O início do fim de tudo

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Angelina não conseguia deixar de sorrir e rir feito uma menininha durante aquelas quase duas horas em que, junto com Lucas e dona Edna, estavam enfeitando a enorme árvore de Natal. Estarem juntos daquela forma parecia tão certo, eles pareciam mesmo ser uma família feliz. Apenas pareciam. Cada um deles tinha seus próprios demônios, sem dúvida alguma. E o da jovem tinha nome e sobrenome: Liam Schroeder.

A lembrança do quase beijo ainda a perturbava e por mais que o filho mais velho daquela família não tivesse mais atravessado seu caminho, depois daquilo, ela ainda podia sentir a presença do mesmo na mansão. E como poderia ser diferente? O homem era uma força da natureza! E, o pior, ele não precisava se esforçar muito para perturbá-la, bastava apenas e tão somente se aproximar!

— Cuidado, elas são frágeis — Lucas advertiu.

E só então Angelina percebeu que apertava em suas mãos as pequenas poinsettias, que junto com as luzes brancas compunham a ornamentação da sala.

— Perdão — murmurou envergonhada, soltando as bonitas e inocentes plantinhas, que não tinha culpa de sua falta de autocontrole.

— Lina, pelo amor de Deus e de sua própria saúde, acalme-se! — pediu em búlgaro num tom que beirava exasperação. — Você não está numa espécie de guerra.

É fácil falar, quando não é você que está sendo perturbada! Angelina sentiu a cabeça latejar.

— Você ainda está aqui, em meio a enfeites de Natal, lembra-se?

— Claro que lembro — rebateu magoada pelo amigo soar tão irritado e até mesmo duro. E ele raramente usava aquele tom para falar consigo, então era normal e compreensivo que a moça se pusesse na defensiva.

— Não é o que parece — revidou ainda num tom duro, cobrando: — Cadê os risos e sorrisos de agora há pouco?

— Se afogaram na piscina — malcriada, ela se afastou sem se importar se seu comportamento o chatearia ainda mais ou causaria algum tipo de mágoa que viesse assombrá-la depois.

Angelina tinha o direito de se sentir perturbada e de mau-humor de vez em quando, não? Ainda mais tendo que sustentar uma mentira. Porém, ela sabia que seu direito de sentir-se mal terminava justamente onde começava o direito de Lucas de se preocupar consigo. E foi justamente isso que ele fez durante os próximos dez minutos após aquele pequeno, porém significativo embate. Ele continuou o processo de adorno da árvore, mas nunca deixou de acompanhar a melhor amiga com aquele olhar de quem se sente um lixo por todos os maus que desafortunadamente ousavam cair sobre ela. O rapaz verdadeiramente se importava com aquela garota, sempre fazia de tudo para que as coisas fossem fáceis, e leves para ela, e no momento em que ele mais precisava da força e dedicação de Angelina, ela estava esmorecendo por não acreditar em sua própria força de vontade.

Olhos bonitos, porém tristes, ela constatou ao encará-lo por uma fração de segundos antes de desviar os olhos. Isso é culpa minha, concluiu sentindo raiva de si. Vê-lo tão ruim daquele jeito a fez sentir como se fosse uma amiga muito mesquinha, então, deixando de lado seu próprio orgulho, foi se desculpar.

— Você tem razão, não estamos em guerra. — falou baixinho ao se aproximar. — É Natal, tempo de ficar feliz e não triste ou de mau-humor. — acenou positivamente com a cabeça. — Afinal, Papai Noel não dá presentes para crianças choronas, certo? — fez graça e sorriu ao ouvi-lo soltar uma pequena risada de concordância. — Eu sinto muito por não ser forte o suficiente para controlar meus próprios sentimentos com relação a tudo isso, Luke — murmurou envergonhada. — Mas confie, eu vou continuar tentando.

Décimo MandamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora