3: A Defesa de Neteyam Sully;

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As semanas iam se passando e Neteyam se sentia cada vez melhor, o que tinha aliviado todos a sua volta. Ainda não conseguia andar, o que o deixava maluco.

Não aguentava mais ver as mesmas cores todos os dias, sempre no mesmo lugar vivendo como se todo o dia fosse o mesmo. Felizmente agora conseguia conversar, falava quando tinha oportunidade, era como compensar o seu silêncio.

Sentia falta de poder andar livremente. A saudade dos grãos de areia quente tocando a sua pele nunca foi tão intensa, sempre odiou como entrava em suas tranças e arranhava seu corpo, mas agora era tão diferente.

Sentiu falta do queimar que o sol causava em seus ombros, o que era contraditório de se refletir. A sensação do queimor era um inferno, como abraçar o próprio capeta. Sua relação com a grande estrela nunca havia sido exatamente boa, já que as árvores costumavam tapar parte da luz, mas nas águas não tinha como se esconder do calor que era posto em sua pele.

Todas as pequenas coisas que ele reclamou ao longo da vida foram transformadas em pura saudade. Desde sua grande mudança queria, rever sua terra, ver as grandes montanhas e escutar o pingar da chuva em suas plantas, mas agora sentia falta até do que o irritava. Odiava as cigarras que interrompiam o seu sono com o seu barulho ensurdecedor, agora queria recordar o som que tanto assombrou suas noites; o rancor de seu pai o obrigando a socializar com na'vis da sua idade se transformou em nostalgia.

Neteyam não era exatamente aquele adolescente que gosta de sair de casa, não costumava a ir às pequenas festas que os jovens de sua idade programavam, socializou um pouco em Awa'atlu por não ter outra opção a não ser conversar com quem deveria. Em partes agradeceu por isso, fez suas amizades e aproveitou o pouco que pode com elas.

Tsireya acabou por virar sua melhor amiga, afinal, a garota sempre estava com o seu irmão mais novo, o que acabava os fazendo aproximar. Conversavam sobre tudo que é coisa, coisas que ambos sabiam que se saísse da boca deles em público ninguém acreditaria, gostavam dessa relação que mantinham, tudo que falavam juntos automaticamente virava um segredo.

Enquanto pensava na doce menina que seu irmão estava encantado, a mesma acabou por entrar em seu marui para vê-lo. Essas coincidências tinham virado parte de sua rotina, se é que ficar deitado esperando algo acontecer fosse alguma coisa.

"Tsireya! Finalmente, cara. Eu já estava entediado!"

Neteyam usou o que pode para se manter sentado, demorou alguns segundos, o garoto se recusava a receber ajuda, queria fazer o que conseguisse sozinho.

"Pode ter certeza que eu também. Tive que fugir do Ao'nung e do seu irmão para conseguir o visitar. Eles não me deixam respirar."

"Ao'nung? Ele tem feito algo?"

"Ao'nung tem feito o que pode para ser um irmão superprotetor e tentar colocar medo em Lo'ak, já Lo'ak tem tentado a todo custo ficar todo o tempo comigo para irritar Ao'nung."

"Se eu não tivesse nesse estado dava um 'sacode no idiota do Lo'ak, e talvez até no seu irmão, sabemos que não seria a primeira vez." Ambos riram do comentário, talvez se Neteyam gritasse pela terceira vez com Ao'nung ele o obedecesse.

"Falando nisso, você tinha que ver como aquele garoto estava preocupado com você, julgo que ele desmaiou duas vezes quando viu seu corpo sendo levado para tratamento."

"Creio que eu também desmaiaria vendo o dele, mas como ele está? Kiri e Lo'ak ainda tem suas desavenças e não comentam sobre."

"Insano. Definitivamente insano. Nunca vi o garoto tão avoado na minha vida! Você machucado fritou os miolos dele." Tsireya revirou os olhos como se estivesse revendo a imagem em sua cabeça.

Viver; Neteyam e Ao'nungOnde histórias criam vida. Descubra agora