Problemas

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NATASHA NÃO SE LEMBRAVA de já ter corrido tão rápido e se esforçado tanto, mas hoje estava precisando. Agatha ficou para trás enquanto ela atravessava a orla de Brighton. Até as gaivotas que voavam por ali pareciam evitá-la, sabendo que estava séria

O clima de junho estava nos vinte e poucos graus, mas a orla ainda mantinha uma brisa gostosa para a corrida. Mas nem mesmo o sol em seu rosto parecia mudar seu humor.
Estava correndo para esquecer.
Quando parou, seu corpo se lembrou de que não estava acostumada a correr, e ela respirava como se estivesse morrendo.

Foi assim que Agatha a encontrou: abaixada e arfando muito. A colega de apartamento a guiou para um dos bancos de frente para o mar. Ficaram sentadas até que Natasha conseguisse recuperar a respiração.
Só então Agatha abriu a boca.

— O que aconteceu? Não te vejo há cinco dias e quanto peço para corrermos, você sai como se fosse o Usain Bolt. Nós duas sabemos que você não é assim. O que houve? Por que voltou do final de semana tentando quebrar recordes de velocidade mundiais? – Agatha tampou os olhos com a mão. — Vou chutar que tem a ver com uma certa noiva gostosa.

Natasha franziu o cenho.

— Não fale assim dela

— Do que eu deveria chamá-la então?

Natasha pensou por um momento.

— Problemas.

— Nossa. – Agatha se mexeu e encarou Natasha. — Me conte.

— Nós nos beijamos. – O tom de Natasha era prático. Como se isso não fosse nada.
Era exatamente o oposto disso.

Antes que Agatha respondesse, ela continuou:

— Depois ela transou comigo no banheiro do avião. – Seu corpo reagiu como esperado. Como se Wanda estivesse bem ali, com os dedos dentro dela de novo. Era recente demais. Excitante demais. Simplesmente demais. — E agora, ela está cancelando coisas, e não sei se ainda tenho um trabalho ou um negócio, porque acho que acabei de estragar tudo. E para quê?

Natasha se inclinou para frente, colocando as mãos na cabeça.
Tinha passado a noite sozinha, tentando se convencer de que a situação não era tão ruim assim. Mas quando dizia isso em voz alta, parecia ainda pior.

— Puta merda – Agatha respondeu. — Se eu deixar pra lá a coisa do “você beijou a noiva” e tal, o que mais me vem à cabeça é ela ter transado com você no banheiro. Ela transou com você? – Agatha não conseguia soar mais surpresa, nem se tentasse. — A Pequena Miss Sunshine não é hetero?

Também foi uma surpresa para Natasha.

— Parece que não. – Ela suspirou. — Essa não é a questão. O problema agora é que agora eu tenho uma noiva que vai se casar daqui a... — ela ergueu a mão e mostrou os dedos — cinco dias. Alguém por quem eu fui contratada. Além disso, aumentei a minha contagem de ficadas de uma noite. Com alguém que eu nem queria um encontro casual. Não é o ideal.

Agatha balançou a cabeça.

— Não é. Sei que brincamos com isso antes de você ir, mas não esperava que fosse acontecer. O que é tão diferente nela?

Natasha se questionava isso desde que deixou Wanda no aeroporto. Por que a beijou na cozinha? E sim, Wanda tomou a iniciativa no avião, mas poderia ter dito não. Poderia tê-la impedido. Mas não quis.
Queria Wanda do mesmo jeito que ela a queria.
Ainda a desejava.
Mas ela tinha que parar de pensar nisso.

— Não sei. Passamos um ótimo tempo juntas no final de semana, nos conhecendo mais. Ela realmente foi a fundo. Havia uma atração. Conseguia sentir, mas não sabia se era recíproco. Até entrarmos na banheira juntas.
Quase nos beijamos ali, mas achei que conseguiríamos evitar e levar tudo de maneira profissional. Mas na noite anterior à nossa volta, nós nos beijamos. E aí o avião... não posso explicar. Aconteceu.

Parecia um clichê. Não precisava olhar para o rosto de Agatha para saber. Natasha já havia escutado muitas defesas de “quando me dei conta estava pelada” para saber exatamente o que pareciam. Desculpas. Mas realmente as coisas saíram do controle, e ela nem sabia como.

— Mas agora temos que voltar aos negócios. Ela me disse que apareceu outra coisa e que não podemos nos encontrar, então não sei o que está acontecendo. – Balançou a cabeça, apertando os olhos ao olhar para o céu. — É uma confusão terrível.

— Uau. – Agatha esticou os braços, dando um olhar significativo para Natasha. — Quer dizer, você realmente fodeu tudo. – Sempre podia contar com Agatha para ser direta. — Beijar a noiva é uma coisa. Não uma coisa boa. Mas transar com ela no banheiro do avião é outra.

Natasha se levantou. Ficar sentada falando sobre isso só piorava tudo.
Preferia correr. Ali, só precisava focar na sensação do sol na sua pele e o vento no cabelo. A natureza poderia ser reconfortante.

— Vamos andar e conversar. Ou correr e conversar.

Agatha assentiu, e as duas começaram a aquecer os braços, dando passadas compridas na calçada. Na frente delas, uma mulher se esforçava para conter um husky. À direita, um garotinho ruivo usando uma camiseta vermelha estava feliz com seu sorvete, e enfiou a cara nele.

— Veja pelo lado bom. Ao menos você saiu da seca.

Isso fez com que Natasha sorrisse.

— Poderia ser mais positiva sobre isso, não é? Normalmente, lido bem romances casuais. Me controlo bem. Mas não com essa. Além disso, minha reputação e minha carreira estão na corda-bamba, então transar não é a prioridade.

Ela começou a acelerar e voltou a correr. Ainda estava pensando demais. Precisava se distrair.

— Como deixou as coisas com a Wanda? – Agatha se adiantou para acompanhar o ritmo de Natasha.

Era uma boa pergunta. As imagens relampejaram em sua cabeça:
acariciando Wanda na banheira. Seu próprio orgasmo no avião, a cabeça inclinada para trás enquanto chegava ao clímax. Os lábios de Wanda pressionados nos seus.

A eletricidade faiscou dentro dela. Wanda ainda estava ali. Natasha conseguia sentir. Ou será que o ato desesperado do avião foi uma espécie de adeus para Wanda antes que se casasse? Será que estava usando Natasha para tirar algo de dentro de si? Não parecia na hora, mas olhando para trás, a verdade a encarava diretamente.

Ela parou de correr abruptamente, apoiando as mãos nas coxas e tentando recuperar a respiração. Seu coração estava tão acelerado que parecia quase preso na garganta. Como podia ter sido tão idiota?

Olhou para Agatha. Não tinha mais jeito.

— Não sei como deixamos. Ela disse que nos encontraríamos para o almoço. Que continuaríamos trabalhando juntas. Mas agora ela desmarcou e está trocando as coisas de lugar.

Agatha afagou suas costas. Era relaxante. Natasha precisava disso. O mundo não fazia mais sentido. Estava girando ao seu redor, completamente fora de controle.
Ela estava fora de controle. Odiava essa sensação.

— Posso fazer algo para ajudar?

Natasha balançou a cabeça. Essa confusão era sua e precisava dar um jeito de sair dela.

— Então aqui vai o meu conselho antes de corrermos de volta para casa. Está pronta?

Natasha endireitou a postura.

— Sou toda ouvidos.

— Você precisa encontrá-la e conversar. Precisa saber o que ela está pensando e encontrar um plano de ação em comum. Se vai continuar trabalhando com ela ou não. Se continuar, precisa determinar alguns limites e ter uma saída de emergência. Se decidir parar, combinem uma desculpa, uma emergência familiar ou algo assim. Acontece. O principal é que você precisa de clareza. Ela também, na verdade. É ela quem está se casando.

— Eu sei.

— Vamos correr para casa e então você liga para ela e marca um encontro. Se ela não atender, vá para Londres. Não é ela quem está mandando em tudo. Você também está correndo riscos. Então tome o controle de volta. Certo?

Agatha estava certa.
Natasha precisava voltar ao normal.
Precisava voltar a gerenciar a sua noiva, em vez do contrário.

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2/2 ✔️

Antes que Você diga SimOnde histórias criam vida. Descubra agora