Amor Em Conflito

Capítulo 7

O silêncio que se instalou na sala depois que Job e sua mãe saíram foi ensurdecedor, não consigo expressar qualquer reação além de espanto. Biuld não está tão diferente de mim, talvez um pouco mais impressionado do que eu. Não sei quanto tempo ficamos assim, parados olhando um para o outro. O que nos tira do torpor é o barulho da porta abrindo e mamãe entrando com várias sacolas do mercado, Biuld se aproxima dela rapidamente pra lhe ajudar com as compras enquanto eu ainda continuo no mesmo lugar tentando digerir tudo o que ouvi, vi e senti. Sinto que será mais uma noite insone, com a cabeça cheia com tudo o que ouvi. Não posso negar que ver ele perdendo a postura de arrogante e de cinismo me impressionou, vê-lo tão sincero ao ponto de falar o quão quebrado ele é me deixou sem reação. Estou tão absorto que não vejo mamãe sentar ao meu lado, só noto sua presença quando ela pega em minhas mãos. É nesse momento que noto o quão frias elas estavam quando senti um arrepio com o contato das mãos quentes de mamãe. Olho para ela e me vejo refletido em seus olhos cor de mel, noto também que ela está um pouco nervosa mas tenta não transparecer. Olhar para ela e sentir o carinho e o amor que ela sente me faz respirar melhor, mamãe respira fundo e pergunta:

- Você está se sentindo bem meu amor? Seu irmão me contou o que aconteceu enquanto estive fora, sabe que pode contar tudo para mamãe, não sabe? - perguntou ela em tom baixo enquanto faz carinho em minhas mãos.

- Se eu disser que estou bem estarei mentindo mamãe, tudo isso foi tão inesperado para dizer o mínimo. Estar no mesmo ambiente que Job com certeza não me fez bem, mas dei a ele a chance de tentar se redimir. Não sei se estarei pronto algum dia para realmente aceitar o perdão dele, ele foi tão perverso em suas palavras e ações durante tanto tempo, que ver ele despido de qualquer máscara de cinismo e arrogância me pegou desprevenido, - olho para nossas mãos unidas e começo a retribuir o carinho que ela me faz, sinto algumas lágrimas ameaçarem a cair mas respiro profundamente e olho para ela de novo - me sinto inquieto, como se a minha decisão fosse mudar a vida de todos nós.

- Filho, posso apenas imaginar o quanto você sofreu calado por tanto tempo até ter coragem de denunciar as atitudes dele. Fui muito relapsa quanto a isso e sempre irei me arrepender de não ter notado como você se sentia. - mamãe fala de maneira triste.- Mas saiba que sempre estarei aqui para te ouvir, você e seu irmão são meus eternos milagres e sempre serão os meus meninos, eu sempre serei o seu porto seguro. Eu te amo muito meu filho, jamais duvide do quão importante você é para nossa família.

Não consigo mais segurar minhas lágrimas e simplesmente me jogo nos braços de minha mãe. O aperto no peito que sequer tinha notado que estava ali se desfaz no momento em que sinto o leve afago em meus cabelos enquanto chorava por tudo. Chorei por cada insulto, por cada piada, por cada olhar de ódio que foi dirigido a mim. Chorei até que me senti bem, como a muito tempo não me sentia. Olhei para aquela mulher que mesmo fisicamente frágil era uma fortaleza inabalável, que seria capaz de fazer tudo por mim e por meu irmão. Nós tivemos sorte de ter essa mulher incrível como mãe:

- Mãe, já lhe disse para parar de se culpar por isso. Foi uma decisão minha não te contar no início, pois não queria te preocupar. Eu acreditei que em algum momento ele iria parar de agir daquela forma. - digo limpando o rastro de lágrimas de minha face. Detesto ver minha mãe se culpando por isso. Ouço passos vindo em nossa direção e vejo Biuld parar ao lado do sofá:

- Mamãe, não se preocupe com Apo, ele só tem cara de idiota mas sabe se cuidar. - Biuld fala com um ar debochado.

- Quem tem cara de idiota aqui é você seu babaca. - falo indignado. Nesse momento ouço o som de notificação em meu celular, era uma mensagem de Barcode:

" Cara, desculpa por não ter respondido antes. O almoço com minha madrasta foi uma montanha russa de emoções, assim que cheguei em casa tive que ouvir um sermão daqueles do meu pai. Eu estava conversando com ele até agora. Por isso eu demorei para responder. Amanhã de manhã irei aí para conversarmos tá bom!? Manda um beijo para sua mãe. Te amo irmão "

Então foi isso o que aconteceu com ele. Provavelmente P'Earth deve ter perguntado tudo o que Job fez para nós ao longo do ano, dou um longo suspiro e levanto do sofá:

- O que querem comer no jantar? Eu mesmo irei fazer - digo empolgado.

- Prefiro passar fome do que comer algo feito por você - Biuld me responde fazendo careta e se preparando para correr.

- Seu maldito ingrato, quantas vezes ficamos sozinhos em casa e eu tive que fazer algo para comermos já que o senhor Biuld tem nojo de sujar as mãos - digo enquanto corro atrás dele. Ouço a risada divertida de mamãe enquanto corro pela sala atrás de Biuld.

- Meninos , porque não pedimos uma pizza? - mamãe sugere para evitar que alguma coisa se quebre durante a correria dentro de casa.

Depois de jantarmos, ficamos nós três conversando amenidades até que resolvo ir tomar banho. Me levanto, dou um beijo de boa noite em mamãe e vou para meu quarto pegar uma muda de roupas limpas para poder usar depois do banho. Tiro minhas roupas e as coloco no cesto de roupas sujas, entro no box e ligo o chuveiro na água morna. Fico um tempo apenas sentido a água descer pelo meu corpo relaxando meus músculos que ainda estava tensos depois de todo o stress da tarde. Termino meu banho de maneira mecânica e volto para meu quarto. Pego meus fones e procuro por uma das minhas músicas preferidas da playlist, talvez assim eu consiga relaxar e não passe mais uma noite insone. Demoro um pouco para achar, mas assim que a encontro coloco para reproduzir. De todos os meus cantores favoritos Jeff Satur é com certeza meu maior ídolo, quando os primeiros acordes de Stranger começam a tocar em meus fones me deixo levar pela melodia. Acabo repassando todos os eventos da tarde em minha mente, cada palavra fica se repetindo em um loop infinito em minha cabeça. Fiquei tanto tempo assim que não vi a hora passar, quando vi já era 3:30 da madrugada. Paro a música que estava tocando e resolvo dormir, não demorei muito e cai em um sono agitado.

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