, Prongs, Moony. Amo vocês ── eu disse antes de me afastar ao lado do meu irmão. ── Me desejem sorte ── gritei quando ainda podiam me ouvir.

Agora precisava manter a calma para responder os meus pais da forma mais educada possível, para então conseguir voltar para Hogwarts vivo. Aquela era uma missão quase impossível, meus pais são impossíveis, mas eu daria conta.

  Desde que saímos do castelo Reg tem segurado a minha mão, literalmente. Ele estava tão nervoso quanto eu, e eu realmente não sabia se isso era apenas porque estávamos indo para casa, ou tinha algo mais por trás daquela respiração profunda e mãos tremendo. Preferi não perguntar, mas se ele quisesse me dizer, eu o ouviria.

E então a minha parte menos favorita de uma viagem de trem com os meus pais: quando a minha mãe começa a insultar os meus amigos.

── Não entendo porque se importa tanto com aqueles garotos ── Walburga começou a falar, e eu já queria pedir para que calasse a boca. ── Nem vão se lembrar de você quando estiver ocupado trabalhando como auror ── acabei não contendo um riso. ── É claro que só são os seus amigos por conta do sobrenome que carrega ── aquilo só poderia ser brincadeira.

── Em que mundo eu disse que iria me tornar um auror? ── perguntei, atraindo o olhar da mulher. ── Eu vou jogar quadribol, e já te disse isso muitas vezes ── continuei.

── O quadribol vai ficar para Regulus, já conversamos sobre isso ── apertei a mão daquele que estava ao meu lado, como pedido para que me segurasse.

── Mas, mamãe, eu e Sirius podemos jogar, não tem problema nisso ── Reg tentou, e ela o ignorou.

── Sirius, precisa começar a se organizar desde já, e deveria começar trocando de amigos ── respirei fundo, desviando meu olhar dela. ── Peter é o mais aceitável. Lupin é o primeiro pelo qual deve começar, e aquele Potter, Merlin, é o pior de todos ── não podia falar nada. Tinha que me controlar.

Regulus não pensou nas consequências.

── O Potter não é tão terrível, mamãe. Ele é... ── tentou mais uma vez, e eu oscilei o olhar entre ele e a minha mãe. Papai não havia dito nada até então. ── Ele é legal ──

── James Tiago Potter é o pior dos bruxos, o garoto é a própria encrenca ── o homem ao lado de Walburga disse, pela primeira vez.

── Notei que está próximo dele, Regulus. Acho que não deveria ── a mulher disse, me fazendo revirar os olhos.

── Será que podemos conversar apenas em casa? A voz de vocês está me irritando, e pensar que terei que ouvi-las pelas próximas quarenta horas me deixa agoniado ── bradei.

Minha mãe não disse uma palavra sequer, o que era ótimo, mas sabia que teria que ouvi-la falar por horas quando chegassemos em casa. Pelo menos iria descansar um pouco os meus ouvidos.

Já queria voltar para Hogwarts.

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