Algum tipo de alívio ou diversão

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Findado o café da manhã, a senhora Edna se despediu dos mais novos, informando que iria visitar uma das creches a qual era coordenadora voluntária, prometendo que os encontraria na hora do almoço.

— Mesmo no final do ano, há sempre muito trabalho a se fazer. — Ela disse com satisfação genuína ao se despedir do filho e da suposta nora com beijos carinhosos no rosto, aconselhando-o a aproveitar o dia ensolarado.

Então, aproveitando que estavam finalmente a sós, Angelina tentou persuadir Lucas a contar a verdade antes do jantar da noite seguinte, pelo menos para a mãe.

Alegou que sabia o quanto era difícil para ele, mas que sua genitora era uma mulher incrível, que sem dúvida iria conseguir compreendê-lo. Tomou a liberdade até de externar o pensamento positivo de que a senhora Edna poderia ajudá-lo na hora de contar a verdade para o pai e o irmão mais velho.

Angelina estava segura de que tinha um bom argumento, mas não obteve êxito. Muito pelo contrário, foi "enrolada" por uma proposta de relaxamento na piscina a qual não pôde recusar. Afinal, o dia estava tão quente, e já fazia tanto tempo desde que havia tido a chance de aproveitar um bom banho...

— Ótimo — Lucas disse satisfeito — Vou te esperar já dentro d'água — seguiu em direção às portas janelas de acesso ao vasto e gramado quintal.

Soltando um suspiro metade desanimado, metade triste, Angelina seguiu em direção ao quarto temporário, tentando a muito custo esvaziar a mente das preocupações, que eram tantas e todas voltadas para o seu melhor amigo, e sua família.

Ah Deus... Era tão simples quando minhas preocupações eram todas sobre os trabalhos acadêmicos e as investidas do Samuel...

Fazia tempo desde que Liam sentia aquele tipo de necessidade tão pungente de voltar à casa. Geralmente, ele se ocupava no escritório e só retornava ao lar que dividia com os pais quando já estava faminto e exausto o bastante para apenas tomar um bom banho quente, alimentar-se, trocar poucas palavras com seus genitores e enfim ir descansar para o dia seguinte. Tudo muito corriqueiro, normal e controlado. Coisas que ele fazia sem nem mesmo prestar tanta atenção, tudo meio que no automático. E estava tudo bem. Pelo menos era o que ele acreditava. Haja vista que, se fosse honesto consigo mesmo, não estava se permitindo viver a vida plenamente como precisava e merecia. Ele apenas estava sobrevivendo.

Durante os últimos cinco anos, ele estava seguindo aquela rotina, que mudava somente quando participava de algum evento durante a noite ou quando passava a madrugada com alguém em seu apartamento no centro da cidade. Aliás, se fosse pensar agora... Já fazia tempo demais desde que se permitiu ter uma boa companhia para tomar algumas taças de vinho e ter alguma brincadeira debaixo do chuveiro...

Talvez seja por isso que você está tão animado em voltar para casa agora, lhe disse uma pequena voz em sua cabeça. Estás esperançoso de que tenha algum tipo de alívio ou mesmo diversão com a senhorita Blogorodna.

— Claro que não. — sorriu com certo escárnio, apertando as mãos em volta do volante, fazendo mais força que o necessário. — Quem sabe — deu de ombros, como se não se importasse, quando na verdade, ele sabia, estava mesmo voltando pra casa para ter mais algum tipo de contato e/ou interação com a sua mais nova e talvez querida cunhada.

Angelina demorou a descer até a parte traseira da grande mansão, onde na lateral esquerda se localizava a imponente piscina. Ela não tinha a desculpa de estar indecisa sobre o que vestir, pois havia trazido apenas um maiô azul marinho, e foi o que vestiu, completando o look com uma saída de banho floral e chinelos de borracha na cor branca.

Sua procrastinação, na verdade, se devia ao fato de que não se sentia à vontade para tomar banho ao ar livre. Além de todas as normais inseguranças com o próprio corpo, ela também tinha receio de que em algum momento o senhor Robert e/ou seu filho mais velho aparecessem, certamente, não seriam encontros muitos bons com ela vulnerável em trajes minúsculos. Ainda mais com relação à Liam, que sem dúvida iria queimá-la com seu olhar fatal como fizera na noite anterior. Só lembrar, ela sabia que seria difícil lidar.

— Aleluia! Você apareceu! — De dentro da piscina, Lucas gritou agitado.

— Nossa. Você fala como se eu o tivesse deixado esperando por horas — deu risada, aproximando-se.

— Foram os cinco minutos mais longos da minha vida.

— É mesmo? — debochou, tirando a saída de banho que envolvia os quadris, pondo-a em cima de uma espreguiçadeira ali perto.

— Mesmo — ele concordou. — Estava quase indo buscá-la pelos cabelos, se fosse necessário.

Acenando a cabeça de modo negativo, ela o censurou:

— Nada romântico, Philip.

— O quê? Vai me dizer que não gosta do estilo "homem das cavernas"? — ergueu ambas as sobrancelhas de modo provocativo.

— Você fala cada coisa — riu, finalmente entrando na água, deliciosamente morna devido ao calor do Sol, sentindo-se realmente bem pela primeira vez depois de ter chegado ali. — Estar na sua casa, junto com sua família não é tão ruim, afinal — revelou com toda sinceridade.

— É mesmo?

— Não é bem como imaginei que seria, mas está bem — sorriu meio insegura.

O rapaz se aproximou, perguntando baixinho:

— Você está falando sobre o namoro falso, não é?

Angelina assentiu com um leve aceno de cabeça.

— Sei que não está sendo fácil, mas pense assim, isso não vai durar para sempre, pois amanhã teremos o jantar de Ação de Graças, e então eu irei contar tudo para eles... — Lucas suspirou de modo triste e cansado. — Não vai ser fácil, nem bonito, principalmente por parte do meu pai, mas fica tranquila, no final vai ficar tudo bem.

Novamente, ela apenas assentiu com a cabeça. Afinal, o que poderia dizer para amenizar aquela verdade tão pesada?

— Como é, vamos só ficar de blábláblá, é isso? — Lucas quis saber de repente, soando novamente tão animado quanto um garotinho no dia de Natal, e de certa forma o era. — Que tal uma corridinha?

— Quem chegar por último no outro lado é um zero à esquerda gigante — ela entrou no espírito da brincadeira, sentindo-se tão menina quanto seus vinte e três anos lhe permitiam.

— Melhor — ele propôs; — Quem chegar por último do outro lado paga um big lanche para o outro! — dito isto, saiu dando braçadas.

— Ei! Você está roubando! — Angelina protestou, também dando início à uma série de braçadas.

— Não seja chorona, Blogorodna. — Lucas mostrou a língua, assim que alcançou a borda do outro lado da piscina. — E vá se preparando para abrir sua carteirinha, pois assim que tivermos uma chance de passearmos pela cidade, irei cobrar meu lanche.

— É mesmo? — pôs ambas as mãos nos ombros masculinos e impulsionou para baixo. — Beba um pouquinho de água antes, menino bonito! — deu risada, vendo o amigo debater-se um pouco até conseguir se soltar.

— Nossa. Nunca tinha percebido o quanto você é forte. — ele admirou-se. — E vingativa. — agarrou-a pela cintura, beijando-a carinhosamente na bochecha esquerda. — Eu te amo tanto, minha amiga querida...

O coração da garota parecia inchar no peito. Era sempre assim. Toda vez que Lucas declarava amor, ela sentia que tudo estava bem, em paz. Que por mais que as coisas parecessem difíceis de lidar, às vezes, elas não eram insuperáveis, pois com um amigo tão especial como ele, Angelina tinha forças para enfrentar tudo e todos.

Bem, pelo menos era o que sentia, até ter de enfrentar os olhares intensos, sorrisos provocativos e palavras premeditadas para causar desconforto de certo irmão mais velho, a quem ela deveria tratar como cunhado.

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