TREZE

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(***)

   Não sabia para onde Assombrado estava me levando, mas, quando chegamos pude ter uma noção. A casa não me era familiar, mas o bairro sim, eu tinha passado aqui quando estava indo para a festa na casa dele.
   — Espera aqui, eu já volto.
   — Pra onde eu iria em?!
   — Por que você fica agindo como se fosse minha culpa?!
   — Porque é sua culpa, se você não ficasse agindo igual um louco estranho isso não teria acontecido – todo o meu medo tinha se transforma em raiva, raiva por ter me colocado naquela situação, raiva por ter beijado ele. Eu só queria culpar qualquer pessoa, menos a mim mesma. Ele não disse nada, apenas saiu do carro e bateu a porta com uma certa forma, tomei um pequeno susto fazendo com que eu ficasse mais irritada ainda. Abaixei minha cabeça a encostando na janela.
   Alguns minutos depois ele chegou, e não estava sozinho, conforme a pessoa vinha sua silhueta ficava mais clara, era uma senhora um pouco mais baixa que ele, trazia com ela um pequeno kit de primeiro socorros. Eles estavam conversando, Assombrado tentava explicar alguma coisa para ela enquanto escutava atentamente. Eles deram a volta e abriram a porta.
   —Aqui ela. Monstra o machucado – me virei gemendo um pouco. Assim que ela viu fez um olhar de espanto.
   —Dios mio, chico! Que hiciste con ella!! – falou com raiva dando um tapa em Assombrado, e é claro que eu ri.
   — Mi Dios abuela no hice nada, fue un accidente – respondeu ele.
   — Humm. Traz ela para dentro, só isso não vai adiantar.
   Assombrado tentou me pegar no colo novamente, o empurrei falando que não precisava, me apoiei em seu ombro e ele me segurou pela sintura.
   Demos a volta pelo e indo até a entrada da casa, "Abuela" como Assombrado tinha chamado antes, nos conduziu até a entrada, e depois para uma pequena sala de estar, com apenas a luz de uma abajur em uma mesa.
   — Coloca ela no sofá – tinham dois sofás na sala, um do lado esquerdo e do outro do lado direito, um estava com alguns pacotes de salgadinhos e umas latinhas de alguma cerveja, me colocaram deitada no esquerdo, colocando minhas duas pernas esticadas no mesmo.  Abuela chegou perto de mim, tirou rapidamente o curativo emprovisado e o jogou no chão, o sangue já tinha secado mas a dor continuava, dei alguns gemidos de dor, era como se fosse várias agulhadas de uma só vez. Fiquei olhando todo o processo, ela não dizia nada, apenas se concentrava no que estava fazendo, Assombrado ficou de longe olhando.
   — Oscar, ven aquí, pega o uísque embaixo do sofá – disse tirando uma agulha de uma embalagem e colocando o fio de algodão. Então o nome dele era Oscar?
   — Uísque? Pra que Uísque? – não cheguei nessa parte de gray's anatomy.
   — A anestesia acabou – concordei meio incomodada – é isso ou levar um soco do grandalhão aqui. Obrigado, ninõ. Toma, vai de uma vez que essa é da boa.
   Abuela colocou a bebida em um copo grande para mim. Quando o peguei olhei a aparência do líquido, era um marrom bem enferrujado e um cheiro bem amadeirado, fiz uma careta já imaginando o gosto, respirando fundo e contando até dois bebi. O gosto era de álcool puro, aquele tipo de álcool que desce rasgando a garganta. Quando parei tosi não sei quantas vezes, segurei a vontade de vomitar e respirei fundo, me preparei para tomar mais algumas goladas, mas quando vi já tinha terminado, lembranças do ensino médio. Fiz uma careta quando abaixei o copo e entreguei para ela
   — Há, há, essa é das minhas – disse abuela dando uma gargalhada. Consegui até ver "Assombrado" dar uma risada – Vamos começar. Melhor colocar alguma coisa na boca, e não tô falando daquilo em –disse rindo com uma risada de fumante. Sorri meio nervoso e tentei ignorar, olhei para Assombrado meio desconfortável, nossos olhares se cruzaram e ele deu uma risadinha discreta tentando disfarçar. Desviei o olhar e coloquei meu braço na boca, a esse ponto a bebida tinha surgido efeito, senti aquele efeito de levesa tomando conta de mim, sempre fui fraca pra bebidas.
   O corte não era tão profundo, provavelmente nem tinha chegado a cravar em minha pele, mas foi o suficiente para precisar costurar. Respirei fundo esperando começar, ela limpou o local que estava com o sangue já seco depois alinhou a agulha com a linha, senti a agulha sendo vingada em minha pele, e outra, outra e outra, e foi assim sucessivamente. Mordi meu braço tentando manejar a dor, mas não era o suficiente. Uma agulhada foi mais forte que a última e senti meus olhos lacrimejar, eu estava chorando. Sempre que minha pele era puxada e repuxada mais lágrimas saiam.
   — Pronto, niña. Novinha em folha. É para tirar depois de doze dias, entendiste? Doze! – disse encaixando minha perna, guardou tudo e entregou um papel para Assombrado.
   — Oscar, compra esses remédios pra ela, vai ajudar a aguentar a dor e a cicatrização, e vê se cuida bem da sua peguete, vocês já podem sair que eu quero dormir.
   Ele concordou e beijou a mão dela.
   — Obrigado, abuela. Fico te devendo mais uma – eles riram e depois ele veio ate mim – Quer ajuda?
   — Não, não precisa. Muito obrigada, de verdade mesmo, abuela? – disse cambaleando para o lado.
   — Pode me chamar assim querida, e assim que todo mundo me chama, agora vão, rápido, rápido, antes que o Rubem chegue – agradeci mais uma vez e me levantei, senti todos os pontos de uma vez, Assombrado tentou me ajudar mas o empurrei recusando, me apoiei nos móveis da casa e fui mancando até a porta, quando saí a noite quente já não era mais sentida, invés disso mudou drasticamente para um clima mais frio e ventoso. Tentei andar até o carro, mas a tontura do álcool me fez parar, não tinha andado nem a metade.
   — Desse jeito você não vai sair do lugar – olhei para trás e Assombrado estava encostado na varanda me olhando – Você tem que saber pedir ajuda – o ignorei e continuei andando, o orgulho era uma das minhas maiores qualidades – Que se foda – ele veio ate mim me pegando no colo estilo noiva e me levando ate o carro, não lutei, apenas aceitano que a contura e a dor era mais forte do que eu.
   Já estavamos no carro. Eu sentia algumas pontadas na coxa mas nada de mais.
   - Então, pra onde eu te levo? - disse pouco depois de ligar o carro.
   Eu tinha me esquecido. Senti meu coração batendo forte e minha boca secando. Puta merda, não tem como eu voltar com a perna assim. Não posso colocar a vida de Camila em risco. E nem consigo voltar pra casa
   — N-não tem como eu voltar. Eu não posso dizer a verdade.
   — Por que não? Se eu falar com o And...
   — Você já ajudou bastante, obrigada! Me deixa em um ponto de ônibus que eu me viro.
   Ele não disse nada, só ligou o carro e seguiu a estrada. O balançar do carro só parecia que me deixava mais bêbada, aquela porra de bebida não adiantou pra nada. Olhei para meus dedos e percebi o quão estranhos eles eram, alguns estavam meio magros e outros gordos e com colorações diferentes, comecei a rir sozinha.
   — Ei, o ponto de ônibus – disse apontando
   — Eu não sou um monstro tá bem? E não vou deixar você sozinha e rindo igual uma louca. E a gente ainda não terminou nosso encontro – disse olhando para mim com um sorriso.
   — Primeiro que nem foi um encontro. Segundo, pra onde a gente tá indo?
   — Pra minha casa – respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
   — Sinceramente, se eu não estivesse tão louca, eu pularia agora....com o carro em movimento. Que merda, eu to morrendo de sono, e meus dedos não param de conversar.
   — O que?
   — Nada não, nada não

(***)

   Acordei com um som de música extremamente alto, o sol batendo na minha cara, era como se fosse literalmente, e novamente eu estava novamente em casa, com meu colchão merda...que hoje estava extremamente bom....meu travesseiro..........é não tô em casa. Olhei em volta.....e eu não estava em casa, era o mesmo quarto daquele dia, com as mesmas janelas, cama e até mesmo quarda roupa. Levantei um pouco bamba, olhei em volta e depois para baixo, eu estava com apenas uma camiseta e nada mais, e logo em baixo uma poça enorme de sangue, olhei para a cama que estava deitava e o edredom também estava sujo de sangue.

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⏰ Última atualização: Jun 04, 2023 ⏰

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Por Amor // Oscar Diaz (hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora