Capítulo 11 - A Faca

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Eu tinha dito quarta feira. Sim, eu sei que hoje é sábado. Mas, assim... Demorei menos que seis meses, então tá ótimo.

Olá, meus chuchus!! Espero que estejam todos bem!

Deixo vocês agora com o capítulo de hoje, que eu particularmente gostei muito.

Boa leitura!

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- Você tem certeza de que é a música em si que perdeu a graça, Marceline?

Sentada outra vez no consultório de sua psicóloga, Marceline a encarou por um momento, olhar agitado, como se não entendesse muito bem a pergunta.

- Como assim?

- Muitas vezes, fazemos análises incompletas e rasas dos nossos sentimentos, porque estão ligados a problemas que não conseguimos ou não vemos meios pelos quais podemos resolver. Então, transferimos o sentimento para uma outra coisa que esteja mais sob controle.

- Eu não sei se entendi bem onde você quer chegar com isso, Katherine.

- Quero que você pare um momento pra analisar os últimos tempos da sua carreira. O último ano, pra ser específica. O que te incomoda, Marceline? O que realmente te incomoda? Qual é o problema de verdade?

Marceline passou a mão pelo cabelo, desgrudando a franja do suor frio que surgia na testa. Começou a sacudir a perna.

Não queria falar disso. Não queria assumir em voz alta, porque parecia ridículo. Não era exatamente aquilo que ela queria, desde sempre? Não era a merda do objetivo?

Bem, como ela mesma dizia às vezes, mentir para Katherine era basicamente rasgar dinheiro; e ela não estava tão louca assim. Ainda.

- A indústria. Os contratos. As jogadas de marketing. - A voz ficou um tom mais baixa e tímida antes de finalizar - A gravadora.

A mulher anotou algo, Marcy engoliu em seco.

- Tem tido problemas com a parte burocrática do trabalho, então.

- É, acho que sim. As vezes... sinto falta de antes. Do começo. De escrever letras no nosso próprio estúdio. De ver Marshall e Bongo mexerem na produção por conta própria. Sinto falta de shows improvisados na boate ou nas festas dos nossos amigos.

Marceline franziu a testa, fungou e virou o rosto para o lado quando sentiu os olhos quentes pelas lágrimas.

- Sinto falta de fazer música pela música, não porque eu tenho um contrato me obrigando a entregar um álbum em x meses.

Katherine curvou a cabeça, se permitindo um segundo apenas para se compadecer daquela garota antes de voltar ao trabalho.

- E então?

- Então, acho que me convenci de que não quero mais cantar, porque é uma desculpa mais fácil de engolir do que assumir de que a merda toda pela qual lutei não é tão legal quanto eu achei que seria.

A mulher deu um pequeno sorriso. Pronto, agora Marceline estava reconhecendo o problema. Era metade do caminho andado.

- É tudo uma merda ridícula - soltou Marceline. Agora que tinha começado, não iria parar de falar. - Acho que sou toda nostálgica com Agridoce porque eu tive a liberdade de fazer muito do que eu queria ali. Todos nós tivemos. Mas, a cada álbum, parece que mais e mais estão enfiando uma fórmula no meu rabo, ao ponto de eu não conseguir me conectar direito com quase nada que eu tenho que cantar incansavelmente em turnê.

A perna direita balançando sem parar, a raiva borbulhando. Katherine permaneceu em silêncio, analisando. Conhecia a paciente em sua frente, o mal hábito de ir acumulando a raiva; aquela não seria a primeira - e, tristemente, talvez não a última - vez que veria uma pequena explosão.

Tudo Permanece Agridoce - AU BubblineOnde histórias criam vida. Descubra agora