Seven

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A manhã seguinte foi uma difícil para Enid. Assim que ela abriu os olhos, lágrimas rolaram por vários minutos, e às vezes o choro se transformava em risada, apenas para beirar o desespero alguns segundos depois. Ela teve que ficar em posição fetal e abraçar o próprio corpo para se acalmar e recuperar o fôlego, mas quando acabou, foi como se um mamute tivesse saído das suas costas. Wednesday havia admitido que a amou um dia, e aquele soco atingiu seu estômago com força.

Durante todo aquele tempo, Wednesday a odiou porque se sentiu sozinha em seu amor. Abandonada. Ela não entendeu o que aconteceu, e Enid nunca forneceu qualquer explicação. Acontece que o começo daquela tragédia foi a quadrilha do segundo ano do ensino médio.

Todos precisavam de um par, e naturalmente elas resolveram ir juntas, como uma piada. Aquela altura não era novidade que vez ou outra elas ficavam em festas, e ninguém parecia ligar pro contato físico exacerbado entre as duas. Melhores amigas deveriam ter mesmo esse nível de conforto e intimidade, não é? Era só uma festa.

As coisas começaram a afundar quando uma funcionária quase flagrou as duas fazendo coisas inapropriadas no estacionamento da escola, e Enid correndo pro banheiro pra limpar as coxas só elevou as suspeitas. Uma semana depois, ela foi chamada na coordenação, sozinha.

- Enid, você é e sempre foi uma das nossas melhores alunas e atletas. A gente só te chamou aqui porque nos importamos com o seu futuro. Seu comportamento tem sido preocupante. - A voz do coordenador a fazia diminuir com cada palavra, e até o final do discurso Enid já sentia que precisava se segurar nos braços da cadeira para não afundar nela e sumir.

- O que eu fiz?

O estacionamento da escola, querida... Não é o local apropriado pra... - A gestora a encarava com um sorriso sonso. Enid nunca gostou dela. - Nós achamos que talvez você esteja andando com más influências.

- Ah, é? - Ela não conteve uma risadinha de escárnio enquanto cruzava os braços. Enid sabia que estavam falando de Wednesday em especial.

-Eu vou pra igreja com a sua mãe. Ela é uma mulher tão boa. Ela te acolheu quando - A mulher quase continuou falando, com aquele olhar insuportável de piedade na direção de Enid - Eu só acho que você deveria pensar um pouco nela. Como ela reagiria?

- Ao quê, exatamente? - Enid se inclinou pra frente em tom de desafio. Eles não teriam coragem de dizer a verdade. Iriam disfarçar dizendo que era sobre o desempenho acadêmico dela, porque assim ninguém poderia chamar aquilo do que realmente era Homofobia.

- Você tem relaxado. - A gestora insistiu, embora eles só tivessem evidências bem superficiais daquilo. - E a gente quer tentar te alcançar primeiro, ao invés de falar diretamente com seus pais, te dar a chance de mudar por conta própria.

"Uma ameaça muito sagaz", pensou Enid com rancor. Ela não respondeu.

-Também vamos falar com alguns amigos seus. E outros alunos relapsos. Não é nada pessoal. O coordenador estava visivelmente desconfortável com a situação, e um pouco intimidado pela presença da chefe. - Aquele comentário despertou um alerta dentro de Enid.

-Não falem com a Wednesday. - ela pediu quase implorando

Oi? - O homem ficou confuso.

-Eu vou fingir por um instante que essa reunião aqui é mesmo sobre o que vocês tão tentando fazer parecer ser, então me escutem, por favor. Ela é uma aluna tão valiosa quanto eu, certo? Ela é co-capitã do time de vôlei e tira notas boas.

A gestora fez um gesto de que ia falar, mas Enid a segurou.

-Se vocês falarem com ela da maneira que tão falando comigo, ela não vai suportar, eu conheço a Wednesday. Essa conversa vai prejudicar o desempenho dela, e eu sei que é o que realmente importa aqui. Os jogos começam em uns dois meses. Eu estou implorando que não falem com ela.

O amor nunca vai embora. (Wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora