Prólogo

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➼ Os avisos existem por um motivo. Por favor leiam antes de começar, docinhos;

➼ Disse que começaria 01/10 mas atualizei de presente de aniversário a mim mesma pois essa era a adaptação que sempre sonhei fazer.

➼ Boa leitura 💖

P.s.: olhem só, esse é o primeiro gif que faço sozinha hihi

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Prólogo

…Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas os lançou ao inferno e os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo.

_ 2 Pedro 2:4.

Vale do Luar, França
Novembro de 1565

Laurent estava com a filha de um lavrador na grama às margens do rio Luar quando a tempestade se aproximou. Por ter deixado sua montaria passear pela campina, ele não tinha opção a não ser voltar para o castelo com os próprios pés. Arrancou a fivela de prata do sapato, colocou-a na palma da mão da moça e observou enquanto ela se afastava correndo, a barra da saia imunda de barro. Em seguida, calçou as botas e partiu para casa.

A chuva desabava pelos campos cada vez mais escuros nos arredores do Castelo de Durand. Laurent caminhava com segurança sobre os túmulos afundados e as folhas podres do cemitério. Mesmo na neblina mais espessa ele conseguia achar o caminho de volta, e não tinha medo de se perder. Não havia neblina naquela noite, mas a escuridão e a crueldade da chuva já criavam dificuldades suficientes.

Laurent captou um movimento com o canto do olho e voltou bruscamente a cabeça para a esquerda. O que à primeira vista parecera ser uma enorme estátua coroando uma sepultura próxima ergueu-se majestosamente. Não era feita de pedra, nem de mármore. O garoto tinha braços e pernas. O peito estava despido, os pés, descalços, e as calças de camponês pendiam abaixo da cintura. Ele desceu da lápide com as pontas dos cabelos pretos encharcados pela chuva pingando. As gotas desciam por seu rosto de traços asiáticos e olhar afiado.

A mão de Laurent dirigiu-se ao punho da espada.

— Quem está aí?

A boca do jovem esboçou um sorriso.

— Não brinquei com o duque de Durand. — avisou. — Perguntei seu nome. Dizei-o.

— Duque? — o rapaz apoiou-se no tronco sinuoso de um salgueiro. — Ou bastardo?

Laurent desembainhou a espada.

— Retirai o que dissestes! Meu pai foi o duque de Durand. Eu agora sou o duque de Durand. — acrescentou, amaldiçoando-se pela maneira desajeitada como dizia aquilo.

O jovem sacudiu a cabeça devagar.

— Vosso pai não era o velho duque.

— E vosso pai? — questionou, estendendo a espada. Ainda não conhecia todos os vassalos, mas estava aprendendo. Guardaria na memória o sobrenome do rapaz. — Vou perguntar mais uma vez — disse com voz baixa, passando a mão no rosto para tirar a água da chuva. — Quem sois vós?

O jovem aproximou-se e afastou a lâmina para o lado. Subitamente, parecia mais velho do que Laurent supunha, talvez até dois anos mais velho que si.

— Sou da prole do demônio. — respondeu.

Laurent sentiu uma onda de medo invadi-lo.

— Vós sois completamente lunático — disse entre dentes. — Saí de meu caminho.

O chão cedeu sob os pés de Laurent. Chamas douradas e vermelhas apareceram diante de seus olhos. Encurvado, com as unhas fincadas nas coxas, ele elevou o olhar para observar o garoto, piscando e arfando, esforçando-se em compreender o que se passava. Sua mente vacilava como se não estivesse mais sob seu controle.

O rapaz agachou-se para que seus olhos ficassem na mesma altura dos de Laurent.

— Escutai com atenção. Preciso de um favor vosso. Não partirei até consegui-lo. Vós me compreendeis?

Rangendo os dentes, Laurent sacudiu a cabeça para exprimir descrença - e desafio. Tentou cuspir no jovem, mas a saliva escorreu pelo queixo. A língua recusava-se a obedecer-lhe.

O jovem envolveu as mãos de Laurent nas suas. O calor era ardente, causticante, e o duque soltou um grito.

— Preciso de vosso juramento de fidelidade — disse. — Ajoelhai e jurei ser meu servo.

Laurent quis soltar uma gargalhada grosseira, mas sua garganta de fechou e o som foi sufocado. O joelho dobrou-se como se tivesse recebido um chute por trás, mas não havia mais ninguém ali. Laurent desabou na lama. Virou-se de lado e vomitou.

— Jurai — repetiu o rapaz.

O calor queimava o pescoço de Laurent. Ele precisou de toda sua energia para cerrar levemente os punhos. Riu de si mesmo, mas não havia graça. Não sabia como era possível, mas a náusea e a fraqueza que o dominavam vinham do jovem. Não se livraria daquilo se não prestasse o juramento. Ele diria o que precisava dizer, mas prometeu a si mesmo do fundo de seu coração destruí-lo para se vingar da humilhação.

— Senhor, torno-me vosso servo — disse Laurent, malignamente.

O rapaz pôs Laurent de pé.

— Encontrai-me aqui no início do mês hebreu do Cheshvan. Precisarei de vossos serviços nas duas semanas entre a lua nova e a lua cheia.

— Quase uma… quinzena? — o corpo inteiro de Laurent tremia sob o peso de sua ira. — Sou o duque de Durand!

— Vós sois um nefilim. — disse o jovem com meio sorriso.

Laurent tinha um xingamento na ponta da língua, mas o engoliu. As palavras seguintes foram proferidas com fria perversidade.

— O que acabastes de dizer?

— Vós pertenceis à raça bíblica nefilim. Vosso verdadeiro pai foi um anjo expulso do céu. Metade de vosso sangue é mortal — os olhos escuros do rapaz ergueram, afiados, encontrando os de Laurent — Metade é de anjo caído.

Das profundezas de sua mente, Laurent voltou a ouvir a voz de seu tutor, lendo trechos da Bíblia que falavam de uma raça degenerada, fruto da união carnal de anjos expulsos do céu e mulheres mortais. Uma raça temível e poderosa.

Um arrepio que não era inteiramente de repulsa atravessou Laurent.

— Quem sois vós?

O rapaz se virou e começou a se afastar. Embora Laurent quisesse segui-lo, não conseguia obrigar as pernas a aguentarem o próprio peso. Ajoelhado ali, com os olhos maltratados pela chuva, viu duas cicatrizes largas nas costas nuas do jovem. Elas se aproximavam, formando um V de cabeça para baixo.

— Vós sois… caído? — perguntou. — Tivestes as asas arrancadas, não?

O rapaz, anjo, seja lá quem fosse, não se virou. Laurent não precisava de uma confirmação.

— O serviço que vos devo prestar — gritou — Exijo saber do que se trata!

O riso sombrio do jovem ecoou pelo ar.

Anjo {Jikook}Onde histórias criam vida. Descubra agora