Capítulo 9

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                    🚨Alerta de gatilho🚨

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Está escuro. Não vejo nada a minha volta. A cada segundo que passa essa escuridão me consome e se aprofundar em minha alma. Não sei se vou conseguir aguentar mais, mau consigo respirar. Em algum lugar ouço uma voz. Uma voz grave, porém melodiosa. Sua voz soa tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe. Tento a alcançar, mas minhas pernas não se movem. A voz fala algo, de tudo o que é dito apenas uma palavra se faz clara: BIULD. Meu nome na sua voz me aquece a alma, faz com que me sinta vivo, me fez respirar pela primeira vez nessa escuridão infindável. Mais uma vez a voz fala meu nome, sinto lágrimas escorrerem pelo meu rosto. A sensação de calmaria que essa voz me traz é tão boa que acabo não percebendo que a voz ficou mais fraca. Entro em pânico, tento correr atrás dela, mas continuo preso na escuridão. Ouço suas últimas palavras como um sussurro em meus ouvidos: LOGO IREMOS NOS ENCONTRAR, NÃO TENHA MEDO.”

Acordo com o grito preso na garganta, meu corpo está tremendo, ainda sinto meu rosto molhado pelas lágrimas. Levanto da cama e vou em direção ao banheiro, abro a torneira, jogo água no rosto e me olho no espelho. Estou pálido, meu olhos estão vermelhos e inchados pelo choro. Esse pesadelo tem sido recorrente nos últimos 2 anos, sempre a mesma escuridão, a mesma sensação de pressão e opressão que me prende ao chão e não me deixa respirar. Mas dessa vez foi diferente. Aquela voz me tirou, mesmo que brevemente, do meu torpor e me deu um leve sopro de esperança. Saio do banheiro e volto para meu quarto, olho para o relógio e vejo que são 22:30, visto um casaco leve e vou até o jardim para olhar a lua. É noite de lua cheia, me sento na entrada de casa e sinto a leve brisa tocar meu rosto. Não sei quanto tempo passou enquanto admirava a lua, me levanto e decido caminhar um pouco. Parece que ainda escuto a voz falando meu nome em minha cabeça, isso me conforta. Estou tão absorto em meus pensamentos  que quando dou por mim já estou em frente a casa de Barcode. Meus pés devem ter me guiado até aqui de forma inconsciente. Olho em direção a janela do quarto dele e vejo que a luz ainda está acessa, pego um pedrinha e jogo na janela, notando a demora pego mais uma e jogo novamente, instantes depois Barcode aparece na janela, surpreso ao me ver. Normalmente quem aparece aqui a essa hora é meu irmão, então não estranho o olhar surpreso dele. Espero alguns minutos até que vejo a porta da frente se abrindo e meu amigo saindo devagar. Sem dizer uma única palavra simplesmente vou em sua direção, o abraço e começo a chorar. Nunca gostei de demonstrar fraqueza na frente dele e de minha família, mas depois desse pesadelo foi impossível não desmoronar nos braços do meu melhor amigo no mundo todo (que me irmão não me ouça dizer isso, porque o drama que ele iria fazer seria digno de um Oscar). Sinto os braços de Barcode me apertando no abraço, ele espera eu me acalmar e fala baixinho em meu ouvido:

- Vamos subir, mas sem fazer barulho. Papai resolveu dormir em casa durante a minha última semana aqui. – como sempre Code não me pergunta nada, está apenas fazendo o que sempre fez: me receber de braços abertos e sem julgamentos esperando pelo momento em que eu me sentir confortável o suficiente para me expressar. Sempre admirei isso na personalidade dele, nunca me forçou a me abrir embora sempre tentou conversar comigo para saber o que realmente se passa comigo. Amo minha família e amigos, mas não consigo mais confiar em ninguém. Não depois do que fizeram comigo. Nunca contei a ninguém o que me aconteceu. Barcode segura minha mão e me puxa em direção a entrada da casa, ouço o barulho da porta sendo trancada novamente, deixo meu chinelo na entrada e subimos para o quarto dele em silêncio. Ao entrarmos no quarto vou direto para a cama e me deito, em nenhum momento sou questionado por ele dos motivos que me levaram até ali. Ele fecha a porta, desliga a luz e se deita ao meu lado, sem dizer nada. Ficamos os dois em silêncio olhando para o teto do quarto, a sensação de familiaridade daquele momento é tranquilizadora. Passamos um bom tempo assim, até que ouço um suspiro profundo vindo de Barcode. Me viro lentamente e vejo seus olhos escuros me encarando com curiosidade e apreensão, no momento em que nosso olhar se encontra ele me fala em um sussurro:

- Seus olhos estão vermelhos, você está com olheiras profundas. Quando foi a última vez que você dormiu uma noite inteira?
Sua pergunta me faz dar um leve sorriso e o respondo:

- Você quer que eu fale a verdade ou quer que eu minta?- meu sorriso fica maior ainda quando vejo Barcode revirando os olhos pela minha pergunta.

- Quando você vai levar isso a sério hein? Sei que você esconde algo de nós. Sua mãe já me perguntou se sei algo, mas sempre digo que não. Então, por favor, não insulte mais a nossa inteligência e diga o que realmente está acontecendo?

Suspiro alto. Não é a primeira vez que ouço essas palavras. O nível de percepção tanto de Barcode quanto de minha mãe é espantoso. Tentei ignorar os olhares deles ao longo desses dois anos, mas parece que o dia que mais temi chegou. Nunca foi fácil esconder algo deles, mas achei que seria melhor guardar dentro de mim essa ferida que não cicatriza. Encaro o teto daquele quarto, fecho os olhos e começo a falar.

- Antes de mais nada você deve me prometer duas coisas. Primeiro, não conte nada para minha família. Já estamos sob muito stress com tudo o que aconteceu entre meu irmão e Job. Segundo e mais importante, escute tudo o que tenho a falar sem me interromper. Tudo o que eu disser é extremamente difícil e doloroso de falar então, por favor faça isso. Por favor.

- Eu prometo, mas com uma condição. Que depois de contar tudo, você deve procurar por um psicólogo. E nem adianta fazer essa cara feia para mim. É pegar ou largar.

- Aaaah tá bom tá bom, você venceu. Agora fica quieto e me escuta, pode ser?

- Sim senhor, senhor.- a resposta de Barcode me faz rir baixo. Vou sentir falta desse peste. Respiro profundamente e começo a falar baixinho:

- Você se lembra do nosso primeiro dia no ensino médio? Quando fui assaltado na saída da aula? – vejo pelo canto dos olhos Barcode acenando levemente com a cabeça.- Então você também lembra que corri atrás do ladrão e um rapaz me ajudou certo? – noto um leve brilho de compreensão surgindo no olhar dele, mas  parece que ele vai me deixar falar tudo o que preciso.

“ Você ficou pra trás enquanto eu corri o mais rápido que pude atrás daquele ladrãozinho mequetrefe, quando um rapaz apareceu do nada e derrubou o ladrão. Lembro perfeitamente daquele momento. Ele parecia ter saído diretamente dos livros de fantasia. Tão alto e lindo como um Elfo da Terra Média, tão educado quanto um lorde de Westeros, e tão cruel quanto um Lord Sith. Essa última parte notei quando já era tarde de mais. Naquele dia, ele se apresentou como um estudante de Física na Chulalongkorn University. O nome dele não vem ao caso agora. O importante é o que aconteceu depois disso. Eu fiquei grato pela ajuda dele e disse que iria lhe pagar um refeição em agradecimento. Ele gentilmente disse que não era necessário, mas que ele aceitaria tomar um sorvete qualquer dia desses.
Passaram-se alguns dia depois do ocorrido, estávamos saindo da aula quando o vejo parado em frente ao colégio. Era impossível não notar a presença dele. Todas as meninas ficavam nervosas quando passavam por ele. Quando me viu saindo ele veio em minha direção e perguntou se poderíamos tomar o sorvete naquele dia. Foi aí que a minha vida mudou por completo. Pelo menos duas vezes na semana ele me chamava para sair. Quem olha-se via apenas um Pi e um Nong, saindo para ir ao cinema, tomar sorvete ou simplesmente jogar conversa fora. Descobri que ele estava no primeiro ano do seu curso de Física, ele falava com tanto entusiasmo sobre as aulas que não notei ele entrando em meu coração aos poucos. Fizemos isso por uns três meses. Foi quando ele disse que gostava de mim e perguntou se eu queria ser seu namorado. “
Paro um pouco para pegar uma pequena lufada e ar e coragem para continuar a contar minha história. Vejo Barcode totalmente focado em cada palavra minha. Fecho os olhos e continuo a falar:
“Eu estava nas nuvens, me sentia a pessoa mais feliz do mundo. Feliz por amar e ser amado. Por ter alguém tão incrível ao meu lado que não notei quando ele começou a mudar. No início eram mensagem perguntando onde eu estava, o que e com quem eu estava. As vezes eu estava em casa com minha família, ele ligava furioso porque eu não havia respondido suas mensagens. Mas logo as coisas ficaram piores. Ele começou a me seguir sempre que eu saia do colégio. Me impediu de ir ao shopping sem ele, porque alguma coisa poderia acontecer. Eu, em minha incrível ilusão achei que suas atitudes era fofas, pois achei que ele estava apenas com ciúmes de você e que queria demonstrar afeto por mim.
Um dia, a bateria do meu celular tinha acabado e eu tinha ficado até tarde no colégio e não pude responder suas mensagens e nem suas ligações. Nesse dia ele me bateu pela primeira vez. Não foi um simples tapa. Ele me socou no rosto e no corpo várias vezes, eu caí inconsciente no chão e ele começou a me chutar. Não sei quanto tempo eu apaguei, mas quando acordei eu estava deitado em uma cama de hospital. Procurei por ele e o vi sentado um uma cadeira ao meu lado. Quando notou que acordei, ele pediu desculpas disse que ficou preocupado pois não teve notícias minhas. Ele chorou pedindo por perdão, e eu tolo aceitei. Tive que ficar em repouso por alguns dias porque trinquei duas costelas. Depois desse dia ele se tornou o que era no início do nosso relacionamento. Um homem amoroso, divertido e carinhoso. Mas não durou muito tempo. Semanas depois ele voltou a me controlar, até com mais afinco do que antes. Antes que surja a dúvida, nós nunca dormimos juntos. Eu não me sentia preparado para isso. Nós estávamos juntos fazia 7 meses, e meu psicológico estava abalado. Toda vez que meu celular tocava eu entrava em pânico, pois nunca sabia como ele iria falar comigo. Fiquei paranoico. A cada esquina que passava eu cuidava para ver se ele não estava me seguindo. Qualquer barulho já me deixava em alerta. Foi quando eu decidi terminar com tudo. Foi quando eu conheci o lado mais perverso dele. Mandei mensagem dizendo que precisava conversar com ele urgentemente. Ele me buscou no colégio e fomos até um lugar mais tranquilo para conversarmos. Ele parecia empolgado, no mínimo achando que eu iria aceitar ir para cama com ele. Quando eu disse que queria terminar, sua expressão mudou drasticamente. Ele me acertou um soco no rosto com muita força que não tive nem como me defender e apaguei. Acordei zonzo sobre uma cama macia e ele estava ao meu lado me encarando de maneira louca. Quando ele viu que abri meus olhos ele me atacou e me forçou a transar com ele. Não vou descrever o que aconteceu, mas você pode imaginar que não foi algo bonito. Enquanto ele se “satisfazia” com meu corpo ele me batia, meu corpo tinha tantos hematomas que não dava pra saber qual era a cor da minha pele.
Ele disse que meu corpo era dele, e que poderia fazer o que quisesse comigo aquela noite, pois ele nunca mais iria me procurar. Não lembro como cheguei em casa aquele dia, mas passei dias preso dentro do meu quarto sem querer ver ninguém. Eu me sentia sujo. Sentia que não deveria nunca mais aparecer na frente da minha família, foi quando pensei em suicídio pela primeira vez. Eu não queria que ninguém soubesse disso, não queria a pena de ninguém então me afastei de tudo e todos e guardei tudo isso para mim até hoje. Não posso dizer que superei isso, talvez nunca supere. Até por que nunca mais consegui dormir uma noite completa sem ter pesadelos horríveis. “

Não sei quando comecei a chorar enquanto contava tudo a Barcode, mas notei que não era o único chorando ali. Barcode nada disse, apenas me abraçou forte e chorou. Chorou como se tudo aquilo tivesse acontecido com ele.
Talvez, ter saído durante a madrugada tenha sido bom. Nunca me senti tão leve ao dormir abraçado ao meu melhor amigo.








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Oi pessoal. Sei que faz tempo que não posto nada por aqui. O ano que passou foi muito tumultuado e estava com um senhor bloqueio criativo. Prometo não demorar tanto para fazer atualizações.

Beijos de luz

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⏰ Última atualização: Jan 31 ⏰

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