OITO

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   Acordei com o som de um celular despertando. Fiquei com os olhos entreabertos tentando me acostumar com a claridade.
   Ouvi o som de uma porta sendo aberta, quando abri meus olhos completamente, vi Carol e André indo até a cozinha. André, estava com um macacão de mecânico sujo de graxa, me lembro de Carol ter comentando alguma coisa que ele trabalhava como mecânico. Eles se sentaram no balcão, que dividia a sala da cozinha.
   Me levantei dando bom dia para os dois e indo para o banheiro.
   Eu estava um horror, meu cabelo estava todo bagunça e minha maquiagem toda borada. Limpei meu rosto e tentei dar um jeito no meu cabelo. Quando terminei, voltei para a cozinha cambaleando com um pouco de sono. Me sentei na bancada com a cabeça encostada no mármore.
   – Meu Deus, você tá acabada – disse colocando uma xícara de café para mim.
   – Percebi quando me olhei no espelho –tomei um pouco do café e pegando um pedaço de bolo — O André já foi? Nossa, ainda é tão cedo – falei assim que percebi que ele não estava mas na cozinha.
   – É sete horas, as pessoas trabalham invés de ficar nas costas do papai.
   A olhei como se tivesse me ofendido, rimos e continuamos a comer.
   – Hum, esqueci de falar, a Diana tá vindo aqui e tá putasa com você.
   E então a ficha caiu. Quem estava me ligado ontem a noite era a Diana. Eu deveria ter notado pela maneira ameaçadora e "cuidadosa" das mensagens.
   Ouvi um rangido de portão sendo aberto e passos vindo em direção a porta, bateu três vezes, antes de bater mais uma vez Carol disse "entra".
   Diana entrou, assim que me viu fechou a cara e foi em direção da pia, pegou um copo e encheu de água, antes que pudesse falar o meu lado da história, um jato de água veio em meu rosto.
   — Tudo bem, eu mereci – falei me secando com minha camiseta.
   – Você tem noção do quanto eu estava preocupada!? Eu te liguei, procurei por todo canto! Ah é, oi meu amor! – disse indo até Carol, dando um beijo em sua bochecha e depois em sua barriga, quando terminou continuou me olhando seria.
   — E onde caralhos você estava?
   Olhei assustada para Diana e depois para Carol, que balançou os ombros na defensiva como se me dissesse "não sei".
   Fiquei em silêncio por uns segundos com ela ainda me encarando, mas finalmente disse:
   — Eu...pequei uma carona com alguém...
  Ela fez um sinal para que eu continua-se.
   — Ok, ok, e você quer me dizer com quem?
   — Meu Deus, Diana, você tá parecendo minha mãe.
   — Foi com o Assombrado, não foi?
   Não disse nada, apenas a encarei com medo de sua reação se respondesse "sim". Mas, meu silêncio já foi o suficiente.
   — ENTÃO É VERDADE!!
   — Por que você disse pra ela?! – perguntei.
   — Tu fez a merda e a culpa é minha?
   — EU NÃO DISSE ISSO!
   — É tradição de família se envolver com gangster.
   Olhamos feio ao mesmo tempo
   — Gente, não sei porquê essa preocupação, não acontece nada de mais.... tipo a gente quase transou, ma...
   — PUTA MERDA!!
   — Mas ele não fez nada de mais comigo, ele foi até que legal. Ele é mais sensível do que parece...
   — Deixa eu advinha... ele te disse a trágica história da vida dele de como o pai o abandonou e a mãe morreu? É sempre assim.
   Encarei Diana meio surpresa, ele não tinha me falado que a mãe dele morreu.
    Ficamos nessa discussão por alguns minutos(que mais parecia horas), estávamos mais nós xingando do que resolvendo alguma coisa. Diana, tinha me contado um lado do Assombrado que eu não conhecia, e eu falo isso como se o conhece-se a nos. Mas, ele não parecia uma pessoa ruim, o jeito bruto o entregava um pouco, mas era só isso.
   — Tá bom, já chega, gente. Não aconteceu nada e eu estou bem. E mesmo vocês não acreditando em mim, ainda acho que o Assombrado não é tão ruim assim...
   — Deus... eu errei uma vez e não vou errar de novo, eu prometo – disse Diana, ignorando totalmente oque eu disse e falando como se Deus estivesse em sua frente – Camila, meu bem, promete que vai ficar longe do Assombrado – disse olhando profundamente nos meus olhos. Pensei um pouco, as alternativas não eram muitas, ou seriam mais minutos de xingamentos.
   — Tá bom, prometo!
   — De dedinho! – mostrou o dedo mindinho, e eu também mostrei e em seguida o apertando.
   — Alguem dessa família tem que se salvar! – falou em um tom de brincadeira direcionado para Carol, ela mostrou o dedo do meio e tirou os pratos da bancada direto para a pia.
   — Parando pra pensar... o Assombrado, não é tão ruim assim. Ele ajudou o André quando ele queria sair da gangue.
  

(....)

   Conversamos até dar o horário de Diana ir para o trabalho. Decidi ir também, pois tinha que visitar e resolver umas coisas na faculdade.
   Me despedi das duas e sai. Antes de ir resolvi dar uma passada em casa para trocar de roupa.
   Não foi muito difícil chegar em casa. A casa onde Carol mora era casa onde minha avó morava. Eu costumava ir para quando as coisas ficavam feias. Minha avó me dava o maior conforto, nem parecia que erra parente do meu pai.
   Quando cheguei, meu pai e meu tio estavam sentados no sofá. Meu pai estava com a cabeça abaixada dizendo alguma coisa em um tom de voz meio chorosa, e meu tio parecia consolá-lo.
   – Pai? – me olhou e rapidamente e sem pensar duas vezes veio me abraçar. Eu não soube como reagir, era um abraço tão sincero, e ao mesmo tempo desesperador, era apertado e confortável, então apenas cedi.
   — Em quase quarenta e oito anos, acho que só vi seu pai chorar duas vezes, quando ele apostou todo o dinheiro dele, e perdeu, e agora – disse com uma risada de fumante e saindo para o quintal.
   Meu pai me soltou e ficou me encarando rindo como um idiota. Agora já tava ficando estranho.
   – Seu tio tem razão. Eu fiquei tão preocupado que nem sabia oque fazer. Chorei tanto que tô até desidratado – ele não parecia bravo, pelo contrário, eu conseguia ver alívio em suas palavras.
   — Mas, o importante é que você está bem, que você está viva!
   — Por favor, só não faz uma festa por causa disso – rimos com oque eu disse, ele entrelaçou seu braço em meu pescoço bagunçado meu cabelo, ainda sorrindo. Eu também estava, por finalmente estarmos nos dando bem.
   – Eu estava na casa da Carol, se te deixa mais tranquilo. A gente acabou se encontrando – mentira – então me chamou pra ir na casa dela – mentira – e como ficou tarde fiquei por lá mesmo.
   – Você poderia ter me ligado ou mandado mensagem. Eu poderia ter te buscado, onde quer que fosse.
   A situação já estava ficando estranha. Conhecia meu pai tempo o suficiente para saber que ele sabia de alguma, mas queria que ei dissesse e estava bancando o "bom pai" pra arrancar a verdade de mim. Percebi também a maneira como me olhando, era ansioso, como se tivesse medo da minha resposta.
   – Pai, esquece isso, meu Deus! Eu tenho umas coisas pra fazer. Depois a gente se fala – disse me soltando de seu braço e subindo as escadas.

Da uma estrelinha e comenta se estiver gostando da história(se quiser, é claro) Mas isso dá um puta incentivo<3

Por Amor // Oscar Diaz (hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora