Alucinações

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— Ô Donghyuck.

— Oi.

— Eu to com fome. Morto não sente fome, o que tá acontecendo comigo?

— Eu já falei mais de mil vezes que qualquer sensação estranha que você tem vai ser culpa do limbo, Jaemin, você não presta atenção no que eu falo?

— Mas até fome? A gente come umas frutinhas ali e aqui mas é porque quer, fome eu não sei como é faz uns bons anos.

— Sim, Jaemin, até fome. Para de prestar atenção nisso que você tá fazendo o meu estômago doer com a sua dor.

Jaemin suspirou pesado e chutou um cascalho que estava próximo aos seus pés. Desde que Donghyuck tivera uma mudança de comportamento e beijou seu corpo subitamente, o anjo ficou fora de si. Não sabia como agir, o que sentir e nem o que falar, portanto, entrou em desespero. E o limbo parecia estar se aproveitando muito bem disso, enviando uma alucinação diferente a cada frase que Jaemin soltava. E ele estava soltando muitas frases.

— Donghyuck.

— Oi — Não dava para saber se o demônio estava irritado ou não, ele permanecia sério e, aparentemente, focado.

— Tô vendo 3 de você.

— Tá curtindo a vista? 

— Ah — Jaemin deu uma risada nervosa — É bom te ver.

O anjo queria dizer que depois de todo esse tempo longe de Donghyuck, estava até prazeroso ver 3 dele, mas manteve se calado.

Eles andaram em silêncio por tempo indeterminado. Nem gestos, nem trocas de olhares, nem contato físico, apenas olhavam o rastreador que brilhava cada vez mais forte.

Jaemin não parava de ter alucinações. Além dos 3 Donghyucks, ele já viu milhares de mariposas grandes o rodearem violentamente, o chão se abrir embaixo de si, tudo ficar totalmente escuro e a mais recente fez tudo girar, como se ele estivesse dentro de uma máquina de lavar roupa. Jaemin caiu em seus joelhos e sentiu ânsia novamente, minutos depois vomitou sangue, sentindo todas suas forças ir embora.

— Jaemin? O que foi?

— N-não tá…. tá vendo? Tô …. vomi-mitando.

— Calma, calma, você não tá vomitando. É outra alucinação — Donghyuck se ajoelhou do lado dele, acariciou suas costas e limpou o suor frio da testa de Jaemin, que aos poucos voltou a enxergar a realidade e viu que nada girava e não havia nada de sangue — Vamos descansar um pouco.

Donghyuck sentou-se ali mesmo e ajudou Jaemin a se ajeitar no chão ao seu lado, esperando até sua respiração ofegante voltar ao normal.

— Ei — Jaemin o chamou depois de alguns minutos — Como é o Inferno?

— Não sei explicar. É ruim e ao mesmo tempo não é, pelo menos pra mim. Tem todo o negócio do fogo, do calor, dos gritos agonizantes, de sentir o arrependimento te rasgando, dos outros te fazerem mal. Mas você consegue lidar com isso.

— Como?

Donghyuck soltou uma leve risada ao ver os olhos curiosos de Jaemin brilharem. Ele sentiu saudades, apesar de tudo. Porém, barrou esses pensamentos, achou injusto consigo mesmo.

— A primeira coisa é arranjar amigos. Junto com alguém você se distrai. Segunda coisa é você se tornar alguém que cria o caos ali no meio. A terceira é acreditar que você não tem pecados para pagar. Lá a culpa te corrói e você se entrega para o sofrimento, mas se você não acredita nisso, o impacto é bem menor.

— Ser ateu dentro do próprio Inferno. Isso é muito a sua cara. Inteligente.

— Obrigado. E como você viveu os últimos meses? Que a gente não se falou mais?

O Inferno de um Anjo × NahyuckOnde histórias criam vida. Descubra agora