Flor de Tangerina

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O balançar tímido e ritmado de seu quadril acompanhava o ressoar pesado de sua respiração irregular. Ofegava, emaranhando-se nos lençóis de linho branco. Se arrepiava com o vento fraco que entrava pela janela meio aberta quando ele batia em sua pele que fervia e suava. O lábio inferior se assemelhava ao tom de cereja doce, consequência do maltratar dos dentes bem alinhados. Os fios negros e recém pintados colavam na testa que franzia a cada investida certeira de seus dedos no pulsar de seu íntimo.

E tudo isso porque sonhava com ela.

— Soraya... — Simone gemia baixinho. Estava meio acordada, e meio submersa no mundo paralelo de seus sonhos.

A ministra se agarrava aos últimos resquícios da imagem embaçada que foi criada em sua mente, provavelmente por meio do auxílio de suas lembranças mais sórdidas: estavam lá, os olhos que por vezes eram mais felinos que humanos. O rosto esguio se enterrava entre suas pernas, os lábios finos se empenhavam em sugar aquele centro discreto de prazer. Sentia que seu corpo seria devorado junto de sua alma.

Não demorou muito mais para que os dígitos da mão canhota estivessem mais lambuzados do que segundos atrás. O corpo se contraiu, relaxou, e por fim, ela gozou. Os lençóis foram liberados de seu aperto destro, e ela se espreguiçou, relutante em abrir os olhos. Ainda tinha esperança de voltar para o seu sonho indecente, mas também quis aproveitar o pós-orgasmo. Gostava de prestar atenção no acalmar da própria respiração, no peito subindo e descendo com leveza. Sorriu fraquinho com a sensação de bem-estar que se alastrava.

— Oi...

Mas foi ao escutar aquela voz rouquinha, não tão longe de si, que todo o breve relaxamento foi para o espaço.

As pálpebras de Simone se descolaram na mesma rapidez que seu dorso bem esculpido se levantou, e seus braços puxaram um de seus tantos travesseiros na tentativa de se cobrir.

— Soraya! — a morena exclamou, exasperada. Sentia suas bochechas mais quentes do que nunca. — Há quanto tempo você está aí? — ela perguntou, incerta. Não sabia se queria mesmo ouvir a resposta.

O quarto estava numa penumbra melancólica de fim de madrugada, e apesar de estar sem seus óculos ou lentes, Simone conseguia enxergar o divertimento no olhar que Soraya carregava. Embaçado, como em seu sonho. O corpo esquentou. Sentiu muita raiva. Quem ela pensava que era para entrar em seu quarto daquela maneira? Em seu apartamento! Mas não demorou para sentir uma imensa vontade de rir quando seu cérebro travou, ao perceber que qualquer resquício de ira se dissipou. Não foi difícil. Bastou a loira passar pela cabeça o top de malha que usava, e mandar para longe de si qualquer outro tecido que antes lhe cobria as curvas desejosas. A ministra não conseguiu nem identificar as cores das peças antes de elas irem de encontro ao chão. Sua atenção foi toda direcionada àquela pele dourada, que mesmo naquela semi-escuridão, reluzia feito ouro escondido numa mina.

— Nós combinamos que eu viria aqui pela manhã pra te ajudar com sua vida fitness, Simone, então nem ouse ficar brava — Soraya a lembrou, firmando a voz e levantando o indicador em riste. Ela apoiou os dois joelhos em cima do colchão, e tentou não deixar sua pose vacilar, o que era muito difícil quando estava perto daquela que já foi sua professora e colega de Senado, e por quem sempre nutriu e nutriria o respeito que se tem por uma ilustre figura de autoridade.

— Não me lembro de ter te dado autorização para invadir meu quarto enquanto eu durmo, Soraya. — Simone tentava fazer uso de todas as técnicas vocais aprendidas ao longo de tantos anos de carreira pública, para se mostrar firme diante do arrastar de joelhos que levava a loira para mais perto de si.

Soraya riu, sem vergonha. Emanou do fundo da garganta, aquele som cheio de malícia que despertava em Simone um sentimento estranho, que a mesma ainda estava aprendendo a conhecer e entender.

The Other Woman - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora