O Inferno de um Anjo × Nahyuck

A Falta de Jaemin

Donghyuck estava há três meses morando com Mark.

Não foi a única mudança que aconteceu. Sua vida não era mais a mesma e provou que conseguia ficar pior do que quando estava com seus pais. Agora que todos sabiam de sua atração por homens, eram poucos seus momentos de paz: os olhares na rua duplicaram, acompanhados de comentários não agradáveis; alguns funcionários de lojas e mercados se recusavam a atende-lo, recebia mensagens de ódio em suas redes sociais e era obrigado a bloquear muita gente e perdeu alguns amigos.

Era pior dentro da faculdade. Os professores não mudaram seu comportamento já que se tratava do melhor aluno de todos os anos, mas os estudantes não hesitaram. Alguns o evitavam ainda mais, enquanto outros o provocavam a todo instantes com ofensas, boatos falsos e, às vezes, violência física. As respostas de Donghyuck ou era o silêncio ou diversos socos bastante fortes. Por conta das brigas e dos insultos, ele estava sempre machucado, por dentro e por fora, e também cansado. O desgaste de ter que se defender o tempo inteiro e de ser rejeitado por quase todos da cidade era imenso e se não fosse por Mark, seus dois novos amigos Lee Jeno e Kang Mina e pelos idosos do asilo, Donghyuck estaria sem forças.

Chorou todos os dias por estar vivendo tudo aquilo. Se esforçava mais ainda em seus estudos para se distrair. Desabafou sobre sua vida toda para a maioria dos avós que ele cuidava, que o aceitaram com muito prazer, já que tinham o garoto como um neto. Não sentia mais vontade de ir às festas. Não saia de perto de Mark a não ser que fosse necessário, pois seu carinho era um dos melhores suportes. No fim do terceiro mês, ele estava mais acostumado com tudo e conseguia lidar sem ser muito prejudicado.

Talvez isso nem fosse a pior coisa. Havia algo que conseguia doer mais do que as situações citadas.

Eram três meses sem falar com Jaemin.

Mal o via na faculdade ou na rua. Quando se encontravam, o Na tomava outro caminho rapidamente ou era Donghyuck que fazia isso. Nenhuma mensagem foi lida. Nenhuma ligação foi atendida. Toda a história de onze anos que estava viva até pouco tempo atrás fora apagada completamente.

Donghyuck sentia a saudade esfaquear seu coração diversas vezes ao dia. Ele sentia-se vazio sem Jaemin, infeliz, doente. Porém, ele cultivava mais um sentimento pelo antigo amigo: ódio. Não conseguia evitar, apesar de se sentir pior com isso, pois após tantas promessas de que ficaria ao seu lado, ele a quebrou de uma forma horrível. Não queria vê-lo na sua frente ao mesmo tempo que estava decidido a conversar e tentar esclarecer algumas coisas.

E assim foi feito. Um fim de tarde, Jaemin era a única pessoa dentro da sala da universidade, arrumando seus materiais de um trabalho de letras enquanto se distraia com a visão do céu que as grandes janelas de vidro proporcionavam. Organizava tranquilamente até se assustar com o barulho de uma cadeira sendo arrastada perto de si. Olhou para o lado e sentiu uma pontada no coração ao ver Donghyuck sentado à dois metros de distância, com o mesmo cabelo tingido de roxo e com suas roupas pretas e camiseta de banda que desconhecia. Ficou sem reação vendo os cortes em seu rosto, as olheiras debaixo de seus olhos e alguns roxos no braço em que a manga estava arregaçada.

— Pensei que a Bíblia condenasse a traição — Donghyuck quebrou o silêncio entre eles, depois de três meses — Do jeito que odeiam tanto aquele Judas lá, pensei mesmo que condenassem a traição, mas acho que estava errado.

— É? — Jaemin voltou a guardar os materiais. Não conseguia encará-lo por muito tempo sem a culpa pesar mais ainda em suas costas.

— É. E sabe como eu descobri isso? — Mais silêncio — Com você. Eu não acredito nisso até hoje. Depois de tudo que você me falou, me fez acreditar que eu podia confiar em você, que eu tinha um amigo de verdade, me deixou seguro e despreparado para acabar com tudo em seguida. Por que você não se afastou logo naquela hora? Por que não falou que eu era um idiota ali mesmo e saiu correndo? Precisava brincar comigo daquele jeito?