Capítulo 15 - Salvo

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Capítulo 15 - Salvo

Uma porta se abriu e fechou. Esperei ouvir passos se aproximando, mas o único som era o tique e taque de um relógio. Pancadas rítmicas e regulares que violavam o silêncio. O som começou a diminuir, perdendo o ritmo. Fiquei pensando se notaria quando parasse completamente. De repente, temi aquele momento, ficando inseguro com o que viria a seguir.

Um som muito mais vibrante se sobrepôs ao do relógio. Era um som reconfortante e etéreo, uma dança melódica no ar. Asas, pensei. Vieram para me levar.

Prendi a respiração, esperando, esperando, esperando. Então o relógio começou a andar ao contrário. Em vez de se tornarem mais lentas as batidas ficaram certeiras. Senti como se algo fluido começasse a espiralar dentro de mim, era um redemoinho cada vez mais profundo. Senti que era jogado na correnteza. Estava escorregando através de mim mesmo, até chegar em um lugar escuro e quente.

...

Meus olhos se entreabriram e encontraram o familiar revestimento de carvalho no teto. Meu quarto. Uma sensação de conforto tomou conta de mim. Então me lembrei onde eu estivera. No ginásio, com Kwan.

— Park? — disse, a voz rouca pela falta de uso.

Tentei me sentar e soltei um grito abafado. Algo estava errado com meu corpo. Todas as células, todos os músculos, todos os ossos estavam doloridos. 

Houve uma movimentação na entrada. Park Jimin apoiou-se no batente. A boca estava tensa, sem o traço tão constante de humor. Os olhos pareciam muito profundos, como eu nunca os vira. Aguçados por um instinto protetor.

— Foi uma bela briga no ginásio. — disse ele. — Mas acho que você se beneficiaria se tivesse mais algumas aulas de boxe.

Todas as lembranças voltaram como uma onda. 

— O que aconteceu? Onde está Kwan? Como cheguei até aqui? — minha voz estava em pânico. — Eu me joguei da viga.

— Foi preciso muita coragem para fazer aquilo. — sua voz ficou rouca e ele entrou no quarto.

Fechou a porta atrás dele, e eu sabia que era uma maneira de tentar deixar tudo de ruim lá fora.

Ele caminhou e se sentou na cama ao meu lado.

— Do que você se lembra?

Tentei reconstruir minhas lembranças, tentando examiná-las de trás a frente. Lembrei-me do bater de asas que ouvira após me jogar do alto. Sem dúvidas, havia morrido. Sabia que um anjo havia vindo levar embora a minha alma.

— Eu estou morto, não estou? — disse baixinho, com medo. — Sou um fantasma?

— Vocês são marcados pela marca de nascença e o mesmo sangue. Quando você pulou, o sacrifício matou Kwan. Tecnicamente, quando você voltou a vida, ele também deveria ter voltado. Mas alguém lá em cima não quis isso.

— Eu estou de volta? — disse, esperando não estar me iludindo com falsas esperanças. — Você é humano agora?

— Não aceitei seu sacrifício. Eu recusei.

Abri minha boca em admiração, minha boca se formando um "O".

— Você quer dizer que desistiu de ter um corpo humano por minha causa?

Ele levantou minha mão com curativos. E beijou os nós dos meus dedos que latejavam por causa dos socos em Kwan. Park beijou cada dedo, demorando-se, mantendo os olhos intensos fixos aos meus.

— De que me adiantaria ter um corpo se eu não pudesse ter você?

Lágrimas mais grossas escorreram pelo meu rosto, e Park me puxou para junto dele, apertando minha cabeça contra seu peito. Bem devagarzinho, o pânico cedeu, e eu soube que tudo tinha acabado. Eu ficaria bem.

Anjo {Jikook}Onde histórias criam vida. Descubra agora