Seventeen

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Nada aconteceu entre elas naquela noite, mas ainda assim tudo mudou. Wednesday sabia que elas estavam flertando mais abertamente do que nunca, e que isso deveria assustá-la. Apesar disso, ela sorria todos os dias.

O resto de janeiro passou voando e, quando as aulas voltaram, Wednesday sentiu o vazio de não ter mais Enid como sua colega. Elas combinavam de almoçar juntas no restaurante universitário às vezes, mas era um período de tempo muito curto para aproveitarem a companhia como gostariam.

Outra coisa que havia mudado era o relacionamento de Wednesday com seus pais. Sua mãe não protestou tanto quanto ela esperava, quando sua saída de casa foi anunciada. A postura da mulher, contudo, transparecia que ela pensava ser apenas mais uma fase de rebeldia da filha, Wednesday realmente não planejava morar com o pai a longo prazo, mas era a melhor alternativa no momento, agora que estava solteira de novo.

Luana não mentiu sobre o unfollow, porém Wednesday não estava bloqueada, e ocasionalmente esbarrava em postagens da ex. Ela ficava tentada a curtir ou comentar, mas queria respeitar o espaço que Luana pediu. Se pudessem ser amigas de novo, seria mais do que Wednesday merecia.

Algo que ainda rondava a mente dela em todos os momentos ociosos era a conversa com Yoko sobre a formatura. Desde aquela noite, Wednesday passou a ter pesadelos onde revivia a situação e acordava chorando desesperada. Todas as vezes, ela abria sua conversa com Enid pra se certificar de que ainda estavam em bons termos e que ela não havia imaginado toda a reconciliação.

Ela havia acordado de mais um desses pesadelos quando percebeu seu celular tocando com uma ligação. Era a mãe dela.

-Alô? - Wednesday enxugou o suor da testa e pressionou os olhos enquanto a cabeça latejava.

- Não vai voltar pra casa mesmo, não? - A mãe foi direto ao assunto. - Sabe que tem muito material teu aqui que você vai precisar pra faculdade, não sabe?

-Eu vou aí buscar.- Ela respondeu e segurou a garganta quando a percebeu ressecada. - Hoje.

Morticia suspirou fundo e sua filha sabia que ela estava zangada.

- Para de teimosia. Eu sou uma mãe tão ruim assim?

- Não é sobre você. - Wednesday se levantou da cama procurando por um copo d'água ou chiclete de menta.

- Por que você prefere morar com seu pai?

-Eu não prefiro. - Ela mentiu, para encurtar a conversa e amenizar a situação. - Ele precisa mais de mim.

- Ele nunca cuidou de você. - A mãe rebateu e começando a se exaltar.- Eu entendo que você não vai abandonar seu pai, mas por que tá abandonando sua mãe?

-Eu não tô te abandonando.- Wednesday encheu um copo e deu um longo gole. - A gente conversa sobre isso mais tarde, quando eu estiver aí.

- Wednesday...

- Até mais tarde, mãe. Também te amo, xau. - Ela manteve a firmeza.

Após desligar antes de ouvir algum grito, Wednesday arremessou o celular numa superfície macia e resmungou revirando os olhos. Uma enxaqueca ia se formando. Ela preparou o almoço do pai antes que ele acordasse, tomou banho e se arrumou pra sair. Se ela demorasse demais, perderia a coragem de ir, e era melhor acabar logo com aquilo.

Andar novamente pela rua da casa da mãe era esquisito. O coração acelerava de novo e ela tremia de nervosismo. Wednesday sabia que não era a reação normal e saudável de se ter à própria mãe. Ela inspirou fundo quando passou em frente à antiga casa dos pais de Enid e parou de andar.

O muro já não era mais tão baixo, e os donos da casa colocaram espinhos para desencorajar bandidos. Ela ainda conseguia espiar a casa, que em suas melhores memórias havia sido rosa, mas agora estava pintada de azul. O portão também era novo, diferente do enferrujado por onde Wednesday havia atravessado incontáveis vezes. Ela sorriu quando se imaginou ouvindo a voz da mãe de Enid lá de dentro, chamando as duas para um lanche. Com relutância, voltou a se mover para o fim da rua.

O amor nunca vai embora. (Wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora