The Other Woman

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Ali, no papel meio amassado, arrancado de uma agenda, Soraya leu as palavras que tanto temeu: "Não podemos continuar com isso. Obrigada pelo tempo que compartilhou comigo. Sentirei sua falta. Com carinho, Simone".

— Com carinho? Você é patética, Simone Tebet. — A mulher, com lágrimas nos olhos, falou sozinha, enquanto não conseguia parar de encarar a caligrafia mal feita.

E assim, mais uma vez, Soraya estava lá. Todos os seus fios dourados muito bem alinhados, assim como os lençóis da cama costumavam estar, emolduravam um rosto tão triste quanto bonito.

Ela sabia, sempre soube que o momento em que seria deixada de lado pela mulher que era o seu passatempo favorito, chegaria ao fim.

"Passatempo favorito" era assim que Soraya preferia pensar que enxergava a mulher mais cretina que já conheceu.

A loira já não era mais uma menininha há muito tempo, e no auge de seus quarenta e cinco anos, ela não imaginou que seria deixada levar pelas peças que a paixão prega. Isso nunca havia acontecido com ela, até conhecer a maldita senadora da república, eleita pelo Mato Grosso do Sul.

Soraya sempre teve dinheiro, por conta das terras que herdou de seus pais que faleceram num acidente de avião, quando a mesma ainda estava na casa dos vinte anos. Filha única, ela estava feita na vida, no sentido material, apenas, é lógico. Com a perda das pessoas que mais amava na vida, ela percebeu que não havia mais rumo. Tudo o que fazia de bom, era para agradar a seus pais; depois da morte deles, ela agradaria a quem?

Desde então, para tentar preencher o vazio que sabia que havia nessa sua existência fajuta, ela brincava com as pessoas.

Ela nunca assumiria que era uma acompanhante de luxo, mas era isso que a pobre menina rica era.

Soraya gostava de acompanhar homens ricos aos mais diversos eventos da alta sociedade. Espaços requintados, regados à bebidas, pessoas agradáveis de se olhar, e às vezes, boa música. Drogas ilícitas também faziam parte do pacote, mas de forma não explícita, é claro.

E foi num desses eventos que Soraya conheceu Simone.

A loira nunca havia entendido o porquê de nunca ter conseguido se envolver romanticamente com nenhum dos homens que a contratava. Ela até tentou se interessar mais a fundo por Carlos César, um dos últimos clientes que teve, antes de tudo dar errado. Mas, obviamente, a tentativa foi falha.

E ela entendeu tudo, depois de conhecer a pior mulher que poderia ter conhecido.

Nunca havia pensado na possibilidade de olhar para alguma mulher com olhos de amante, mas olhou assim para ela.

Soraya não queria lembrar, não queria lembrar de absolutamente nada. Queria bater sua própria cabeça contra a parede bem pintada da sala espaçosa de seu apartamento, mas não estava tão fora de si a esse ponto. Por isso, resolveu beber. Como sempre fez.

Ao se sentar no sofá, em frente à uma ampla janela que refletia boa parte dos prédios sem graça de Brasília, Soraya deu o primeiro gole de whisky do dia. Aproveitando para receber o calor dos primeiros raios do sol da manhã em sua pele, que já havia sido mais bronzeada do que agora.

Não é de se espantar que os oito primeiros goles da bebida quente já trairiam sua mente, além de seu estômago.

Flashback

E lá estava Soraya, em seus gloriosos quarenta e dois anos de idade. Havia feito aniversário numa segunda-feira, e no sábado que se seguiu, Carlos César a atormentou para que saíssem juntos para comemorar. Sóbria, a loira jamais teria aceitado o convite, mas como já estava com o tanque abastecido, conseguiu ser convencida por seu cliente mais fiel. Um dos poucos que conseguiu levar Soraya para a cama, e não por ela achá-lo atraente — isso, de fato, ela não achava —, mas por tratá-la com carinho.

The Other Woman - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora