Prólogo

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2003

O dia tão esperado havia chegado, era começo de janeiro, o calor absurdo se fazia presente e a turma 72 de direito da universidade federal do Rio de Janeiro tinha acabado de se formar. Discursos já haviam sido feitos, becas tinham sido tiradas, chapéus tinham sido jogados, todos já tinham se direcionado ao salão e agora a festa rolava solta, regada de música alta e muito álcool.

Giovanna se encontrava encostada no balcão do bar improvisado enquanto segurava um copo de cerveja que já esquentava e observava a decoração do salão e as pessoas dançando. Ela tinha se formado com êxito, sido aprovada no exame da ordem e seria uma grande advogada, ela sabia disso, mesmo que advocacia não fosse o seu maior sonho ela ainda esperava que tudo desse certo, mas ela não iria pensar nisso, ela prometeu a si mesma esquecer o que quer que seu sonho fosse, por um bem maior, para se proteger, para agradar outras pessoas, seria mais fácil desse jeito, não seria? Ela foi tirada da sua divagação quando a voz do melhor amigo (amado em segredo) se fez presente.

"Tá tudo bem, Gica?" Ele perguntou preocupado, também segurava um copo de cerveja que já se encontrava pela metade.

Ela levantou a cabeça para olha-lo, Alexandre era alto, mesmo ela usando saltos, ele continuava maior que ela.

"Tudo ótimo e você, Nerito?" Ela acenou com a cabeça e respondeu suspirando.

Ele franziu as sobrancelhas, tinha algo diferente no olhar dela, ela parecia chateada com algo, talvez incomodada.

"Tem certeza, meu bem?" Essa era a forma carinhosa que eles se referiam ao outro, as borboletas no estômago de ambos ganhavam vida toda vez que o apelido saia da boca do outro, mas é claro, isso nunca foi comunicado, nunca foi exposto.

"Absoluta, meu bem." Ela forçou o sorriso, sabia que não estava conseguindo enganar ninguém, muito menos o melhor amigo que a conhecia como a palma da mão, mas também sabia que ele não iria insistir se ela não quisesse. Por isso viu ele abrir um sorriso e a puxar para um abraço, o qual ela foi de bom grado, se sentia em casa nos braços dele, ela inspirou o perfume gostoso e amadeirado dele e ele deixou um beijo no topo da cabeça dela, cheirando o shampoo de lavanda que tanto amava.

"Vem, chega de divagação sobre vidas passadas ou futuras, vamos beber e nos divertir como a gente merece." Ele disse a soltando do abraço e puxando para o centro da pista.

O restante da noite foi marcado por muita bebedeira e danças desengonçadas. Alexandre permanecia grudado em Giovanna, não dando chance a nenhuma garota que se aproximava dele, que fique claro: não eram poucas. Ela estranhou a atitude do amigo mulherengo, mas resolveu não falar nada e aproveitar, a verdade era que ela estava adorando ter toda a sua atenção voltada para ela.

Eles dançavam agarrados, as mãos dele na cintura dela, os braços dela enrolados no pescoço dele. A atmosfera do salão tinha mudado drasticamente e agora era uma música lenta que tocava, o rosto de Alexandre se encaixou perfeitamente na curva do pescoço de Antonelli e ali ele cheirou e depositou um beijo, deixando-a arrepiada.

"O que você está fazendo?" Ela indagou, meio embriagada, mas tentando raciocinar o que de fato estava acontecendo, eles eram íntimos e a tensão sexual já havia pairado no ar algumas vezes, mas eles jamais tinham se permitido tanto, não como naquela noite.

"Eu acho que estou dançando." Ele retrucou sem tirar o rosto do pescoço dela, deixando outro beijo ali, ainda inspirando o seu perfume. Se fosse para escolher uma obsessão, ele com certeza escolheria o cheiro dela. 

"Tô falando sério, Alexandre." Ela apertou os bíceps dele com as mãos e fez ele se afastar a olhando nos olhos. O olhar dele era sempre carregado de muitos sentimentos, ela sempre achava que conseguia o decifrar como ninguém, mas naquela noite tinha algo a mais ali, algo que ela ainda não entendia ou que fingia não entender, porque provavelmente era o que também estava escancarado nos próprios olhos e ela corria desse sentimento como o diabo foge da cruz.

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