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𝐄ra uma tarde quente e ensolarada, os pássaros cantavam alegremente e o movimento na rua diminuía com o passar das horas e conforme as pessoas voltavam para suas casas para descansar depois de um longo dia de trabalho, ou de estudo, ou apenas depois de divertir muito com os amigos, ou com a família. Richard Tozier observava a rua pela pequena vitrine da cafeteria onde trabalhava; os poucos carros que passavam na rua, observava os adultos apressados, as crianças voltando juntas da escola, os carros de som anunciando produtos que ninguém estava interessado em comprar... observava tudo.

Richard era de fato um ótimo observador, era para o mesmo estar ajudando seu colega de trabalho Stanley a empilhar algumas caixas de encomenda da loja, para que finalmente pudessem ir embora, mas por algum motivo aquele adolescente de óculos, cabelos bagunçados, e com seu avental levemente amarrotado, observava a rua atentamente, como se estivesse em transe. Se sua boca não estivesse fechada com certeza estaria babando naquele momento, sequer notou seu colega o chamar irritado devido a sua visível incompetência perante ao trabalho.
Desviou o olhar da rua hipnótica que havia em sua frente assim que recebeu um pescotapa do garoto loiro que estava no estabelecimento trabalhando sozinho e resmungando alguns palavrões devido a falta de atenção de Richie.

- Aw! Porra Stanley! - Resmungou devido a agressividade repentina.

- Foi pra você acordar! Para de olhar pra essa maldita rua e vem me ajudar com as caixas! Tô te chamando a quase vinte minutos! Temos mais de cinquenta caixas pra guardar e você fica aí olhando a rua feito um maluco hipnotizado!

- Foi mal, mamãe... - Disse Richie se apoiando com as mãos nas próprias coxas para levantar do banquinho onde estava sentado, bufando em seguida.

- Richie, é sério, tenho que ir pra casa cedo, meus pais querem que eu vá com eles até a igreja hoje, tem um evento importante e eles provavelmente já estão me esperando a essa hora!

- Não entendo o porquê de você ainda ir à igreja com seus pais, você sequer segue a mesma religião que eles, e ainda por cima é gay, sua igreja é claramente homofóbica...

- Você já tá careca de saber que eu não tenho escolha, Richie... agora faça-me o favor de falar menos e trabalhar mais!

O moreno andou até o loiro, que carregava mais caixas do que conseguia levantar, e pegou algumas delas para si, amenizando o peso que o magrelo loiro que claramente não tinha força nenhuma nos braços segurava.
Depois de quase quarenta minutos os dois jovens finalmente terminaram seu trabalho, Richie tirou o avental, o pendurando em um gancho que havia na parede, em seguida se debruçando no balcão esperando seu amigo terminar de trancar a porta do almoxarifado onde haviam ido para guardar as caixas.

- Prontinho, vamos? - O loiro disse enquanto arrumava a franja rebelde que caía sobre seus olhos castanhos, alguns fios grudavam em sua testa devido as poucas gotas de suor que possuía.

- Vamos sim - Richie disse e saiu da cafeteria e mais uma vez esperou Stanley trancar a porta da frente. Em seguida, ambos entraram no carro do moreno, que, por não ser tão novo, custou um pouco a ligar.

- Essa sua lata-velha um dia vai explodir com nós dois dentro, Richie, puta que pariu! Esse carro tá mais pra um microondas!

- Não fala assim do Simon! Você ainda tem sorte de eu aceitar te dar carona todos os dias até em casa mesmo você xingando meu humilde carrinho! - Richie disse fazendo Stanley rir; tanto pela irritação do melhor amigo quanto pelo nome ridículo que o mesmo havia colocado em seu automóvel.

Poucos minutos se passaram e Richie, que já havia deixado Stanley na casa de seus pais, seguia sozinho na estrada que já estava começando a ficar escura e apenas iluminada pelas luzes amarelas dos postes. Richie aproveitava o vento que entrava pela janela do carro e mexia seus grandes cachos, que, devido ao cabelo estar grande demais, bagunçavam-se de maneira um tanto engraçada. Aumentou o volume do rádio do carro - Que por incrível que pareça era uma das únicas coisas daquela lata-velha que ainda funcionavam bem - onde tocava "Take on me - a-ha" e começou a balançar a cabeça conforme o ritmo da música e cantarolar algumas partes do refrão.

Richie dirigia sem rumo, como costumava fazer, adorava dirigir sem rumo, principalmente durante a noite. Ele via as luzes da cidade, os restaurantes, as boates, as festas, os riquinhos saindo em seus carros de luxo, os garotos populares saindo com várias garotas, grupos de amigos se divertindo juntos... enfim, tudo o que - Definitivamente - não fazia parte da vida de Richie. Sempre fora um garoto de poucos amigos, nunca havia sequer tido uma namorada, beijado uma garota, e muito menos transado com uma.

O que não era surpresa alguma, afinal, Richie era um completo nerd, tímido, antissocial, mal-humorado, e não era nem de longe um dos garotos mais bonitos. Ele não era atlético, não tinha quase nenhum amigo, não frequentava lugares famosos e movimentados, não bebia, não fumava, não usava nenhuma droga... ele definitivamente não se encaixava com os outros jovens de sua idade. Até mesmo seu melhor amigo, Stanley, era mais popular que ele. O garoto apesar de também ser meio nerd e mal-humorado, era com certeza mais sociável e simpático que Richie.

Stanley era simpático, doce, tinha vários amigos, frequentava festas de vez em quando - Apesar de seus pais serem bem rígidos às vezes, eles eram liberais na mesma medida, era algo balanceado - e era muito bonito. Várias clientes da cafeteria já tentaram conseguir o número do loiro e falharam miseravelmente, já que o mesmo não curtia garotas e dava um "chega pra lá" nelas, dizendo que já tinha uma namorada.

Richie não se importava se não era popular, se não tinha amigos, se não tinha namorada, se nunca havia beijado ou transado. Muito pelo contrário, evitava tocar nesses assuntos. Sempre teve a sensação de que era "diferente", "deslocado", "perdido". Não se interessava nem um pouco por essas coisas, apesar das piadas sujas que ele fazia com muita frequência.

O garoto continuava dirigindo, com a mente distante, não pensava em nada nem ninguém. Cantarolava sem perceber as músicas do rádio, enquanto mantinha os olhos atentos em cada canto da cidade em que passava. Estacionou o carro na frente de uma farmácia afim de comprar um pote de sorvete de chocolate pra comer assim que chegasse em casa.

A música parou de repente e Richie abriu a porta do carro, respirando fundo e sentindo o cheiro que vinha da rua. Podia sentir o cheiro de cigarro, algodão doce, álcool e hambúrguer tudo misturado. Esse era o cheiro que podia-se sentir em Derry, todos os dias, durante a noite, no centro da cidade.
Entrou na farmácia e escolheu seu pote de sorvete, e enquanto pagava, manteve os olhos na direção da rua, observando a boate que havia um pouco mais longe dali, no outro lado da rua.

Seus olhos pousaram sobre um grupo de adolescentes que haviam ali, onde um deles em específico, retribuía o olhar em direção a Richie. Aquele garoto magro, baixo, de cabelos levemente bagunçados e olhos grandes, redondos e castanhos encarava Richie desviando o olhar repentinamente, como se pudesse virar pedra a qualquer momento se olhasse fixamente para o mesmo. Richie o encarava sem desviar o olhar por um segundo sequer, ficaram se encarando por no máximo uns cinco segundos até que Richie entrou no carro resmungando.

Aquele cujo ficou encarando era ninguém mais ninguém menos que Edward Kaspbrak, um dos garotos riquinhos e populares de seu colégio. Richie o conhecia bem: sabia com quem andava, quais lugares frequentava, e o tipinho de gente que ele era. Richie não ia com a cara de Edward, ou melhor, Eddie, que era como as pessoas o chamavam. Dizia que o baixinho era irritante, esnobe, mimado, falso... enfim.

Sem gastar seu tempo pensando sobre aquela figura que tanto detestava, seguiu viagem até sua casa – Pois já se aproximava da meia-noite – pensando apenas em qual seriado ele iria maratonar domingo, no dia seguinte.

Palavras: 1355

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