– Tomei uma decisão sobre o futuro de Jimin – anunciou Park Dak-Ho para a esposa e a filha. – Embora nós, Park, não gostemos de admitir uma derrota, não podemos ignorar a realidade.
– Que realidade, pai? – perguntou Jimin.
– De que você não foi feita para a aristocracia britânica. Obtive baixa taxa de retorno em meu investimento na sua busca por um marido. Sabe o que isso significa, Jimin?
– Que sou um mau investimento? – Jimin tentou adivinhar.
Ninguém diria que Jimin era uma moça de 22 anos. Pequena, esguia e com cabelos escuros, ainda tinha a agilidade e a exuberância de uma criança, enquanto outras mulheres já se tornavam ajuizadas matronas. Sentada com as pernas sobre o assento, ela parecia uma boneca de porcelana abandonada no canto do sofá. Irritava Bowman ver a filha segurando um livro no colo com um dedo marcando a página. Obviamente ela mal podia esperar que ele terminasse de falar para que pudesse retomar a leitura.
– Largue isso – ordenou ele.
– Sim, meu pai.
Disfarçadamente, Jimin abriu o livro para ver o número da página e o pôs de lado. O pequeno gesto irritou Park. Livros… A mera visão de um livro passara a representar o vergonhoso fracasso da filha no mercado matrimonial.
Tragando um grande charuto, Park se sentou em uma cadeira estofada na suíte do hotel que eles ocupavam havia mais de dois anos. Sua esposa, Mercedes, estava empoleirada em uma cadeira de vime com espaldar alto. Park era um homem corpulento, tão intimidador em suas dimensões físicas quanto em seus gestos. Embora fosse careca, tinha um denso bigode, como se toda a energia necessária para que lhe crescessem cabelos tivesse sido canalizada para o lábio superior.
Na época do casamento, Soo-min era extraordinariamente magra. Com o passar dos anos, emagrecera ainda mais, como um sabão gasto que vai se reduzindo a uma fina fatia. Os cabelos pretos e lisos estavam sempre presos. As mangas de seus vestidos eram bem ajustadas aos punhos diminutos, que, de tão finos, poderiam ser partidos como ramos de vidoeiro. Mesmo quando se sentava imóvel, ela transmitia uma energia nervosa.
Park nunca se arrependera de ter escolhido Soo-min como esposa. Sua ambição férrea correspondia perfeitamente à dele. Ela era uma mulher rígida e astuta, sempre em busca de um lugar para os Park na alta sociedade.
Fora Soo-min quem insistira em levar as filhas para a Inglaterra, já que eles não seriam aceitos na nata da sociedade nova-iorquina. “Vamos simplesmente passar por cima deles”, dissera ela com determinação.
E, por Deus, tinham sido bem-sucedidos com Lillian, sua filha mais velha. De algum modo, Lillian conquistara o maior prêmio de todos: lorde Westcliff. O conde fora uma ótima aquisição para a família. Mas agora Park estava impaciente para voltar à América. Se fosse para Jimin arranjar um marido com um título, a essa altura já teria conseguido. Estava na hora de minimizar os prejuízos.
Refletindo sobre os cinco filhos, Park se perguntou como podiam ter puxado tão pouco a ele. Soo-min e ele eram determinados, mas três de seus filhos eram muito plácidos e aceitavam as coisas do jeito que eram. Achavam que tudo cairia em suas mãos, como frutas maduras junto ao tronco de uma árvore. Lillian era a única que parecia ter herdado um pouco do espírito agressivo dos Park, mas era mulher.
E havia Jimin. De todos os filhos, ela sempre tinha sido a que Park Dak-Ho entendia menos. Mesmo na infância, Jimin nunca havia tirado as conclusões certas das histórias que ele lhe contava, fazendo apenas perguntas que nunca pareciam relevantes. Quando ele lhe explicara por que os investidores em busca de baixo risco e retornos moderados deveriam aplicar seu capital em títulos de dívida pública, Jimin o interrompera perguntando: “Pai, não seria maravilhoso se os beija-flores se reunissem para tomar chá e fôssemos pequenos o suficiente para sermos convidados?”
Ao longo dos anos, os esforços de Park para mudar Jimin encontraram uma valente resistência. A filha gostava de ser como era. Tentar mudá-la era como reunir um bando de borboletas. Simplesmente impossível.
Como Park andava meio louco com a natureza imprevisível da filha, não se admirava nem um pouco com a falta de homens dispostos a assumi-la por toda a vida. Que tipo de mãe ela seria, tagarelando sobre fadas descendo por arco-íris em vez de incutir regras sensatas nas cabeças dos filhos?
Soo-min entrou na conversa com uma voz consternada:
– Sr. Park, a temporada está longe de terminar. E Jimin fez um excelente progresso até agora. Lorde Westcliff a apresentou a vários cavalheiros promissores e todos ficaram muito interessados na perspectiva de se tornarem cunhados do conde.
– É óbvio que o interesse de cada um desses “cavalheiros promissores” é se tornar cunhado de Westcliff, em vez de marido de Jimin – disse Park sombriamente. – Algum desses homens pretende pedi-la em casamento?
– Ela não tem como saber… – argumentou Soo-min.
– As mulheres sempre sabem dessas coisas. Responda, Jimin, há alguma possibilidade de você se casar com um desses cavalheiros?
A jovem hesitou, seus olhos escuros revelando preocupação.
– Não, pai – admitiu francamente.
– Como pensei.
Cruzando os dedos grossos sobre a barriga, Park olhou autoritariamente para as duas mulheres, que estavam caladas.
– Seu fracasso se tornou inconveniente, filha. Preocupa-me o gasto desnecessário com vestidos e bugigangas… O tédio de levá-la de um baile improdutivo a outro. Mais do que isso, preocupa-me essa aventura ter me mantido na Inglaterra quando sou necessário em Nova York. Por isso, decidi escolher um marido para você.
Jimin o encarou, confusa.
– Quem tem em mente, pai?
– Jeon Jungkook.
Soo-min olhou para o marido como se ele tivesse enlouquecido.
– Isso não faz nenhum sentido! Esse casamento não traria nenhuma vantagem para nós. O Sr. Jeon não é um aristocrata e não possui uma riqueza significativa…
– Ele é um dos Jeons de Boston – contrapôs Park. – Dificilmente uma família pode torcer o nariz para isso. Tem um bom nome e uma boa linhagem. E o mais importante: Jeon é dedicado a mim. É uma das pessoas com mais tino para negócios que eu já conheci. Quero-o como genro. Quero que herde minha empresa quando chegar a hora.
– Você tem três filhos legítimos que a herdarão – rebateu Soo-min, indignada.
– Nenhum deles dá a mínima para a empresa. Eles não se interessam por ela. – Pensando em Jeon Jungkook, que florescera sob sua tutela por quase dez anos, Park sentiu o orgulho florescer. O rapaz se parecia mais com ele do que seus próprios filhos. – Nenhum deles tem a ambição e frieza de Jeon. Eu o tornarei o pai dos meus herdeiros.
– Ficou louco! – exclamou Soo-min, irritada.
Jimin falou em um tom calmo, totalmente oposto ao do pai:
– Devo salientar que minha cooperação é necessária, especialmente agora que estamos falando em herdeiros. E eu garanto que nenhum poder na Terra me forçará a ter filhos de um homem de quem eu não goste.
– Pensei que você desejaria ser útil para alguém – rugiu Park. Sempre fora da natureza dele combater a rebeldia com uma força esmagadora. – Pensei que desejaria um marido e um lar em vez de continuar vivendo como uma parasita.
Jimin se encolheu como se ele a tivesse estapeado.
– Não sou uma parasita.
– Não? Então me explique como o mundo se beneficiou com sua presença. O que você já fez para alguém?
Diante da tarefa de justificar sua existência, Jimin o olhou friamente e permaneceu em silêncio.
– Esse é meu ultimato – disse Park. – Encontre um marido adequado até o fim de maio ou eu a casarei com Jeon.
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Escândalos na Primavera
Roman d'amourPark Jimin sempre preferiu um bom livro a qualquer baile. Talvez por isso esteja na terceira temporada de eventos sociais em Londres sem encontrar um marido. Cansado da solteirice da filha, Park Dak-Ho lhe dá um ultimato: se não conseguir arranjar l...