PIZZA GIRL, wenclair

025

WEDNESDAY ADDAMS

Eu estava irritada,
que gato irritante.

Chegar em casa e ver uma coisa tão pequena rasgando o tecido de sua poltrona favorita não é algo muito agradável para alguém que estava morrendo de sono e ansiosa para encontrar sua irmã mais nova depois de longos meses longe uma da outra.

Eu apenas tirei atlas de cima da poltrona e dei um petisco para distrai-lo. Em outra ocasiões, eu teria gritado com aquele bichano folgado até ficar sem voz, mas eu estava tão cansada que nem procurei por jenna, apenas me joguei no sofá e adormeci até ser acordada pela Ortega horas depois. E ainda sim, acordei cansada, agora já não fisicamente,
mas mentalmente.

Em mim, o cansaço sempre residiu, por anos, desde que ainda era apenas uma criança, órfã. Eu era órfã de atenção, órfã de carinho, as vezes de preocupação, de amigos, pais e avós.

Desde então sempre tenho vivido no modo mais aleatório possível. As coisas tem se tornado monótonas, tudo parece tão igual e tudo se repete a cada dia que passa. Parece que tudo o que falo, faço ou penso, é sempre, completamente: automático.

Mas desde que a garota de cabelos claros voltou eu tenho sentido que isso está perto de acabar. não sei dizer ao certo se é apenas medo do que possa acontecer, por estarmos tão ligadas por conta de Heather, ou se minha mente apenas entrou em estado de alerta.

Enid não tem poder algum sobre mim, não temos e tivemos nada, nada além de um beijo bobo, que custou a minha saúde mental. Não cheguei a sequer deixar sentimentos em meu coração serem criados por ela, e se deixasse, se tivesse ficado um pouco mais de tempo convivendo com a mesma, eu teria me apaixonado, eu tenho certeza. Eu não a odeio. apenas não a quero por perto, apenas quero evitar vê-la ao máximo, quero evitar ouvir sua voz e saber o que acontece em sua vida. Eu realmente não me importo. para mim, ela é apenas uma conhecida, e depois de sua ida de volta para new York, eu espero que continue sendo apenas isso. E será.

Hoje terei que comparecer à maldita comemoração de ação de graças.
Eu sinceramente, não queria ter que ver pessoas, conversar, sair de casa e colocar aquele falso sorriso no rosto. Odeio socializar a não ser que esteja tratando de negócios bons ou conversando com algum cliente. Odeio socializar se não for com jenna, Heather e seus pais. Odeio sorrir para algum desconhecido que não seja um idoso fofo ou uma criança feliz. Acho que ser gentil não deveria incluir sorrisos, pra que sorrir se não for por tamanha felicidade?!

não queria ter que frequentar a mesma casa em que se encontrava a garota que brincou comigo anos atrás
Realmente não queria. mas agora, ali
estava eu, na porta, recebendo todos os amigos e parentes dos Sinclairs. Era uma chatice, ter que acenar, ter que conversar, ter que socializar por mais de dez minutos. Mas fora isso, a noite estava ótima. da porta da mansão, tinha-se a vista de uma lua caindo perfeitamente sobre o céu estrelado. Uma estrada ainda úmida, um estacionamento lotado e várias crianças correndo pelo Jardim, enquanto um palhaço contratado fazia gracinhas e soltava balões.

Ao meu lado estava Heather, sempre bela, com um de seus belos pares de all stars coloridos, uma regata branca, um casaco de seda e um short jeans branco; no geral ela estava simples, mas para mim estava linda. Ela estava segurando minha mão, enquanto percebia os olhares tortos que recebíamos dos mais velhos, mas eu acho que não se importava, e se sentia incômodo, não deixava transparecer. Sempre com um sorriso meigo no rosto, uma expressão de felicidade e uma animação de outro mundo. Heather parecia conhecer todo mundo, e tinha uma facilidade impressionante de fazer amigos, conhecidos ou seja lá o que fossem.