Mas que sorriso é esse que cê tem?

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*São Paulo*
Uma terça-feira qualquer, por volta das 21 horas

- Tô cansado! Puta que pariu! Trabalhei igual um desgraçado! - Soltava o nó da gravata indo em direção ao meu camarim, após encerrar as gravações de mais um dia.

Essas últimas semanas vinham sendo particularmente pesadas. Além de estar envolvido em um projeto importante em parceria com uns amigos, inaugurei meu Comedy Club recentemente. Era a realização de um sonho antigo, mas confesso que não imaginava que seria tão desgastante. Resolvi inovar com o nome do local, essa era uma de minhas marcas, pensar em coisas diferentes do usual...mas, como algo meio previsível, logo no início já comecei a ter problemas. Levando em conta a minha história profissional, não seria a primeira e nem a última situação que me faria ser alvo de polêmicas, na verdade já estava até me acostumando.

Minha história de vida é bastante densa, considerando alguém da minha idade. Duvido muito que a maioria das pessoas com 40 e poucos anos tenha passado por metade das vivências que faziam parte da minha jornada. Talvez seja por isso que, ultimamente, tenho refletido acerca do futuro. Tinha a sensação de que mesmo sabendo muito bem de onde eu vim, alguma coisa aconteceu no meio do caminho que estava me confundindo, como se estivesse perdido com relação ao que fazer da minha vida...às vezes eu simplesmente não me reconhecia mais, não conseguia achar em mim o cara de anos atrás: alguém seguro e que sabia muito bem o que queria.

Quando eu era mais novo, após perder duas das três pessoas mais importantes da minha vida, num intervalo de poucos meses, eu me vi responsável pela minha casa, assumindo o dever de cuidar de minha mãe. Tinha muitos projetos, precisei abrir mão de algumas coisas e fazer escolhas sem o tempo necessário para refletir. Trabalhei excessivamente, me dediquei arduamente e a recompensa veio com o tempo. Hoje colho os frutos desse esforço, considero essa a fase mais estável da minha vida, pelo menos financeiramente falando. Ainda por cima havia me tornado alguém conhecido nacionalmente, agora fazia parte do hall dos "artistas".

Pensando pela ótica da minha vida pessoal, tenho uma boa relação com a minha mãe, embora ultimamente nossa convivência tenha sido cada vez mais escassa, ocasionada pela minha rotina atribulada e, em parte, por ela não concordar com algumas posturas que eu estava apresentando nos últimos anos.

Do ponto de vista de relacionamento afetivo, acho que um cego no meio de um labirinto saberia descrever melhor a sua situação!

Na verdade não posso ser de todo injusto; eu tenho alguém.

Se bem que "ter" passa uma sensação de posse e, definitivamente, não é o nosso caso.

Camila é alguém que acolhe minhas angústias, me acompanha em alguns eventos mais reservados, divide parte de seu tempo e, esporadicamente, o espaço de sua cama comigo. Se existe uma definição para o que temos eu não sei, nós nunca falamos sobre isso. Assim como não há uma exclusividade, pelo menos não da minha parte. Não que tenha outra pessoa que exerça o mesmo papel que ela na minha vida, mas digamos que quando preciso de algo mais ousado, eu sei onde buscar.

Geralmente isso acontece em dias muito atribulados, quando o estresse me domina de uma certa maneira que apenas uma relação convencional não é o suficiente.

E estava começando a considerar que hoje era um dia como esse.

Diguinho e Melissa conversavam um assunto qualquer no corredor que ligava o estúdio à algumas salas, entre elas estava o meu camarim. Passei por eles sem muito alarde, queria sair logo dali, precisava de algo para aliviar meu cansaço senão estava na iminência de vivenciar algo parecido com um dia de fúria, como no filme. Estava prestes a passar pela porta do camarim...por que aquele maldito corredor tinha que ser tão comprido? Quando ouvi a voz daquele gordo miserável!

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