Twelve

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Wednesday acordou cedo no seu primeiro dia de férias. Escovou os dentes, prendeu o cabelo num coque e preparou seu café. A mãe já havia saído para trabalhar. Enquanto comia uma panqueca, checou suas mensagens. Nenhuma de Luana, ou de Enid. Ela suspirou e matou o tempo nas redes sociais. Após terminar de comer e lavar a louça, Wednesday foi para o quarto e trocou de roupa. Seria um longo dia na casa de seu pai.

Como se o universo quisesse lhe dar uma folga, o ônibus de Wednesday estava relativamente vazio. Ela escutou música e pensou em montar planos para as férias. Talvez ela finalmente fosse checar a nova livraria no centro da cidade com a namorada. Era espaçosa, cheia de plantas, com uma decoração aconchegante. Luana certamente devoraria os livros cultos que Wednesday nem conhecia por nome, pois ela e Enid sempre foram adeptas de ler Percy Jackson ou Querido Diário Otário. Ela pensou se a ex-melhor amiga já tinha visitado o local.

Antes que o ócio levasse os pensamentos de Wednesday em uma direção perigosa, ela chegou no ponto e caminhou até a casa do pai. Ele jogou a chave pra que ela abrisse o portão. O cachorro latiu. Demorou para reconhecê-la.

O pai de Wednesday morava num prédio com dois andares e dois blocos de apartamento. Ele ficava no andar de cima enquanto a irmã morava no andar de baixo e o auxiliava quando podia. Wednesday não conhecia os outros vizinhos. Seu pai havia se mudado para lá depois da separação, e ela só ficava com ele por alguns dias ao mês.

-Odeio ter que subir e descer essas escadas todo dia. A sua tia não tem dó de mim, senão deixava eu ficar lá embaixo. - Ele reclamou enquanto ela entrava. - Teu cabelo tá lindo que só, mas acho mais bonito que aquele corte que você fez ano passado que eu te falei.

Wednesday suspirou fundo e abriu um sorriso.

-O senhor quer que eu ajude no que hoje?

-Minha irmã fez umas compras pra mim ontem, então não precisa passar no mercado, mas eu agradeceria se tu lavasse o banheiro e ligasse pra farmácia porque um dos meus remédios tá acabando. - Ele se sentou com dificuldade. — Mas não se apresse, fale um pouco com seu velho. Parece que não lembra que eu existo quando não tá aqui.

-Eu soube que o senhor andou aprontando. - Ela respondeu enquanto se sentava ao lado dele. - 0 médico falou pra não beber. - O pai grunhiu.

- A gente vai tudo morrer, mas médico quer que a gente morra infeliz.

-E o senhor não quer viver pra ver minha formatura, não?

Ela o amoleceu, ao menos um pouquinho, e o pai abriu um sorrisinho.

- Por você eu tento, mas nada de me dedurar pra tua mãe.

Wednesday abraçou o pai. Ele era uns dez anos mais velho que a mãe dela e há uns bons anos sofria com vários problemas de saúde. Ela sempre amou o pai, que costumava ser menos ranzinza que a mãe, porém a bebida só... piorava a vida de todos eles. Após o divórcio e agora que o pai não podia mais andar tanto pra beber, a convivência ficou melhor.

-E como vai aquela tua namorada Joana?

Ela abaixou a cabeça.

- Luana, pai.

- Isso que eu falei.

- Não 'tamo' muito bem, mas 'tamo' juntas. É só que... É complicado. Por causa de mainha.

- Ué, e o que tu fez? E quem tá namorando a menina é tu ou tua mãe?

Wednesday riu balançando a cabeça.

-Pai, não é isso. É que mainha dificulta da gente se ver e eu não posso levar ela em casa. Ninguém gosta de ser escondido, sabe? Desgasta muito. Eu sei que Luana gosta de mim, mas às vezes gostar não é o suficiente.

O amor nunca vai embora. (Wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora