Amor Em Conflito

Capítulo 6

PV APO

Eu e Biuld não costumávamos nos importar com a opinião alheia, sempre fomos ridicularizados por diversos motivos, o principal deles era o fato de sermos meio irmãos. Nascemos em 2004, eu em janeiro e ele em novembro. Quando mamãe descobriu estar grávida de mim ela ficou extremamente feliz pois era seu sonho ter filhos, mas aparentemente “papai” não pensava da mesma forma. Assim que descobriu sobre a gravidez ele sumiu e nunca mais deu notícias. Obviamente isso foi devastador para mamãe, mas ela não podia se deixar abalar e tentou seguir a vida. Quando ela estava no sexto mês de gravidez ela conheceu o pai de Biuld, foi amor a primeira vista. Ele aceitou o fato de ela estar grávida de outro, casou com ela e me registrou como filho dele. Realmente aquilo que sempre dizem por aí é verdade: pai é quem cria, da amor, aconselha. Eu amo muito nossa família. Pouco tempo depois de eu ter completado 1 mês de vida mamãe descobriu estar grávida de novo. Choque define bem o sentimento geral na época, meu pai ficou feliz e assustado ao mesmo tempo. Biuld nasceu em 25 de novembro, não posso dizer que foi fácil para mamãe e papai cuidarem de dois bebês mas posso garantir que se saíram melhor que a encomenda.
Biuld não é só meu irmão, mas também meu melhor amigo (que Barcode não me ouça dizer isso). Se tem algo em que Biuld e Barcode são iguais é o quão bem eles me conhecem, eles me entendem de uma maneira sem igual, mas meu irmão está em outra esfera. Ele é o primeiro a perceber quando algo não está bem comigo, com apenas um olhar e com poucas palavras ele me decifra e sabe o que precisa fazer para me acalmar. Foram tantas vezes em que chorei em seu colo sem que nossos pais notassem. Foi para ele que contei sobre minha bissexualidade e minhas preocupações sobre como tocar nesse assunto com nossos pais e com Barcode. Ele sempre esteve do meu lado, mas as vezes parece que ele não vê o mesmo que eu.
Apesar de ser extremamente afetuoso com nossa família e com nosso melhor amigo, Biuld é muito reservado. Raramente se abre sobre seus sentimentos com a gente, o que nos deixa muito preocupados com ele. Não foram poucas as tentativas de fazê-lo se abrir conosco ou tentar levá-lo a terapia, mas ele sempre se recusa e diz que está bem. Sei bem que seus sorrisos largos são apenas para esconder aquilo que lhe deixa angustiado. Perdi a conta de quantas vezes o ouvi chorando baixinho em seu quarto, mas sempre que me ofereço para ser seu porto seguro ele me rechaça dizendo que não precisa de ajuda. Sei que Barcode também já tentou de todas as formas fazer com que Biuld seja mais aberto com ele, mas suas tentativas foram tão frustradas quanto as nossas.
Estava tão perdido em pensamentos que não notei a presença de Biuld entrando na sala, com o balde de pipoca doce que fez para podermos assistir ao novo episódio de Alquimia das Almas:

- Irmão, Code respondeu a sua mensagem?- perguntou Biuld se sentando ao meu lado.

- Não, ele nem visualizou a mensagem- digo olhando para o relógio que estava ao lado da televisão, já era 18:30 da tarde e não tive nenhuma notícia dele.- Provavelmente ele deve estar com o pai dele em algum lugar, já que eles passam pouco tempo juntos.

- Você tem razão, se alguma coisa tivesse acontecido ele já teria nos avisado.- Biuld fala tranquilamente.

Estamos em silêncio, concentrados nas cenas de luta do drama quando a campainha toca. Biuld com ar desconfiado, se levanta do sofá e vai atender a porta.

- Quem seria a uma hora dessas? O Barcode não é, já que ele nunca tocou a campainha na vida.- falo com a mesma desconfiança de meu irmão. Biuld abre a porta e trava na hora, sua reação é de clara confusão.

- O que você está fazendo aqui Job?- Biuld pergunta, em claro tom de irritabilidade.
O que essa criatura infeliz quer aqui? Ainda mais a essa hora? Quem responde a minha pergunta silenciosa é ninguém menos do que a madrasta de Barcode: