Ministra de Estado

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Estou olhando para a parede branca do meu banheiro, e penso se não seria uma boa ideia pintá-la com partes de meu cérebro.

Eu acho que não. Devo apenas estar cansada.

A exaustão toma conta do meu corpo, da minha mente. Ser ministra de Estado não é para qualquer um, mas certamente, é para mim. Eu adoro estar exausta.

Meu corpo está envolto por minha toalha favorita de algodão, e meus cabelos estão úmidos. Deve ter cerca de vinte minutos que saí do banho, e estou aqui de pé, em frente a minha pia de mármore.

Eu sinto falta dela.

Soraya.

Desde que me entendo por gente, eu sabia que deixaria um legado nesse mundo. Eu não vim aqui à toa. Eu não sou e nunca serei uma pessoa ordinária. E foi por isso que fiz tudo o que fiz. O meu trabalho como ministra vai me render bons frutos em dois mil e vinte e seis. Eu adoro estar cansada.

Quero tanto falar com ela.

Soraya é a única pessoa capaz de me fazer perder a pose, e estou precisando tanto disso. Quero esquecer, nem que seja por algumas horas, do meu papel perante a sociedade.

Por um breve momento eu apenas quero ser uma mulher comum, que deseja outra mulher comum.

Finalmente movo meu corpo para fora do meu banheiro, que não é tão grande quanto o de meu apartamento em Campo Grande. Me enrolo em meu roupão, que é tão macio quanto a toalha, e seguro meu celular em mãos.

Que horas são? Hum... Ainda é cedo. Oito horas e vinte e seis minutos da noite. Meus dedos correm pela tela do aparelho até encontrar o contato dela.

— Soraya? — Eu chamo.

— Boa noite, Simone Tebet! — Ah, não. Escuto o cumprimento do marido dela. — Aqui é o César. A Soraya acabou de entrar no banho... É urgente? Se quiser eu posso chamá-la já.

Carlos César é tão simpático. Me sinto culpada por passar algumas noites ao lado da esposa dele.

— Boa noite, César. Não é urgente, não se preocupe. Desculpe pelo incômodo.

Posso observar pelo espelho à minha frente, um sorriso triste surgir em meus lábios.

— Eu peço para ela te ligar assim que ela sair do banho, tudo bem?

Eu agradeço e me despeço.

Soraya está sempre junto do marido, e eu diria que eles formam um belíssimo casal, se eu não fosse completamente apaixonada por ela há mais de vinte anos.

Abro uma garrafa de whisky que ganhei de Natal, e despejo um pouco do líquido num copo.

Logo deixo de pensar em Soraya com tanto fervor, porque aproveito para estudar algumas pautas do ministério. Um gole de whisky a cada página que viro. Graças a Deus, virei apenas duas páginas, e então escuto meu celular tocar.

Soraya Thronicke.

— Soraya Thronicke — eu chamo baixinho, e é a respiração dela que eu escuto do outro lado da linha, a respiração que eu reconheceria para sempre —, eu preciso te ver.

— Simone, boa noite. — Ela responde friamente. — Como assim "você precisa me ver"? Achei que havíamos colocado um ponto final nisso.

Na última vez que nos vimos, Soraya me perguntou o que era mais importante para mim: ela ou minha carreira? Eu disse que era a minha família. Às vezes eu minto.

— Soraya — arrasto os dedos por meus cabelos que já estão secos —, eu não consigo parar de pensar em você. Por favor.

— Simone — percebo que ela respira fundo —, você acha que é fácil pra mim?

The Other Woman - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora