16- Tenho medo de você também me abandonar no final

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REMUS LUPIN

  Estou preocupado.

  Estou realmente preocupado com Sirius, e como ele vêm se comportando esses últimos dias, desde antes daquela confusão com Lindsay no grande salão. Ele está menos teimoso, e mais emotivo. Está distante, e às vezes passa horas dormindo, bem mais do que é acostumado. Sempre que eu estabeleço um horário para conversar com ele, quando chego no dormitório, ele está em sua forma animaga. Ele passa bastante tempo como Padfoot agora.

Ontem a noite ele dormiu na cama dele, e no meio da madrugada, quando fui checar se estava tudo bem com ele, Pad não estava em sua cama, e eu o encontrei tremendo no chão do banheiro, com seu corpo suando frio. O abracei forte até que estivesse melhor, e ele dormiu agarrado em mim, e ainda estávamos no chão do banheiro.

Essa manhã ele não falou comigo, quando eu acordei ele já tinha saído, e durante as aulas ele me evitou, e disse que queria passar um tempo com James. Mentira. Sabia que ele estava apenas evitando uma conversa que sabia que teríamos, por isso fiz um sacrifício. Fui além do que estou acostumado a fazer.

Sentei na arquibancada da Grifinória, e vi o time jogar uma partida de quadribol.

Eu não sabia dizer se era tentador ou deprimente demais ver jovens adolescentes voando atrás de bolas. O tempo estava muito frio, o que piorava muito, já que eles tinham que voar com o peso das roupas de inverno. E eu ainda estava nervoso pelo que aconteceu no último jogo, por isso evitei olhar para Sirius enquanto se exibia em cima da sua Nimbus.

   Quando a partida acabou, eu quase respirei aliviado. Vi um dos garotos dizer para Sirius que eu estava o esperando, e então ele veio de encontro a mim, sem mais fugir.

Quando se sentou ao meu lado no banco de madeira da arquibancada, eu me virei para ele, arrumando a touca em minha cabeça. Estava muito frio, e mesmo que eu estivesse com muita roupa, sentia meus dedos quase como pedras de gelo.

── Não esperava te ver aqui ── foi a primeira coisa que ele disse. ── O que achou do jogo? Eu fui bem? ── perguntou animado.

── Não prestei muita atenção, estava com medo de que caísse de novo ── não sabia dizer se ele estava magoado, mas parecia. ── Mas se tem uma coisa que eu vi foi você a cada dois minutos trocando risadinhas com aquele garoto com cara de coruja ──

Eu o olhava, e por isso sabia que ele sorria, mas não entendi o que quis dizer com aquele sorriso.

── Está com ciúmes? ── apenas revirei os olhos em resposta, e ele se aproximou o bastante para me deixar desconcertado. ── Não gosto tanto de corujas, prefiro lobisomens ── cafajeste.

── Acho bom que prefira mesmo, ou então seria uma pena se eu tivesse que uivar para outra pessoa ── e ele semicerrou os olhos em minha direção. ── De qualquer forma, não foi sobre isso que eu vim falar ── voltei a minha postura. Estava perdendo o foco. ── Por que está me evitando, Pad? ──

── Não estou te evitando, por quê acha isso? ── ele riu sem humor.

── Estou preocupado com você. Está sempre fugindo de mim ── Proferi, tocando uma das suas mãos, mas ele afastou. ── Precisamos falar disso, Pad. Essas suas crises não são normais ── continuei, e ele desviou o olhar. ── Eu estou aqui, e sempre vou estar. Fala comigo. Confia em mim ── insisti.

E ele riu de novo, mas dessa vez parecia uma risada de indignação, e foi quando seus olhos voltaram para mim. Ele estava triste, talvez até nervoso.

── Quer mesmo falar de confiança? Se quer tanto que eu confie em você, por quê não confia em mim também, Remy? ── perguntou, e eu engoli seco. ── Você cuida tanto de mim, todas as vezes, mas esquece de você mesmo. Você não deixa ninguém cuidar de você. Nunca diz o que tá errado, e tenta disfarçar tudo com um sorriso que você jura que convence os outros ──

  A respiração dele pesou, e a primeira lágrima escorreu pelo seu olho esquerdo. A lágrima da dor. Sempre soube que Pad era esperto, apesar de não parecer. Porém, nunca achei que fosse esperto o bastante para notar que também estou quebrado. Nunca achei que fosse se importar com isso.

── Eu também estou preocupado com você. Acha que eu não te ouço chorar baixinho toda noite por medo de me acordar? Acha que eu não vejo como tenta me deixar de lado para se levantar e chorar longe, para eu não escutar? ── a sua voz estava embargada por ele ainda estar segurando o choro. ── Eu vejo o desespero nos seus olhos, Remus. Eu vejo como você luta para não desabar quando está em público, e isso dói em mim ──

A essa altura eu já estava chorando também, depois de sentir o meu peito queimar até eu não conseguir mais aguentar.

── Acha que eu não enxergo que você quer morrer? Foram inúmeras as vezes em que eu ouvi você pedir para Merlin te levar. Céus, Remus, eu só queria que você confiasse em mim o bastante para me contar o que está errado ── ele desviou o olhar de novo, e apenas chorou. Eu fiz o mesmo. ── Eu me sinto inútil por não conseguir cuidar de você como cuida de mim, mas agora eu percebi que você que não me deixa fazer isso ──

Pad me viu. Ele viu o meu desespero. Viu a minha alma como se eu fosse uma vidraça cristalina que ele pode enxergar através. E eu não sabia se me sentia honrado ou triste. Tudo que estava acontecendo com ele era por minha causa. Eu não conto meus problemas e ele achou que não poderia mais me dizer os seus também.

── Pad. Minha alma está despedaça. Eu sou frágil. Me sinto horrível toda vez que vejo o meu reflexo, e tenho vontade de socar o espelho ── minha voz estava falha. ── Estou quebrado, e seria muito egoísta da minha parte pedir para que junte os caquinhos da minha alma, mas por favor...tenha paciência comigo ──

E as lágrimas vieram com tudo. Eu chorava tanto que comecei a soluçar. Minhas mãos tentavam secar as lágrimas que caíam incessantemente, fazendo todo esforço ser em vão.

── Me desculpa. Me desculpa por ser o motivo de estar tão abalado nos últimos dias. Eu não achei que por não contar os meus problemas, também te daria problemas ── respirei fundo, tentando me conter.

Sirius se sentou mais perto de mim, e me abraçou. Ele chorava tanto quanto eu, e estava quebrado tanto quanto eu.

── Eu amo você mais do que amo a mim mesmo, Moony...── em um sussurro rouco. ── E tudo que eu mais quero é que você continue sendo a minha lembrança feliz na hora de conjurar o patrono ── e eu chorei ainda mais, mas tive um sorriso em meus lábios por alguns segundos. ── Eu preciso que fique bem ──

── Eu amo você mais do que tudo também ── confessei baixinho, me agarrando ao seu suéter. ── Vou cuidar de você. Vou cuidar de nós dois, eu prometo ──

── Não. Deixa que eu cuido de você ── e eu assenti. ── Me promete que vamos conversar sobre tudo a partir de hoje? ── e ele esticou seu mindinho.

── Eu prometo

E eu entrelacei meu mindinho ao seu.

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