Como acabamos naquela discussão, eu não sabia. A questão é que eu aos 6 anos tinha coragem o suficiente para contradizê-la ou talvez fosse na verdade pura ingenuidade.
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Novamente aquela sensação de não ter vivido o dia anterior estava em mim. Eu não me lembrava de nada do que aconteceu antes de eu chegar naquela cama. Mas se eu acordei aqui, com meu pijama e o cabelo bagunçado, significava que já era outro dia. Minha memória é mesmo tão ruim?
De qualquer forma, isso não tinha tanta importância. Eu dei um pulo da cama e corri pelos corredores da casa chamando pela minha avó. A pessoa mais especial de todo o mundo.
Como era manhã, com certeza eu acharia ela na sala de jantar. Se eu tivesse sorte conseguiria comer um pouco do seu café da manhã e me livrar da tal dieta sem graça.
A minha felicidade foi embora tão rápido quanto chegou. Antes que eu pudesse chegar nas escadas senti meu corpo ser erguido por braços finos.
— Ah! – gritei. Tentei me mover como podia, mexendo os braços e as pernas.
— Para onde você pensa que vai? O que eu disse sobre ser obediente e não sair do quarto. – ela me segurou de uma forma que nos deixava cara a cara.
Eu cruzei os braços chateada que meu pequeno plano não havia dado certo.
— Não faça esse bico. Eu é quem deveria ficar chateada.
— hm.
Sem discordar, permiti que ela me levasse de volta para quarto mesmo que não fosse o que queria. Deitei minha cabeça sobre seu peito e abracei seu pescoço. Nisso notei o colar brilhante que usava. Pareciam ser diamantes e estavam me pedindo para tocá-los. Eu estendi o dedo indicador e toquei uma pedrinha.
— Vovó, o que são essas pedrinhas brilhantes.
Ela não ligou muito para minha curiosidade e respondeu rapidamente.
— Diamantes.
Realmente eram pedrinhas preciosas. Pouco da alegria de antes voltará, eu queria um daqueles também.
— Somi pode ter um colar assim?
Com minha pergunta, a vovó parou de caminhar e se virou para mim, eu a encarei de volta. Seus lábios avermelhados suavemente se curvaram para cima. Não entendi porque ela sorria, foi uma pergunta boba?
Esse ato repentino me assustou, era estranho por algum motivo.
— Querida, se deseja ter algo como isso no futuro – os dedos delgados seguraram o colar – será necessário conquistar muitas coisas, principalmente pessoas. Não pense que por ser minha neta conseguirá o quer apenas pedindo. É por isso que você deve ser uma boa menina e seguir as regras impostas a você. Como ficar em seu quarto até que eu decida quando pode sair.
Fechei a cara de novo. Por que? Por que precisava me manter presa?
— Mas Somi não entende, não entende. Somi sabe que tem muitos brinquedos e bastante espaço também, só que não é a mesma coisa de estar lá fora.
— Como sabe se nunca esteve fora de casa? – Ela riu outra vez.
— Somi senti isso quando olha pela janela.
A cada vez que eu falava suas sobrancelhas se franziam mais. Ouvi um profundo suspiro vindo dela.
Se eu insistisse mais talvez fizesse ela mudar de ideia. Uni minhas mãos em frente ao rosto e fiz aquela expressão de cachorrinho sem dono da melhor forma.
— Por favor, vovó! Gostaria tanto de brincar no jardim. Por favor, deixa!
E eu repeti várias vezes as mesmas palavras. Várias e várias vezes até que a surpreendente paciência da minha avó acabou.
Ela me colocou no chão.
— Somi! Eu já disse que tudo isso é para seu próprio bem e os outros desta casa. Não me faça te dar uma punição. A pequena sabe que há muitas opções para escolher. Tenho certeza que não quer ter as mãozinhas doendo ou ser trancada no sótão e ficar lá sozinha!
O grito estridente me fez encolher. Sua voz se tornando mais alta, assustadora e fria, as lágrimas começaram a surgir nos cantos do meus olhos. Imaginar a dor e o vermelho na minha mão, imaginar a escuridão do sótão e os possíveis bichos e monstros morando por lá, me fez tremer e calar a boca instantaneamente.
Ela nunca tinha falado assim comigo. Nesse tom, com esse olhar de raiva e decepção.
O fato dela ser uma mulher séria que não gostava de brincadeiras, quase nunca sorria. Trazia credibilidade a suas palavras, trazia medo para mim.
Seus olhos afiados me encaravam diretamente de cima. Nossa diferença de altura causava impotência, e podia ser apenas imaginação, mas parecia ainda mais alta. Seu jeito confiante se unindo a elegância e a frieza, me esmagando. Me ajudando a entender meu erro.
— Seque as lágrimas. Elas são um sinal de fraqueza, não chore.
Era possível ver veias saltando em sua testa. Meio desajeitada, sequei as lágrimas antes que elas pudessem cair, abaixei a cabeça e fiquei quieta.
Atrás dela, algumas empregadas passavam observando atentamente a cena, tentando discretamente descobrir o motivo da gritaria. Claro, elas não ousavam demorar muito por ali. Com o pequeno tumulto na escadaria, a mais jovem delas acabou tropeçando chamando a atenção da vovó. Ela se virou e expulsou todas embora não dissesse nada.
— Volte para seu quarto e não fale uma palavra.
Afirmei com a cabeça e lentamente comecei a caminhar em direção ao quarto.
— Rápido!
Eu dei um pulo pelo susto e para não irritá-la mais corri como consegui. Entrei no quarto, fechei a porta e me senti no chão, escondendo meu rosto entre os braços apoiados em meus joelhos. Só então me pus a chorar, mas silenciosamente. Um tempo depois escutei a chave girando e trancando a porta.
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Essa foi a primeira vez que agiu daquela forma.
Até agora.
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𝐀 𝐌𝐀𝐑𝐈𝐎𝐍𝐄𝐓𝐄˖ ࣪, Bnha
Hayran KurguO nome Enokida passou a ser reconhecido e bastante comentado após o talento de Tsuki ser descoberto pelo mundo. Suas habilidades trouxeram sucesso e conquistas a sua família durante anos e anos. Quando sua adorável neta desperta sua individualidade...