Capítulo 7

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Capítulo carregado na emoção de duas pessoas que, não somente se conhecem, mas vivem o lado sombrio e doloroso da fama.

Espero muito que gostem <3


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O vento batia nos olhos e rosto de Cate, jogando seus cabelos para trás enquanto as mãos se encontravam do lado de fora, sentindo o bater das rajadas em sua pele.

Ela poderia simplesmente voltar para o centro de Berlim e continuar sua vida de glamour em mais uma entrevista ao lado de Nina Hoss, enquanto sorria e fazia suas caras e bocas para a câmera e entrevistador, ou se irritar com perguntas sem sentido ou envolvimento com o filme que estava sendo lançado, ocasionando sua partida a cidade, mas não, ela estava com a cabeça encostada no banco do carona e sorrindo, se sentindo pela primeira vez sendo ouvida enquanto S/N Winter, dirigia por uma infinita rodovia rodeada por árvores a perder de vista, trazendo o ar da natureza aos seus pulmões, esquecendo um pouco de tudo, mesmo que por algumas horas.

Blanchett virou seu corpo em direção à janela, olhando para o lado e vendo carros e mais carros passando, e por alguma razão, seu peito queria gritar assim que ela lembrou da prisão que Lydia Tár havia a colocado, abrindo às portas naquele momento e dentro do carro, sentindo o vento em seu rosto.

A mulher segurou com as duas mãos na porta, levando metade de seu corpo para fora e gritando para que todos ouvissem.

- EU TE ODEIO, LYDIA TÁR!!

Seu peito e mente soltaram ao vento sua prisão e pensamento ruins, a dor da personagem e traziam de volta a Catherine Elise Blanchett, que estava de olhos fechados e sentindo o vento e seu rosto, enquanto S/N, sorria e ficava emocionada em saber que a mulher, mesmo depois de tantos anos, continuava sendo a mesma de sempre, não se arrependendo em nenhum segundo de ter a "sequestrado" por algumas horas, pois conseguia a ver, pela primeira vez se sentindo livre, desde quando a viu dentro do carro e com os olhos fechados, totalmente diferente de como estava ali, pois em seu rosto existia um sorriso e em seus olhos abertos, o azul mais brilhante e verdade.

Cate, continuava onde estava, até ouvir seu celular tocando e ao levar suas atenções a ele, viu que se tratava de seu marido, olhando imediatamente para S/N, que apenas disse:

- A escolha é sua! Podemos voltar e você continuar sua vida até ir embora de Berlim, ou, confiar em mim e esquecer um pouco tudo isso que está te corroendo por dentro! Além de me ouvir lhe dizer a verdade e o porquê eu sumi.

Blanchett, voltou a olhar para o celular, pensando firmemente em atender e pedir para S/N retornar, pois, sua atitude adolescente e covarde, na mente dela, não afetava apenas a ela, mas a todos ao seu redor, principalmente Nina Hoss, sua amiga, mas outra parte da mente de Cate, confiava em S/N, devido ao que passaram no passado, e sabia que ela jamais a prejudicaria. Então apenas acenou com a cabeça, voltando para dentro do carro e pegando o celular, desligando e o jogando dentro da bolsa, esquecendo que ele algum dia existiu, pois queria apenas continuar sentindo seu minuto de paz em ser ela própria, sem flashes, autógrafos, entrevistas, roupas caras, maquiagem, sorrisos falsos e acima de tudo, Catherine Elise, estava colocando de lado Cate Blanchett, voltando a ser a menina que nasceu na Austrália em 1969.

- Eu só quero poder ser eu, pelo menos um pouco - afirmou.

- Eu sei! Por isso eu lhe trouxe, ou melhor, lhe roubei - riu por alguns segundos, mas sabia que existiam muitas coisas a serem colocadas sobre a mesa entre ambas - E eu sei que muita coisa precisa ser explicada, Catherine. Eu só preci... - foi interrompida.

- Não quero saber de nada, S/N! - a olhou - Eu só quero chegar a algum lugar e esquecer um pouco os problemas, porque eu só não fiz isso antes, por não conhecer Berlim. Mas eu sei que você conhece, porque você nasceu aqui! Afinal de contas, nos conhecemos há mais de 30 anos atrás e nessa cidade.

- Sim... - sorriu.

- Só me leva para o lugar mais longe de tudo e mais bonito. Só isso que eu quero.

Catherine voltou a olhar pela janela, fechando os olhos e sentindo o vento em seu rosto mais uma vez, e a sensação era tão boa, que lhe fez sorrir e dizer, ainda de olhos fechados.

- Construí um império. Ganhei e ainda ganho muito dinheiro, não posso negar. Ganhei reconhecimento e uma vida que todos gostariam de ter. Ganhei fama, fãs que me amam e eu não sei quem eles são, mas me amam da forma que eu sou, não por eu ser uma das melhores atrizes de Hollywood, algo que eu não me considero, porém sou rotulada, mas o que importa para eles e para mim, e que eu sou uma parte deles apenas por eu ser eu - sorriu - Ganhei prêmios. Ganhei tudo! - a olhou, percebendo estar atenta a suas palavras - Mas nada foi tão fácil e não é. Sempre que estou gravando, passo meses sem ver meus filhos, meu marido, sozinha em um trailer e lendo papéis atrás de papéis. Não sei como eles estão, se precisam de mim, se estão com saudades, não sei! Não posso ser muito gorda ou muito magra, eu apenas preciso ser eu! Não posso sentir cansaço, porque eu preciso estar linda no dia seguinte e em frente às câmeras com um sorriso ou brincadeira na ponta da língua - voltou a olhá-la nos olhos, a vendo saber como era a vida de uma super-atriz por trás das câmeras, e sentindo muita tristeza por Blanchett - Às vezes eu só quero estar na minha casa mal assombrada - riu - Lendo um livro ou apenas fazendo jardinagem com a minha mãe e meus filhos.

Catherine nunca foi de se lamentar, sempre segurava suas emoções dentro do peito para soltá-las sozinha em sua casa e no seu quarto, mas S/N sabia que algo de muito errado estava acontecendo, e Cate viu isso nos olhos castanhos da mesma, contando tudo da forma mais verdadeira. Mas tristeza não era algo que a tomava por muito tempo, pois sempre procurar sorrir e brincar de si própria para esquecer as lágrimas que soltava apenas em frente às câmeras, mas na vida real, raramente apareciam em seus olhos, e ali, naquele carro e ao lado de uma mulher muito importando em seu passado, não seria diferente.

- Por que você mentiu?

- Eu estava entre a vida e a morte, literalmente.

- Por conta do acidente?

- Não! - a olhou - Acho muito difícil que você saiba sobre mim, depois que saímos da faculdade rápida que você fez em Berlim e que não concluiu, pois começou a trabalhar.

- Você se tornou uma importante atriz francesa, mas que morreu em 2010 em um acidente de carro - falou, recebendo o olhar de surpresa de S/N - Eu soube que você continuou o curso de teatro aqui, viajando para a França e começando a ganhar reconhecimento dos franceses, se tornando a mulher nascida em Berlim mais adorada na França.

- Como você sabe disso?

- Sou atriz também, lembra? E quando eu soube desse sucesso chamado S/N Winter, fui atrás para ter a confirmação que era você, mas... - olhou pela janela -... soube que você tinha morrido dois anos depois de seu grande auge - a olhou novamente - O que não se confirma por motivos óbvios - riu.

- Eu fui ameaçada de morte por um fã - a olhou.

- Meu Deus.

- Ele começou a me perseguir todos os dias, invadia minha casa todas as noites e me ameaçava. Mas... - respirou fundo, enquanto diminuía a velocidade -... eu soube que ele não iria desistir, quando o carro em que eu estava junto com o meu marido na época, explodiu, e eu o vi morrendo ao meu lado e o maluco caminhando no fim da estrada e se aproximando, então me fingi de morta até ele sumir. Depois...- respirou mais uma vez -... eu sabia que se continuasse ele iria me matar. Então troquei de nome, de profissão e de vida. Voltei a viver em Berlim um ano depois do que aconteceu, sendo Emilya German, não mais S/N Winter. Não tive essa vida que você teve e tem, porque não tive tempo para isso.

- S/N... - tocou em seu ombro.

- Mas eu sempre vi o seu crescimento e gritava dentro de mim própria: É ISSO AI CATE!! MOSTRA QUEM MANDA!! - gritou dentro do carro, arrancando risos e gritos de Cate.

- É ISSO MESMO!!

Ambas olharam uma para a outra e riram, apenas riram, esquecendo o mundo que existia em suas vidas e os medos e traumas de ambas, elas apenas eram elas por algumas horas, voltando aos sentimentos do passado em pleno futuro.


Fuja, Cate Blanchett!Onde histórias criam vida. Descubra agora