Horas e horas

69 3 0
                                    

Me movi a passos suaves pelos corredores extensos. Escadas e mais escadas, altas de degraus pequenos e irregulares, onde quanto mais se sobe, mais alto o som do vento noturno gritando pelas frestas das paredes de pedra.

A conversa com Luna fica se repetindo na minha mente. Eu não sei o que fazer. Quero me concentrar em Harry. Temo que apenas dessa vez, nada tenha relação com ele.

Eu nunca me imaginaria capaz de causar algo de ruim para todo o mundo. Me sinto cansado só de imaginar esse peso em minhas costas. Talvez eu esteja começando a entender Harry. O meu Harry.

Coloco os pés sobre o último degrau da escada que leva a torre de astronomia. O céu da cor meia-noite azul intenso é confortável para minhas vista. Meus olhos passam pelo terraço da torre.

Harry se vira na minha direção, seus pés estão suspensos sobre o abismo, as costas apoiadas no mastro torto de pedras. Os olhos se espremem em uma linha fina, tentando me fazer virar uma imagem nítida, não apenas um contorno escuro no meio dos telescópios. O verde de seu olhar não é perceptível, mas para mim é suficiente.

- Você veio - sua voz é baixa e rouca, mas o silêncio lá em cima é tão grande, que suas palavras se sobressaem sobre os sons gralhosos dos corvos que zanzam pelo terreno do castelo durante a madrugada.

- Você chamou - ele sorri, passando os pés para dentro do parapeito, por um momento penso que vai jogar o peso para trás e cair no poço de ar escuro, mas vem até mim.

Um dos seus olhos está roxo com um corte na sobrancelha bem pequeno. Eu não digo nada sobre isso.

- Você é um fofo - ele diz, se virando para pegar uma garrafa que está no canto da torre. - dá um gole, você vai gostar.

Eu pego a garrafa, o líquido dentro não tem cor nenhuma, parece água, se não fosse pelo cheiro forte. É vodka.

- É trouxa. Tem álcool. - ele lista para mim, como se fosse as únicas informações que eu preciso saber. Ele não me avisa que o gosto não é dos melhores, mas por sorte eu já sei.

Eu tomo um gole. O gosto não é desconhecido, tomávamos todo tipo de bebida durante a época da guerra, seja pra esquentar, ou esquecer um pouco da realidade.

Sento ao lado de Harry na neve, sinto minhas roupas umedecendo. Ele passa o braço por cima do meu ombro, enquanto me aconchego no seu pescoço.

Ele passa o copo que está tomando pra mim, em seguida da uma tragada no cigarro, soltando a fumaça para o outro lado, mas não adianta, suas roupas e sua pele estão exalando o cheiro.

- Não acho mais seguro você sair para comprar essas coisas - eu digo enquanto coloco o copo no chão ao meu lado, depois de tomar um pequeno gole.

- É para esquentar - ele diz sorrindo.

Penso em dizer que amo seu sorriso.

- Não disse que é para refrescar - eu digo, fazendo com que seu sorriso aumente.

- É, não foi isso que você disse, amor - ele apaga o cigarro na neve, e me puxa de volta para dentro da barraca.

dentro, com uma fogueira baixa e com brasa suave apenas para esquentar, enrolado a Harry, imagino que estamos apenas acampando. Imagino que não precisamos procurar nenhum artefato das trevas. Imagino que Harry vivera e envelhecera, como os seres vivos devem fazer.

- Você não é forte para bebida - ouço a voz juvenil a minha frente.

Minha vista volta ao normal, ficando nítida a imagem de Harry.

- Eu não disse que era - eu o encaro, esperando algo. Esperando por ele. Ele.

- Não, você não disse.

- Porque me chamou aqui a essa hora ? - ele não olha nos meus olhos.

- Gostei que do modo como conversamos aquela noite.

- Não conversamos muito, eu diria.

Quero sair daqui. Quero resolver as coisas. Mas não consigo decepcionar Harry. Ele me responde :

- Você me responsabiliza. - ele diz. Não entendo.

Ele aponta para os machucados em seu rosto.
Não sei o que dizer. Faço que não com a cabeça.

- É minha culpa. - ele fala, mas sua voz parece a de um robô. Não tem emoção. Parece dizer um fato inegável, como os professores de história narram algo já ocorrido.

- Chegou a essa conclusão sozinho ? - sei que não. Mas pergunto mesmo assim.

- Tive ajuda.

- Também gosto de conversar com você, Harry.

Ele sorri. Ele faz tanto isso.

- Desculpa ter que te chamar a esse horário, não tenho muito tempo livre. - ele toma mais dois goles grandes direto da garrafa, observo seu pomo de Adão se mexer. Seu rosto tem um pequeno espasmo no local do hematoma, mas ele não percebe.

- Sabe, - olho para o machucado, e ele repara - vocês pareciam bem no café da manhã. O que aconteceu ?

- Temos muitos altos e baixos. Ele se irrita muito fácil, e talvez eu seja sensível demais.

Ele parece querer dizer mais, então eu acho uma boa ideia saber mais.

- E sempre foi assim ? - me sento do chão ao lado da mureta, fazendo sinal para que ele se sente ao meu lado. Ele traz a garrafa.

- No início não, mas você sabe, no começo tudo é festa.

Passamos horas e horas conversando naquela madrugada. Descubro muitas coisas sobre o relacionamento de Harry.

Ele e Cedrico são amigos desde o primeiro ano de Harry, até o início do terceiro ano a amizade era mil maravilhas.

Harry começou a ter sentimentos por ele no terceiro ano. Descobriram ser recíproco. Estão juntos desde então.

A história contada foi certamente um belo relacionamento. Ele é um pouco ciumento, Harry disse.

Se estressa muito fácil. Explode.

Não gosta de ser contrariado, sabe como é. Teimoso um pouco.

Quer muita atenção, gosta que eu valor a nosso relacionamento.

Muito ocupado, pelas provas e tals, nossos encontros tem sido mais no seu dormitório durante a noite.

Não sabe perdoar, é muito vingativo depois das nossas brigas.

Tudo isso no meio de muito romance. Mas eu estava atento.

- Mas isso - toco levemente a parte inchada em seu rosto, o frio fez o hematoma escurecer. Sua boca se curva de dor. - quando começou ?

Ele se aproxima de mim.

- Quando comecei a fazer essas coisas.

Ele está tão próximo que sinto sua respiração em meu rosto. O cheiro da bebida que vem dele é tão forte que me sinto embriagado mesmo tendo tomado só um gole.

- Que coisas ?

Ele me beija.

Me beija de novo. E denovo. E denovo.

Suas mãos puxando a gola do meu casaco. Minhas mãos se enroscando no seu cabelo.

A garrafa se quebra com um chute, não sei de quem. Estou tonto.

Harry está em cima de mim. Beijando meu pescoço, atrás das orelhas, todo meu rosto. Não consigo soltá-lo.  Apenas o puxo mais pra perto.

Está tudo errado.

Love me again - DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora