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A força dos fantasmas foi contra aquela mão, que parecia enormemente forte pelo fato de haver tantos corpos indo de contra ela.

A mão foi se soltando até me soltar de vez, fui subindo enquanto acompanhava com o olhar o nadar dos fantasmas a minha volta, me arrastando pra cima, uma das fantasmas esticou meu braço para cima, assim que toquei os dedos para fora da água, senti algo duro, ao qual podia envolver minha mão.

Assim que minha cabeça foi para superfície, soltei e puxei o ar com muita força, os fantasmas começaram a me soltar e recuar, e notei o que estava segurando, era uma raíz. A raíz de uma árvore imensa, se estendendo por cima do rio até a mim.

— O que você estava pensando? – Lena sibilou.

— Não sei. Mas sei que pensei em alguém me salvando, vivo ou não. E também quando fui atraída até ali, havia uma fantasma com profundidade pretas em volta dos olhos, como raízes.

— Você trouxe tudo isso de forma inconsciente? – ela gargalhou em deboche.

— Pelo jeito, sim. – A gargalhada se ouviu novamente.

Os galhos foram se reprimindo, me levando junto com eles para fora do rio.

Estava encharcada. Empoçada. Porém livre.

Não me demorei sentada ali, levantei depressa e comecei a correr diretamente para minha residência.

Seja lá o que fosse aquilo, não permaneceria ali para saber.

Lena estava no meu encalço, acompanhando-me de volta a casa. Seu acompanhar sereno e sem ruído me deixou mais calma, saber que havia alguém comigo, mesmo que esse alguém fosse inexistente no mundo físico.

A presença dela, já me era suficiente para senti-me mais segura.

— Obrigada. – Soltei, finalmente desacelerando após chegar a minha rua. — Como sabia que estava ali?

— Não sabia, estava irritada batendo e atravessando o meu pé nas pedras, caminhando para o seu trabalho quando ouvi seus gritos.

— Obrigada.

— Não seja tola.

— Como?

— Você é minha melhor amiga, não importasse a circunstância, eu a ajudaria, e se eu não pudesse ajudaria, iria contigo, até o fim.

— Você diz isso porque já está morta, não dá pra morrer duas vezes. – A gargalhada dela se assoou novamente.

— Também. Mas você ficaria surpresa como essa afirmação é falsa.

— Quê? Há como morrer duas vezes?

— Teoricamente sim. – Ela continuou após perceber minha confusão estampada no rosto. — Bom, assim... Como eu não larguei do meu rancor para ascender no meu caminho espiritual, é possível minha alma desaparecer pelos males. Posso ser extinta, oficialmente. Minha alma.

— Entendi. O que são essas coisas?

— Não sei lhe explicar direito ainda. Um dia que conseguir, te direi imediatamente, você será a primeira viva a saber pela minha boca.

— Talvez seja porque sou a única – dei ênfase no única. — viva que você converse.

— Olha aí a sua vantagem! – gargalhei após sua afirmação.

— Não acredito que estou gargalhando minutos antes de fugir da morte.

Tirei a chave do bolso e enfiei na porta, destrancando e entrando com tudo, fechando logo após adentrar. Olhei em direção a garagem e o carro da minha mãe estava ali, subi as escadas rumo a sala de casa. Nossa casa era assim, de entrada havia uma garagem que tinha espaço para um carro e uma moto, e a porta ao lado da porta de garagem que era de vidro e madeira branca, logo ao subir o degrau, dava de cara com a porta do lado esquerdo que entrava pra garagem, e em frente, uma escadaria ao qual no topo, do lado esquerdo, era a porta para a sala, e a porta da frente, sala de jantar que ao seguir reto dava na cozinha.

Serpentear em EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora