A Tarefa

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O Céu era melhor do que Jaemin imaginava.

Ele imaginou que seria apenas um branco ou um azul infinito — já que estavam acima das nuvens, parecia algo lógico — com outras pessoas descansando e conversando calmamente. Mas não era simples assim. Era uma grande floresta tropical, com grandes árvores, diversas flores, rios sem pressa para correr, vastos campos de grama bem verde. Quase igual à Terra, apenas faltavam os animais, porém, o céu deles era outro.

Os mortos dali sentavam na grama para conversar e contar as histórias de suas graciosas vidas, passeavam pela floresta em grupos, plantavam mais algumas flores e nadavam no rio. Às vezes, Deus e outros anjos de maior cargo os enviavam para realizar missões, mas tinham bastante tempo entre uma missão e outra, o necessário para se recuperar bem. Era o descanso que todos desejavam, que todos acreditavam merecer.

Jaemin, assim como em sua vida, fez bastantes amigos e era querido pelos anjos.

Raramente estava sozinho, gostava das histórias de seus companheiros e de caminhar com eles. Não demorou para ganhar um melhor amigo, Park Jisung, de quem não desgrudava nem por um minuto. Com ele, compartilhava as partes mais íntimas de sua vida, chegando a contar até sobre Donghyuck, assunto que jamais comentou com algum outro anjo, pois sabia que o antigo melhor amigo seria muito julgado.

Apesar de gostar muito do Céu, ainda não se sentia merecedor de estar lá. Não conseguia esquecer de seus últimos momentos, magoando Donghyuck, e nem esquecera do segredo que carregava. Não o confessou para ninguém, talvez as entidades divinas sequer tinham conhecimento dele de tão guardado que tal segredo era. O perseguia todos os dias, mas, a essa altura, ele sabia que não tinha mais o que fazer.

— Jaemin, ouviu sobre a última?

Toda vez que JIsung aparecia com esses dizeres, Jaemin se perguntava como o anjo tinha entrado no Céu, pois ele era o maior fofoqueiro que ele conhecia. Teria ele pedido perdão diversas vezes no confessionário de sua igreja?

— Fofoca de novo, Sungie?

— Não é fofoca, fofoca é com maldade, eu só vim te atualizar das coisas!

— Pois então conte.

Os olhos escuros de Jisung brilharam e ele sorriu deveras animado, se aproximando de Jaemin logo em seguida. O tanto que ele gostava de comentar sobre a vida alheia era inexplicável.

— Sabe a Kimberly que veio da Austrália? Então, ela fez o que todo mundo queria: jogou o tal do médico no rio depois dele brigar mais uma vez com aquele grupinho de freiras.

— Por que ele brigou com elas?

— Elas falaram que usavam chá pra curar as dores e ele queria que elas usassem remédios. Como ele veio parar aqui sendo ruim desse jeito? 

— E como você ficou sabendo disso se você não conversa com ninguém?

— Fico perto de tudo que eu acho que vai me dar informação.

Jaemin revirou os olhos e riu. Não é à toa que Jisung queria trabalhar como detetive enquanto era vivo.

— Inclusive, vi uma movimentação estranha lá em cima — o Céu tinha dois patamares, o de baixo para anjos comuns e o de cima onde Deus e seus anjos mais fortes e experientes se juntava para resolver assuntos mundanos — acho que vão dar uma missão mais complicada para algum de nós.

Os dois se entreolharam e engoliram seco. Era uma honra serem escolhidos para missões, porém, não tinha como negar que elas exigiam muito. Ajudar humanos em superações, amenizar desastres ambientais, proteger animais, viajar pelo mundo celestial, criar artefatos e vigiar locais sugava cada gota de energia que poderia existir em um simples corpo. Vendo a agitação dos superiores, eles supunham que dessa vez seria algo ainda mais difícil.

O Inferno de um Anjo × NahyuckOnde histórias criam vida. Descubra agora