𝗖𝗮𝗽𝗶𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟲

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A respiração descompassada, o coração acelerado, o suor descendo pelas minhas costas e o medo todos unidos com a preocupação. A minha confusa não sabia o que fazer.

Eu deveria ir até ela e tentar ajudar de alguma forma?

Por que ela está tão machucada?

Se eu me aproximar ela vai querer me afastar ou ficará ainda mais brava?

Meus olhos correram por todo aquele sangue e os ferimentos ainda abertos. A avó havia voltado de uma missão difícil e não estava nada feliz. O corpo dela claramente pedia por um descanso, ela apoiava um dos braços na parede manchando-a de sangue, se esforçando para ficar em pé. Mesmo naquele estado seu olhar de reprovação não saia de seu rosto. Com a voz fraca ela tentou dizer algo forçando a si mesma a aumentar o tom, mas antes que conseguisse suas pernas falharam.

— Vovó!

Sem pensar duas vezes a segurei pelos braços. Inconscientemente toquei levemente sua mão, um frescor passou entre o toque, mas minha preocupação era maior que qualquer outro detalhe.

Ela me ignorou totalmente encarando o lugar onde eu estava há alguns segundo atrás, na verdade ela olhava precisamente para o telefone que havia caído das minhas mãos. O escritório ficou silencioso, eu não me atrevia a falar pois já sabia que teria o pior castigo. Ela percebeu o que eu fiz.

— Você é uma menina insolente! - Ela se virou para mim com rosto vermelho de raiva. Seu braço se moveu tão rápido que não consegui reagir a tempo. Embora eu não reagiria mesmo que percebesse que ela me bateria.

Minha bochecha ardia muito, com certeza estava vermelha. Com a força do tapa eu fui para o chão, eu soltei um grito de surpresa enquanto levava uma das mãos ao lugar atingido.

Um fio de sangue escorreu pelos meus dedos.

Eu fiquei atônita. Alguma vez ela me bateu diretamente estando fora da sala de treinamento?

Continuei jogada no chão olhando para o nada, apenas escutando a avó mexendo no telefone e sentindo seu olhar sobre mim. Eu errei, não tinha argumentos para me defender só podia me manter calada. Meus olhos começaram a esquentar, minha visão se tornou embaçada. Não pude mais controlar, deixei as lágrimas molharem meu rosto tentando não fazer um único barulho sequer.

— Outra vez, outra vez você me decepcionou. Pensei que já tinha entendido, mas parece que eu falhei em educá-la. - Ela fez uma pausa e voltou a falar - Com quem você estava falando? Já não disse inúmeras vezes que-

De repente a mais velha se calou. Confusa, observou de soslaio sua expressão mantendo a cabeça abaixada. Ela examinava os supostos e graves ferimentos que tinha, tocando os lugares onde ainda restavam resquícios de sangue. Como era possível? Eu mesma vi a situação terrível em que estava quando chegou.

Vovó também não parecia entender o que aconteceu. Assim que ela veio em minha direção desviei a atenção para uma parede qualquer. Ela parou na minha frente e se agachou.

— Desde quando consegue fazer isso? - perguntou baixinho, mas sua raiva ainda estava presente.

Sem levantar a cabeça a movi de um lado para o outro em negação. Realmente não fazia ideia de sobre o que ela falava.

A avó respirou fundo procurando a paciência que nunca teve.

— Somi, é suficiente ter entrado aqui sem permissão, ainda quer esconder coisas de mim?

Silêncio.

Não existia segredo algum. Não escondia nada dela pois era minha única confidente. Ela me ensinou a confiar apenas nela, porque ela faria de tudo por mim, tudo que estivesse ao seu alcance ela faria. O que tinha para esconder?

𝐀 𝐌𝐀𝐑𝐈𝐎𝐍𝐄𝐓𝐄˖ ࣪, BnhaOnde histórias criam vida. Descubra agora