4: A Teimosia de Neteyam Sully;

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Em nenhum universo seria capaz de desrespeitar sua mãe e suas ordens, sempre a viu como uma guerreira excepcional e uma mulher doce, mas nos últimos dias detestou cada ordem que recebeu.

Estava totalmente curado, ou quase. A dor era suportável e seu emocional estava em paz desde sua conversa com os irmãos, sua ferida não ardia, no máximo fisgava e causava um desconforto passageiro, nada com o que não pudesse lidar. Claro que sua mãe discordava disso e o impedia de sair.

Fazia em torno de dois meses que toda guerra havia acabado, dois meses que é privado de sua liberdade tão aclamada. Se a poucas semanas atrás, torcia pela volta de Tsireya e algumas conversas com seus irmãos, agora ele estava dependente disso.

Estava a dias analisando a rotina de todos, planejando uma fuga, sua única visão era da maldita janela que ocupava quase toda parede de seu quarto. Ele não aguentava cada segundo preso naquele lugar, as nuvens nunca pareceram tão iguais como agora.

Já tinha pintado joias, redecorado sua lança, brincado com pedras e até mesmo as tingindo. Aperfeiçoou sua culinária, descobrindo cortes de legumes, métodos mais rápidos de desidratação, formas de melhorar temperos e combinações de bebidas com carnes.

Hoje tinha planejado de fugir, seria a noite, depois de duas horas que seus pais tivessem dormido. Notou como o sono de ambos se tornava mais pesado, Kiri o acobertaria caso algo saísse do controle.

Agora falando em um geral, a calma em sua casa estava tão aconchegante. Kiri e Lo'ak continuavam com suas brigas constantes e sem razão; Tuk lhe mostrava o que tinha aprendido, viu como a garota estava excelente em aprender os caminhos Metkayinas, às vezes ela mesmo o ensinava o que conseguia; seus pais eram cuidadosos demais, um pouco irritante, nada que ele não pudesse lidar; sua mãe era atenta em cada coisa que fazia, tinha recordado muitas memorias enquanto trançava seus cabelos aos domingos, suas conversas eram pacíficas e sempre emocionais; por fim seu pai, que demonstrava do jeito que podia, desejando um bom dia antes de sair de casa, sempre trazendo algum presente no final de sua tarde, e por fim procurava fazer seus pratos favoritos duas vezes na semana(com ajuda).

Sentia falta de sua avó, Mo'at e Neteyam sempre tiveram uma relação amorosa, na floresta costumavam falar que ele era o neto favorito, mas ela sempre falava que favoritismo não existia. Amava como ela ensinava o uso das ervas medicinais, já tinha pensado em pedir ajuda a Tsahìk Ronal, porém, nunca aconteceu.

Em seus dias repetitivos e cansativos aprendeu muito sobre a cultura do povo da água, muito mais a fundo que o prático. Viu o motivo de suas celebrações, algumas dedicadas a fertilidade, outras ao início de uma nova estação climática, se surpreendeu ao ver como eram meticulosos com suas festas.

Falando com Rotxo descobriu como era o ritual de maior idade, não diria que entendeu completamente como ocorria, mas sorria como bobo a cada detalhe que era concebido.

Ao'nung estava proximo de se tornar de maior, era curioso como nunca tinha pensado em quantos anos seu amigo tinha e de como suas idades eram próximas. Queria perguntar ao mesmo tudo que fosse capaz sobre os rituais.

O Metkayina ainda era tímido ao conversar, o que o surpreendeu. A prosa que tinham costumava ser curta, não-aprofundada e reclusa. Ainda sim tentavam manter o diálogo.

Examinou o dia acabar, sempre adorava ver o refletir alaranjado da luz do céu sobre a água. Viu alguns guerreiros e pescadores voltando de suas funções, felizmente todos já estavam bons o suficiente para voltarem ao seu comum.

Sua mãe tomava frente da cozinha, já que por mais que seu pai tentasse sua comida não era das melhores, sempre tinha alguém o acompanhando.

"Ei, mano, como você 'tá?" Disse Lo'ak averiguando seu estado.

Viver; Neteyam e Ao'nungOnde histórias criam vida. Descubra agora