Bem Que Se Quis

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continuação do capítulo anterior

Ao olhar de Soraya Thronicke, Simone Tebet era uma fantasia. O delírio mais bonito que já havia consumido seu pensamento insano. Por esse motivo, cogitou a ideia de ter prudência. Tinha sido a primeira vez, em toda sua atual existência, que ela não sentiu vontade de partir para o outro lado do véu, e isso lhe causou grande estranheza. Por isso, com medo de vencer — tanto no sentido vitorioso, quanto no sentido de se passar —, escolheu de uma vez só, perder.

— Eu não sei se... não sei — a geminiana murmurou para si mesma, encarando seu reflexo em seu espelhinho favorito, que era compacto, e representava uma bolacha com recheio de morango.

— Do que você tá falando? — Rosângela, uma das melhores amigas de Soraya, tentava entendê-la pela milésima vez naquela manhã fria de quinta-feira.

Estavam na varanda do apartamento da barista, fazendo bom proveito do sol que disfarçava o ar gelado. Soraya tentava se concentrar em sua tarefa, que exigia um pouco de habilidade manual, e aproveitava para deixar o mental passear.

— Tá vendo como você não é inútil, Soraya? — Rosângela sorriu com os olhos brilhando quando segurou o cigarro de maconha que a loira havia acabado de bolar. — Sem querer abusar, mas já abusando, tem algum docinho pra depois?

Soraya, que estava sentada no tapete fofinho que ocupava metade da sacada, se levantou para pegar a bebida que tinha esquecido na cozinha, logo em frente.

— Doce doce ou doce doce, Janja? — perguntou, sugestiva, depois de abrir a geladeira pra checar o abastecimento da mesma. Escutou a risada de sua amiga, seguida de uma tosse, e avisou: — Tenho metade de um bolo aqui... mas já te aviso que amanhã ele completa uma semana de existência.

— Ah, foi o bolo que você fez pra Simone, né?

Antes de responder, a mais nova bebeu um gole do seu Bacardi com gelo de suco de manga.

— É. Fiz pra Simone... — Mas, no momento em que tinha terminado de confeitar o bolo, resolveu comer metade dele de uma vez só, e expulsar Simone de sua vida mesquinha. Tentou espantar a memória, e voltou para o seu lugar ao sol, negando o cigarro que Rosângela lhe ofereceu.

Uma fumava, a outra bebia; uma queria rir, a outra queria rir e chorar.

— Não preciso nem dizer que não te entendo. — Na verdade, Rosângela entendia, mas não queria alimentar o lado depressivo da amiga. — A mulher estava apaixonadíssima por você, e obviamente era recíproco, e daí você, do nada, cortou todo o barato...?

— É que era muito bom, e eu acho que gosto de sofrer... — Soraya divagou, olhando para um ponto fixo e embaçado em sua visão.

— E não dá pra você sofrer, sei lá, na cama? Era só pedir pra ela te por de quatro, te dar uns tapas na bunda, e por aí vai...

A geminiana quase se afogou com o que se passou em sua mente fértil, e ela bebeu mais um gole para se acalmar.

— Meu Deus... — O tom de sua voz revelava sinais de indignação e tesão, e a vontade de chorar foi consumada naquele exato momento.

Rosângela, como boa virginiana que era, se assustou com a reação da amiga, ainda que já estivesse acostumada.

— Ei! Amiga, eu tô brincando! — Delicadamente, deu um tapinha no ombro da mulher que parecia uma sem eira nem beira, jogada no chão, agarrada ao que acreditava ser sua única esperança.

— Eu quero que ela me coloque de quatro, Janja! — As lágrimas escorriam pelas bochechas coradas, e ela riu ao verbalizar o seu desejo patético.

— Eu ia dizer que era só pedir pra ela, mas você não me explicou direito o que aconteceu entre vocês duas.

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⏰ Última atualização: Aug 30 ⏰

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The Other Woman - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora