Imprudência - parte 2

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- Preciso ajudá-la.

- Você só será morta com eles, não tem como ajudá-la, não mais, não agora. - eu o ignorei.

Dessa vez ele me segurou pelo pulso. Apertando firme, me impedindo de avançar.

- Qual o seu problema? Não vê o que estão fazendo com ela? Ela tem razão. Ele devia estar ali. Ele devia ser enforcado. - minha voz estava alta. Mas ninguem parecia prestar atenção em nós. Não com a briga acontecendo lá na frente. - Se você não quer fazer nada, eu quero. - disse a ele.

- Adella... isso é uma guerra perdida, todos aqui serão massacrados. - eu ignorei, finalmente conseguindo me soltar dele. 

Eu corri para frente. Quando estava prestes a subir no tablado, a mulher olhou para mim e negou freneticamente. Ou pelo menos foi o que pareceu, pois alguém tropeçou e me derrubou no chão. Por sorte ninguem pisou em mim. Eu levantei a cabeça rapidamente, olhando para ela, tentando ver se realmente vi o que vi. Mas então um dos guardas levantou a espada. Eu gritei. Tarde demais. A lamina encontrou o pescoço dela, e cabeça dela saiu do pescoço, decapitada pela espada. 

Eu não conseguia me mexer, não conseguia avançar e nem voltar para trás, nem mesmo respirar direito. Os olhos da mulher estavam arregalados, me olhando. A cabeça dela caiu um metro de distância de mim. Eu recuei, saindo de perto do tablado, em choque. Alguém esbarrou em mim, me acordando. Eu olhei em volta, mais guardas tinham chegado.

Ninguem parecia ter reparado que a mulher estava morta. Havia mais corpos no chão, a briga ainda continuava. Parecia uma cena de guerra. Uma magia forte avançou sobre nós. Não sei de quem vinha essa magia, mas conseguia senti-la no ar.

Todos que antes estavam indo para frente, agora tentavam voltar para trás, me empurrando para tentar se afastar de quem quer que tenha tamanho poder.

Eu fui praticamente arrastada pelo povo, enquanto eles tentavam voltar. Tanto que não conseguia enxergar mais lá na frente, centenas de pessoas tentavam voltar por onde vieram. E eu estava no meio.

Alguém me deu uma cotovelada no estomago enquanto tentava passar. Eu nem mesmo a senti direito, pois do nada, as pessoas em volta iam simplesmente caindo. Um momento elas estavam correndo gritando, e então caiam imóveis, mortas. Feéricos gritavam e choravam, era tanta gente, centenas tentavam sair dali ao mesmo tempo, sem se importar com quem estava na frente, passando por cima de quem estava caída no chão. Uma criança gritava no meio do caos, tentando correr também. Alguém a empurrou, fazendo-a cair chão.

Tentei chegar até ela, empurrando e dando cotoveladas. Quando eu estava perto de alcança-la, a criança caiu imóvel. Eu estanquei, olhando para ela. Não conseguia nem respirar diante daquela cena. Eu fui empurrada novamente, enquanto tentava me afastar do corpo da criança.

Eu olhei em volta, sem saber o que fazer, parada no meio daquele caos. Azriel. Tentei procurar pelo Azriel, mas não conseguia encontrá-lo. Tentei sair dali, correndo junto com eles, mas eu não sabia para onde ir. Eu nunca vi ou vivi algo como o que estava acontecendo ali. 

 Um cara me empurrou tão forte que cai de quatro no chão, as pessoas tropeçavam em mim e me empurravam, não deixando eu levantar. Eu me encolhi, colocando as mãos na cabeça enquanto era praticamente pisoteada. Alguém me puxou pelo braço, me colocando em pé.

Azriel.

Ele segurou forte minha mão e então corremos, de mãos dadas para longe dali.  O Azriel corria na frente abrindo caminho e eu tropeçava atrás no meus próprios pés enquanto corríamos.

Eu não sabia para onde estávamos indo, mas não parei de correr. Quando finalmente ele decidiu que chegamos em um local seguro, paramos. Minha respirando vinha pesadamente, como se não entrasse ar nos meus pulmões o suficiente. Estava vazio ali.

- Você esta bem? - perguntou Azriel. Eu assenti.

- O que foi aquilo? - perguntei.

Nunca tinha sentido nada assim. Minhas mãos tremiam, percebi. As sombras de Azriel se enroscaram nos meus braços. Eu me arrepiei, encarando-as. Elas nunca fizeram isso antes, nunca nem chegavam perto de mim.

- Aquilo... - disse Azriel, olhando para trás de mim para ver se vinha alguém. - Aquilo é a raiva do Beron, mas aquele tanto de poder... - ele balançou a cabeça, como se estivesse confunso.

Eu não sabia o que dizer. Nem mesmo o que pensar.

- Ele não pode fazer isso. - disse caindo em mim

- Você não entende, Adella? Ele pode fazer qualquer coisa. Ele é o Grão Senhor, tudo isso aqui é dele. - ele balançou a cabeça, frustrado. - Esse é o motivo do porque é necessário pensar antes de agir. Me diz, do que adiantou todo aquela raiva e coragem agora? Ele ainda saiu ganhando, mais pessoas inocentes morreram essa noite, por nada.

- Não foi por nada - tentei dizer. - eles...

- Talvez não tenha sido, mas não valia a pena. - disse me cortando. - Se queriam uma revolução, deviam ter pensado antes de agir. O que fizeram foi imprudente, totalmente descuidado.

- Você não pode culpá-los por isso. - disse irritada. - eles estavam fazendo o que achavam que era certo, lutando pelo o que acreditam, eles tentaram ajudar, eu tentei ajudar.

- E no que eles ajudaram, me diz? - perguntou ele.- Ajudaram em que? Quando sair daqui, olhe ao seu redor e veja quantas vidas forem perdidas por conta dessa imprudência. - ele estava tão irritado quanto eu, mas parecia que estava se controlando.

- E O QUE VOCÊ QUER QUE EU FAÇA? - eu gritei, cansada de ele indiretamente nos colocar como culpados. - Você diz isso porque não é o seu povo. Porque não é a sua gente morrendo. Não é a sua gente sofrendo. Então é bem mais fácil falar do que fazer. É fácil quando não é você que esta passando por isso.

- Você acha que é fácil? Que é fácil para mim ver vidas serem perdidas, sendo o meu povo ou não? Nunca disse que era fácil, não confunda as coisas. Não confunda ser cauteloso com não se importar. Eu estou tentando ajudá-los e pedi a sua ajuda para isso. - disse ele.

- Não, não venha com esse papo. Não venha colocar a culpa em mim. Você pediu minha ajuda para roubar documentos importantes da minha corte para você e sua própria corte. - falei irritada. - Isso é bem diferente.

- E por que você acha que você acha que quero isso? Que preciso desses documento? Por diversão?

- Porque você e sua corte querem roubar nosso território. - disse, finalmente.

O Azriel me encarou.

- Então se você pensa isso, é mais tola do que imaginei.

Sem dizer mais nada, ele desapareceu da minha frente. Literalmente desapareceu. Eu fiquei parada encarando o vazio.  

Corte de Sombras e Segredos - AzrielOnde histórias criam vida. Descubra agora