ONZE

116 10 8
                                    

"POR QUE VOCÊ MATOU ELE"

   Foi a última coisa que ouvi.
   Quanto percebi estava no corredor no braços do meu pai, com meu rosto em seu peitou. Eu chorando como uma criança desesperada, meu pai fazia carinho em meus cabelos em uma tentativa de me acalmar. Aos poucos que parei de soluçar, fui levada para a cozinha e colocada em uma cadeira, ainda em choque não dizia nada, nem conseguia.
   Meu pai apenas andando para lá e para cá esfregando a mão nos olhos e sussurrando.
   — Olha, Camila – se sentou na minha frente – Cami, me desculpa, eu não queria envolver você nisso...Não é o tipo de coisa que...ahh... só me desculpa. Eu pensei que você daria conta...
   — DAR CONTA DO QUE!? De ficar vendo gente morrendo e achar normal!? Você é a porra de um doente desgraçado de merda. E fica envolvendo meu irmão como se fosse a coisa mais NORMAL DO MUNDO!! Eu não sou nem um pouco religiosa, mas espero, eu espero muito que Deus não te castigue colocando meu irmão como o próximo!!
   Me apresei até meu quarto sem olha para aquela cena horrível, mas mesmo assim ainda pude ver uma grande poça de sangue. Quando vi desmoronei na escada, meio tonta, senti alguém tentar me levantar mas empurrei na mesma hora tentando me recompor.
   Chegando no meu quarto tomei um pouco de água da torneira.
   Mãos trêmulas, dor de cabeça, suor e tontura. Que merda tá acontecendo?
   Com dificuldade consegui ir para a minha cama. Aquilo não passava. A cena continuava na minha cabeça e se repetindo várias, várias vezes. Uma pessoa morreu... na minha frente.

(***)


   —Cami? Acorda, Meo! Tu vai se atrasar. Já é onze horas. Vem logo se quiser carona. E por que você tá deitada no chão?
    Reconheci a voz de Latrell na hora. Olhei em volta meio confusa, que merda eu estava fazendo deitada no chão? Procurei meu celular, estava em cima da cama, ainda arrumada. Eram onze e dez, mas que saco! Me levantei meio tonta.
   —Tá tudo bem? – perguntou se sentando na minha cama e acendendo um cigarro. Respondi com um aceno, tudo que menos precisava era conversar.
   Tentei parecer sinalizada colocando uma roupa qualquer, amarrei meu cabelo, peguei minha bolsa e joguei uma água no rosto.
   — Me da um trago? – disse estendendo a mão para Latrell – Valeu.
   Descendo as escadas percebi que não tinha ninguém, sem festa, latas de bebida ou homens armados. A mancha continua lá e meu desespero também.
   — O velho saiu, disse que ia resolver umas coisas – disse ele.
   Tentando sair dos meus pensamentos acendi outro cigarro.
   — Não quero saber! Vamo logo.
   Na rua tudo também estava calmo, o normal seria ter crianças brincando ou senhoras fofocando, mas nem isso.
   — Relaxa. Geralmente não acontece nada, é só que ninguém quer ser o primeiro a descobrir.
   — Que?
   — As notícias correm rápido desse lado. Só segue o baile.
   Ele é exatamente como meu pai...

(***)

  — Não vou conseguir te buscar mais tarde.

   — Tá brincando, né? Como que eu vou voltar pra casa? – sai batendo a porta do carro.
   — Qual é! Acabei de arrumar. Toma, usa o meu passe, não preciso mais.
   Disse me entregando um cartão de estudante para usar o ônibus de graça.
   — Tenho que fazer meu core, como que você acha que eu pago a gasolina? – disse já saindo enquanto eu mostrava o dedo do meio. Não quero nem saber o que é. Dei as costas ainda estressada, tentando não pensar na noite de ontem e nem em nada. Mais cigarro.
   Cheguei na recepção e novamente aquela mulher.
   — Oi? Pode me aten...
   Antes de terminar, ela fez um "shii" com o dedo e continuou no computador. Pelo reflexo do óculos vi que era troco.
   — Deixa que eu procuro, vadia.
   Antes de sair dei um chute na bancada. Ver ela tomando um susto melhorou meu dia.
   Sem muitas opções do que fazer resolvi perguntar a alguém onde ficava alguma aula de fotografia. Fui até uma moça que vinha na minha direção. Ela tinha um cabelo Black Power bem platinado e um estilo alternativo lindo. Nessas horas que queria gostar de mulheres.
   — Oi, licença. Você poderia me ajudar? É que eu não sei onde fica a minha sala e quando fui perguntar pra recepcionista ela me ignorou jogando truco– tentei dizer do jeito mais simpático possível, dando ate uma risadinha.
   — Ah, isso sempre acontece, se depender dela a gente tá fodido – Jesus....que voz – Qual o teu curso?
   — Ee-eee fotografia... – Nossa qie cheiro bom.
   — Nossa, fotografa.. meu tipo. Se for teu primeiro ano então é o último andar. Se for o segundo é no segundo, bem fácil. Vai ter placas com os nomes do curso qualquer coisa – terminando de falar ela lambeu os lábios e mexeu no cabelo.
   — A-ata obrigada, valeu, valeu. FUI.

Por Amor // Oscar Diaz (hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora