Olá, chuchus! Espero que estejam todos bem
Só queria dizer que estou apaixonada demais nesse capítulo. Ele tá enorme e eu amo ele.
Boa leitura!
º~º~º~º~º~º~º~º~º~º~º~º~º~º~º~º~º~ºSe você desse a Marceline uma garrafa de whisky e fizesse a pergunta certa, ela ainda seria capaz de fazer o maior despejo de traumas já registrado pela humanidade. E bem, ela tinha um repertório considerável.
Ela falava dos pais biológicos, da solidão dos orfanatos, da decadência de Simon. E até de Ash. Esse último relato sempre jogado ao extremo do choro compulsivo ou do ataque de raiva, mas, ainda assim, ela reconhecia a existência do problema de forma voluntária.
Só tinha uma coisa da qual Marceline praticamente nunca falava. Nem ela saberia dizer exatamente por que seu cérebro havia escolhido aquela dor específica para guardar para si mesmo, mas tinha sido assim desde os seus dez anos de idade.
Marceline não falava sobre Beth. E, na verdade, só falava da mãe biológica no termo de "meus pais biológicos". Falava de Hunson em particular (até porque, agora, ele estava de volta), mas não citava muito o nome da mãe.
Mas, definitivamente, ela não falava sobre Beth.
Talvez fosse por tudo que ela representava.
A memória vívida mais antiga de Marceline era uma que ela gostaria de não ter. Durante os anos que passaram, as imagens de seus pais biológicos foram falhando na mente, como uma foto antiga que desgasta quando você a toca demais. E ela era eternamente grata por ter Hunson outra vez para clarear as memórias sobre sua mãe.
Ela não tinha o menor medo de falar que Cecília Almeida era a mulher mais linda que ela já tinha visto. Hunson havia dado a Marceline uma foto que ela adorava: era de uma de suas muitas idas à praia e Cecília sorria para a camera, segurando uma minúscula Marceline no colo, que agitava os pequenos braços no ar. Seu sorriso muito branco, o cabelo encaracolado voando de leve ao vento. As curvas e a pele negra clara que o corpo de Marceline copiariam um dia.
E ela adoraria que essa fosse a imagem de Cecília que tivesse ficado presa em sua mente, e não o marrom acizentado e sem vida de seus olhos encarando o nada quando seu corpo alvejado caiu ao chão, enquanto ela, Hunson e o resto do grupo conseguiam seguir fronteira adentro para os Estados Unidos.
Era uma primeira memória de infância muito pesada para carregar.
E talvez fosse por isso que ela não falasse sobre Beth.
Marceline ainda era teimosa demais, mesmo já sendo uma criança mais crescida. E ela se esgueirou pela pequena multidão que se formara duas esquinas abaixo de sua casa, mesmo com os apelos dos vizinhos para que não olhasse.
E então ela viu, quase de frente, o rosto ensanguentado de Beth no banco do motorista de seu carro, que tinha a frente em estado tão deplorável que deixava para sua imaginação uma imagem terrível do que tinha sido feito de suas pernas e dorso.
A primeira coisa que ela pensou foi que pessoas que morrem de olhos abertos acabam todas com os mesmos olhos. Porque os olhos verdes de Beth nada tinham a ver com os olhos quase negros de Cecília, não duas horas antes.
Mas agora ambos pareciam os mesmos. Cinzentos e congelados.
E essa foi a primeira vez que Marceline se sentiu amarga. Tinha um tom irônico naquilo tudo. O jeito como o universo lhe arrancava a mãe a força, deixando o pai em um estado que o incapacitava de cuidar dela. E, então, lhe dava uma família novinha em folha, tão maravilhosa quanto (se não mais que) a primeira.
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Tudo Permanece Agridoce - AU Bubbline
Fiksi PenggemarJá haviam passado anos desde a tragédia criadora do ambiente que levou Marceline Abadeer a se apaixonar por Bonnibel Zanne. E muitas coisas já não eram as mesmas. Marceline and The Scream Queens não era mais uma banda indie de garagem, Kevin não era...