Capítulo 3

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Me sentei no sofá, pegando meu celular e revendo as fotos que tirei dos dois sendo vacinados, sorrindo para mim mesma enquanto rolava as fotos para o lado.
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Milena e Heitor

Nós ficamos na cozinha, demorando para bebermos a água que estava em nossos copos, pensando sobre o que a primeira dama tinha feito a alguns minutos atrás. De fato, demonstrar carinho não era muito importante para nossos pais, e nós dois crescemos muito bem sem isso.

Na realidade nossos pais acharam melhor nos ensinarem coisas básicas para sobrevivermos, como trabalhar, estudar e até mesmo roubar se assim fosse preciso. O que na maioria das vezes era realmente preciso, tornando-se a única opção viável para algum problema que estávamos enfrentando. Aprendemos aos oito anos de idade a forma mais sútil de roubar alguém, sem precisar agredi-la ou ameaça-la. Mas nossos pais não pareciam ligar muito para isso, apenas se importando se conseguimos ou não o dinheiro que precisávamos.

Mas então eles foram presos, e infelizmente fomos "pegos" pela primeira dama e o seu marido comunista. Apesar de até agora eles estarem tentando nos ajudar, nós dois sabemos que eles vão querer algo em troca. Toda ajuda custa caro. Já dizia nosso pai.

Não tendo mais como demorar para ficar na cozinha já que a janta estava sendo servida, nós dois descemos das cadeiras que ficavam na ilha daquela grande cozinha, e nos juntamos aos dois comunistas em sua mesa de jantar. Como tínhamos ido a vários médicos e pelo que pareceu dois deles indicaram melhores alimentos para nossos consumos, hoje o jantar seria arroz, feijão, peixe cozido no azeite, e uma salada de tomate rúcula e alface, junto à um suco natural de uva. O jantar foi silencioso, até que a primeira dama Rosângela quis puxar assunto.

Janja Lula

Estava um silêncio desconfortável rodeando o ambiente em que estávamos, então eu quis acabar com isso, conversando com os gêmeos.

— Ansiosos para começarem na escola segunda? — eles se olharam e assentiram— O único detalhe é que será em tempo integral, vocês irão entrar as sete da manhã e sair as dezesseis da tarde. — sorri fraco para eles.

— Tudo bem, a gente gostava de estudar, vai ser legal. —Milena fala, e me da um sorriso, mostrando a falhinha que tinha entre os mesmo, a coisa mais fofa que já vi.

— É, vai ser legal. — Heitor falou um pouco desanimado, percebi isso pelo tom que ele havia falado.

— O que houve, querido? — perguntei segurando sua mão por cima da mesa e fazendo um carinho inocente na mesma.

— Vocês só querem se livrar da gente por mais tempo para acharem algum familiar nosso! Vocês não ligam de verdade para mim e minha irmã. — ele falou, afastando sua mão da minha — Nós ouvimos vocês ontem falando que vão deixar a gente aqui só até acharem algum parente nosso para ficar com a gente, não precisa fingir se importar, já que na primeira oportunidade irá nos mandar para outro lugar e fingir que nunca existimos para vocês! — ele fez uma careta no final, e eu pude perceber que Milena havia lhe dado um beliscão.

—Heitor, por favor, fique quieto.. — ela falou, e no mesmo momento ele se calou — Desculpa por isso senhor presidente e senhora primeira dama.. ele é... impulsivo.... — ela falou de cabeça baixa e eu sorri.

— Não há problemas, querida. — então voltamos a comer em silêncio.

Eu fiquei no pé deles dois para que escovassem os dentes direito. Após isso, por amanhã ser domingo, os chamei para vermos algum filme juntos, e lhes deixei escolher. Os dois entraram em um acordo e optaram por um filme de ação. Como estávamos no quarto onde eles estavam ficando, me sentei na mesma cama que eles estavam e assistimos o filme no meu notebook. Geralmente eu o uso somente para trabalho, porém abaixei rapidinho o aplicativo para assistirmos ao filme. Já na metade do mesmo, ambos já estavam dormindo, então eu parei o filme, desligando o notebook em sequência. Levantei-me da cama, e os cobri, ligando o ar-condicionado, saindo logo em seguida.

caos em 2023 - Janja e LulaOnde histórias criam vida. Descubra agora