Capítulo 12 - Anaita
Eu estava deitado de costas. Minha blusa absorvia a umidade, a grama roçava a pele de minhas pernas. A lua acima não era mais que uma fatia fina. Além do estrondo de trovões distantes, tudo estava quieto.
Pisquei várias vezes seguidas, apressando meus olhos a se adaptarem à pouca luz. Quando virei a cabeça para o lado, um arranjo simétrico de galhos curvos despontado do meio da grama apareceu diante dos meus olhos. Muito lentamente, levantei-me. Não consegui tirar os olhos das duas órbitas pretas que me encaravam sobre os gravetos. Minha mente se esforçou para reconhecer a imagem familiar. Em seguida, depois de um terrível momento de reconhecimento, eu entendi. Estava ao lado de um esqueleto humano.
Engatinhei para trás até chegar a uma cerca de ferro. Tentei entender como havia parado ali, naquela situação, e pensei em minha última lembrança. Eu havia tocado as cicatrizes de Park. Onde quer que eu estivesse, era em algum lugar de sua memória.
Uma voz masculina vagamente familiar atravessou a escuridão cantando uma música em voz baixa. Virei-me na direção dele e vi um labirinto de lápides espalhadas no meio da neblina. Park estava agachado sobre uma delas. Usava apenas uma calça jeans e uma camiseta azul marinho, embora a noite não estivesse quente.
— Fazendo serão com os mortos? — perguntou a voz familiar.
Era áspera, densa. Namjoon. Ele se acomodou em uma lápide diante de Park, observando-o. Passou o polegar no lábio inferior.
— Deixe-me adivinhar. Você está decidido a possuir os mortos? Não sei — disse, balançando a cabeça. — Vermes saindo das órbitas… E de outros orifícios… Talvez isso seja ir longe demais.
— É por isso que eu continuo perto de você, Namjoon. Você sempre vê o lado bom.
— Esta noite começa o Cheshvan. O que você está fazendo aqui no cemitério?
— Estou pensando.
— Pensando?
— É um processo em que se usa o cérebro para tomar decisões racionais.
Os cantos da boca de Namjoon contraíram para baixo.
— Estou começando a me preocupar com você. Vamos. Hora de sair. Laurent e Mike nos aguardam. A lua muda à meia-noite. Confesso que estou de olho em uma gatinha da cidade. — ele soltou uma espécie de miado. — Sei que você gosta de ruivas, mas eu prefiro as morenas e, assim que arranjar um corpo, pretendo resolver um assunto pendente com uma que andou dando em cima de mim recentemente.
Como Park não se mexeu, ele disse:
— Você está maluco perdendo tempo? Precisamos ir. O juramento de lealdade de Laurent! Não está lembrado? Que tal essa? Você é um anjo caído. Nada pode sentir. Quer dizer, até hoje à noite. As próximas duas semanas serão um presente de Laurent para você. Um presente entregue de má vontade, aliás. — ele acrescentou com um sorriso cúmplice.
Park o olhou pelo canto do olho.
— O que você sabe sobre O livro de Enoque?
— Mais ou menos o que todo anjo caído sabe: praticamente nada.
— Contaram-me uma história do Livro de Enoque. Um anjo caído que se transformou em humano.
Namjoon se dobrou a rir.
— Perdeu a cabeça, companheiro? O Livro de Enoque é um conto de fadas. Dos bons, pelo o que parece. Mandou você direto para o país dos sonhos.
— Eu quero um corpo humano.
— Você ficaria melhor com duas semanas no corpo de um nefilim. Metade de um humano é melhor que nada. Laurent não pode desfazer o que foi feito. Ele fez um juramento e deve obedecer. Como no ano passado, e no ano anterior…
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Anjo {Jikook}
FanfictionUm mocinho em perigo. Uma situação misteriosa. Um anjo caído. Uma escolha crucial.