Capítulo quatro: Olhar de um sobrevivente

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Atualmente.
2023.

O grupo de cinco pessoas caminhava até o congresso. Ellie fazia diversas perguntas para Emma e Tess, que pacientemente respondiam. Para a jovem de quatorze anos o mundo do lado de fora era completamente novo. Joel ia andando mais atrás, em silêncio. Notava que Petra lançava olhares indagadores para ele, mas não conseguia olhar a adolescente por muito tempo.

Não tinha como não lembrar de Sarah. Ela foi a única a acertar qual seria o sexo do bebe que Emma esperava, e Deus, como a menina queria uma irmã. Estava tão feliz, se gabava para os amigos na escola que em breve teria a irmãzinha mais linda do mundo. Tão linda quanto seus pais.

Joel nunca se achou lindo, sabia que tinha um certo charme e beleza, mas era comum. Sarah não, muito menos Petra. Suas belas filhas, diferentes na aparência e donas de olhares idênticos.

O tipo de olhar que deixava-o desestabilizado.

- E você tava sozinha quando foi mordida no shopping? - Tess perguntou para Ellie.

- Minha melhor amiga estava comigo, mas eu não quero falar sobre isso. - Emma fez um carinho nos cabelos escuros da menina. Durante o tempo que passaram juntas, Ellie contou lhe contou sobre Riley e como não enlouqueceram juntas. - E respondendo às perguntas anteriores, sou órfã e namorado...definitivamente não.

- Corrigindo: era órfã até conhecer a minha mãe. - Petra sorriu entrelaçando seu braço com o de Ellie. - Quem diria que eu precisaria ficar presa num prédio pra ter uma irmã. - A Pascal mais nova criou um laço muito forte com Ellie em pouquíssimo tempo. A última criança que teve amizade foi Amy, que morreu há muito tempo.

Depois do incidente era apenas ela e Emma, que lutava todos os dias para que tivesse uma infância minimamente normal. Sua mãe lhe ensinou a ler, escrever, contava histórias, fazia brincadeiras, costurava roupas com os tecidos que achavam perdidos e claro, ensinou como se atirava.

A própria Emma aprendeu a se defender com o tempo, ter uma vida que dependia dela a motivou cem por cento. E agora tinha Ellie, a garota teimosa que de certa forma cativou seu coração. Talvez por ser mãe e ver sua filha tão feliz, acabou desenvolvendo afeto pela Williams e prometeu adotá-la.

- É, elas me adotaram, mas eu nem queria. - Ellie brincou. - Aí, ele é sempre caladão assim?

As mulheres encaram Joel. O Miller continuou caminhando quieto, apenas observando o ambiente e ouvindo a conversa delas.

- Ele passou por muitas coisas recentemente. - Tess deu um sorriso amarelo.

- E não tá sabendo ser homem e agir com maturidade, poderia ao menos olhar para sua filha, porra. - Emma cuspiu as palavras engasgadas. Entendia a posição do ex namorado, assim como ele entendeu o seu lado. Joel perdeu Sarah, e perder um filho deixa marcas para sempre. Ele jamais se esqueceria da doce menina e nem deveria.

Emma respeitava o tempo dele, mas porra, ele precisava ao menos olhar direito para Petra. Seu instinto materno falou mais alto, sentia dor no coração vendo o rostinho triste de sua filha. Petra queria muito falar com o pai, porém ele não dava chance.

- Joel. - Tess gesticulou para o amigo, conhecia o homem bem o suficiente para saber quando ele queria fugir de situações dolorosas. Ela mesma não sabia como ocorreu a morte de Sarah, tinha conhecimento apenas de seu nome.

- O congresso fica pra lá, dez minutos de caminhada se desse para ir reto. - Joel fingiu que aquela situação não era com ele. Vestiu sua máscara de frieza e encarou o enorme prédio destruído à sua frente.

- Então...?

- Caminho longo ou caminho curto?

- Olha só, é o caminho longo ou o caminho que a gente morre. - Tess suspirou antes de responder.

𝗔𝗹𝗹 𝗙𝗼𝗿 𝗨𝘀 - 𝗝𝗼𝗲𝗹 𝗠𝗶𝗹𝗹𝗲𝗿 Onde histórias criam vida. Descubra agora