Ten

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Enid não entendia direito os eventos recentes em sua vida, mas sabia no que tinha que se concentrar naquele momento -ficar atraente o bastante para encontrar com Sayuri.- O semestre estava na reta final com prazos assustadores, só que ela foi convencida a arranjar um espaço livre em sua agenda para uma noitada com a mulher que mal conhecia. Sayu argumentou que a garota precisava de distração no meio de tanto estresse, e não estava errada nessa parte.

Após se olhar no espelho pela milésima vez, inspecionando seu macacão de alça preto, cabelo solto com as mechas coloridas mais fortes do que o normal e sua maquiagem, Enid deu um suspiro. Mesmo depois de passar pelos horrores da puberdade, ela ainda não se sentia totalmente confortável na própria pele. Sayuri parecia o oposto. Enid baixou a cabeça por alguns segundos antes de erguê-la e colocar seus brincos com um falso ar de confiança. Se Wednesday a encontrasse daquele jeito, a chamaria de convencida para perturbá-la, mas enxergaria através da fachada de menina de ouro.

Vinte minutos depois, ela chegou ao lugar marcado. Encontrar Sayuri não foi tão difícil quanto Enid imaginou que seria. Seus olhos foram atraídos até ela como sob efeito de um ímã. Sayuri também a notou de imediato e abriu um sorriso.

-Finalmente! - Ela ergueu o copo em direção Enid.

- Desculpa. Te fiz esperar muito? - Enid se sentou no banco vizinho.

-Não, mas no primeiro minuto que cheguei eu já estava ansiosa. Quer uma bebida?

Sayu não havia dito oficialmente que aquilo era um encontro, embora definitivamente fosse, e também não tentava bancar indiferença nem fazer joguinhos com Enid. Ela sempre parecia falar e fazer o que desse vontade.

- Claro. Quanto falta pra eu te alcançar? - Enid perguntou, com os cotovelos apoiados no balcão do bar.

- Tô no meu primeiro drink, não se preocupa.

Enid não saía muito com garotas. Ela achava que as crises de ansiedade não valiam a pena, então sua vida amorosa quase sempre se resumia a ficar com alguém em uma festa ou show. Às vezes era solitário, mas romance costumava ser a última coisa em sua mente com tantos problemas para resolver no dia-a-dia.

- Quando se trata do amor... Eu também não sou sortuda. - Comentou Sayuri enquanto chupava uma fatia de limão.

- Sério? Eu não imaginaria.

Era difícil de acreditar que aquela pessoa na frente de Enid tivesse problemas amorosos. Sayuri deu uma risada ao ouvir aquilo, jogando a cabeça para trás. Suas unhas curtas batucavam no balcão. Enid segurou a respiração, com medo de tê-la ofendido ou magoado.

- O amor não é só sobre conseguir pessoas que queiram transar com você, sabia?

Ao ouvir essas palavras, Enid ficou sem graça, mas balançou a cabeça afirmativamente. Era realmente mais complexo do que atração física, do contrário ela também não teria azar no amor, e estava ciente disso.

-Pra algumas pessoas, amar vem fácil. Elas se contentam com qualquer coisa, com qualquer um. Eu não sou assim. Tenho um pouco de inveja.- Sayu sorriu e deu um gole em sua bebida. - Você já sentiu uma paixão de dar nó na barriga, coração acelerado e garganta seca?

Enid suspirou e virou o que restava em seu copo.

Wednesday. Wednesday, Wednesday, Wednesday. O nome tatuado em seus pensamentos. As pequenas ondas de cabelo moreno que invadiam seu peito e se espalhavam por dentro dela como raízes. Às vezes amá-la se parecia com a descrição que Sayuri ofereceu. Às vezes era diferente. Mas era sempre Wednesday.

- Já. Foi horrível. - Ela respondeu à pergunta.

Sayuri se aproximou dela com delicadeza e calma, colocando uma mão em sua coxa e abaixando o tom da própria voz.

O amor nunca vai embora. (Wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora