Boyfriend

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— Soraya? — Eu escuto sua voz, aquela voz dissimulada, chamar meu nome. Meus braços estão apoiados na bancada da pia, e eu não deixo meu olhar desviar do ralo. Meus olhos estão fixos naquele buraco brilhante, limpo e reluzente, e eu penso: seriam os canos limpos assim? Se fossem, eu adoraria descer por eles agora mesmo, sem nem pensar duas vezes. — Soraya?

— Pare de me chamar.

É tudo o que consigo responder, apesar de não ser a minha real vontade. Eu quero ouvi-la me chamar, gritar meu nome, quero ouvir essa voz, que eu tanto odeio gostar, me xingar e ao fim de tudo, me fazer sentir amada. Amada. Ao menos por uma noite.

— Por que, Soraya? — Eu finalmente levanto meu rosto. O espelho reflete a imagem dela, fazendo com que meus próprios sentidos me traiam. Ah, Simone Tebet. Você me paga. Eu te odeio. — Seu marido te deixou aqui sozinha de novo?

Sim, será que você pode dar um jeito nisso?

— Não. — Eu tento ajeitar a postura, mas eu não consigo. Minhas pernas falham, e eu duvido que seja apenas por conta das pequenas doses de álcool que eu ingeri. Simone Tebet, eu te odeio. Eu a vejo ficar de costas por cerca de vinte e dois segundos, e entre o segundo treze e quinze, escuto o clique da fechadura cumprindo seu papel. — O que você está fazendo?

— O que você acha que estou fazendo?

Simone Tebet, eu te odeio. Ela se aproxima, meus olhos encaram os dela, e eu amo aquele olhar cínico, da mulher que adora se passar por gentil.

Não é difícil perceber a ordinária que essa mulher é, e talvez seja por isso que eu me renda tão fácil à ela. Todas as vezes.

Suas mãos se apoiam em minha cintura, e eu agradeço por estarem tocando o tecido do meu vestido, e não a minha pele. Eu odeio essa mulher, mas meu corpo sente o oposto. Ela se aproxima, eu sinto seu quadril encostando na minha bunda, e uma de suas mãos subindo por minhas costas. Ah, não. Minhas costas não estão cobertas pelo tecido do vestido, e agora, eu sei que não consigo contrariá-la. Seus dedos sobem, gentilmente trilhando o caminho por minha coluna, fazendo com que toda a minha pele fique arrepiada. O pensamento de seus dedos pálidos, as unhas pintadas de vermelho sangue, subindo por minhas costas bronzeadas me deixam sem chão. O pensamento não dura muito, é claro. Minha mente fica completamente nublada quando ela crava os dedos em meus cabelos, enquanto a mão que descansa em minha cintura aperta o local que antes recebia carinho. Num movimento rápido, ela vira meu corpo, e eu fico de frente para ela.

— Eu prefiro quando você me fode enquanto estou de costas.

— E quem disse que eu vou te foder agora? — A ponta de seu nariz faz cócegas em meu pescoço quando ela se aproxima apenas para exalar o meu perfume. É claro que eu passei o que mais a irritava, porque ela gostava. — Vou te dar um conselho, mesmo sabendo que os meus não sejam seus favoritos. — Seus lábios se aproximam de minha orelha, e o hálito quente faz todo o meu corpo falhar. Fale logo para que eu possa me afastar, desgraçada. — Se eu fosse você, iria embora comigo.

— Eu não vou a lugar algum com você, Simone.

Ela sorri. Aquele sorriso convencido estampado nos lábios pintados de um vermelho quase tão escuro quanto os olhos que me encaram. Arrogante e, eu odeio admitir, tão sedutora.

— Você iria até para o Inferno comigo, Soraya.

Simone encara meu pescoço, sua mão sobe, parando em meu ombro, e seu polegar contorna uma pequena mancha roxa que só era possível ser vista se você jogasse meu cabelo para o lado. Sorte a minha que o meu marido sequer olha para mim. Obrigada, meu Deus, por colocar meu maior pesadelo vivo, em forma de mulher, na minha vida.

The Other Woman - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora