A Morte

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Votem no capítulo por favor. Bom leitura ♡/


Uma mulher alta, pálida como gelo e com cabelos pretos e sem vida escorrido como cobras pelas costas. Essa é minha  visão quando acordo pelo movimento em meu dormitório. Olhando para o lado, vejo que Miguel não está lá. A mulher me observa, ao pé da minha cama, com olhos profundos e vazios, brancos por inteiro, sem sinal de pupila.

Sua boca, com lábios partidos de tão secos e sem cor, se abrem. Não consigo me mover na cama, e a figura se senta no colchão, penso ser um pesadelo, mas o peso e o colchão afundando, fazendo o cobertor roçar meus pés é tão real que não sei mais no que acreditar. Sua voz sai sofrega, como se movimentar as cordas vocais arranhasse sua garganta.

- Draco

Ela me chama, e mesmo tendo a sensação que poderia me mover se quisesse, não sinto que teria para onde ir. Senti que tentando correr para longe, a mulher me alcançaria e me devoraria com seus dentes adiados e quade transparentes de tão finos. Contudo, sua aparência doentia me fazia pensar ser ridícula a ideia de a atacar. A mulher não me atacaria, mas sequer sei se a criatura a minha frente é uma mulher realmente.

- Uma divindade - sua voz soa mais acostumada com a fala, e seu sotaque é antigo e formal - Uma força da natureza, não. Mais que isso, uma parte inevitável do ciclo da vida. O ciclo da Morte. O início e o fim, o que eu sou.

Ela diz isso como para responder meus pensamentos, fazendo os pelos do meu corpo se arrepiarem.

- O que você quer ? - eu gostaria de dizer que não gaguejei e engasguei ao dizer isso, mas seria mentira. Vamos a realidade : minha voz saiu fina e esganiçada, como se estivesse de volta a puberdade.

A criatura cadavérica sorri, suas sobrancelhas ralas se erguem como se fosse rir, mas no máximo seu rosto se desfigura em uma careta triste.

- Quero uma troca, quase injusta de tão benéfica pra você.

Seus dedos magros e avermelhados, como se estivéssem feridos e sensíveis, deslizam pelos meus pés cobertos me fazendo prender a respiração.

Uma troca. Quando o vento uivante quebra o silêncio absoluto, esmurrando as janelas como o diabo querendo entrar no quarto, tudo parece real demais e eu estou vivo demais. As costas das mãos escamosas da Morte me enojam e eu quero sair dali o mais rápido possível.

Um acordo, ela disse? Não, uma troca. Eu sei o que a coisa quer e sei que coisas como ela não fazem trocas. A Morte vem e toma, não pede licença ou faz sinal de chegada, chega sorrateira e te puxa pelos pés para baixo da terra. Troca nenhuma, sua filha da puta. Eu quero dizer isso e mais um milhão de coisas. Porra de troca nenhuma, traga Harry de volta.

Sua boca não se mexe, mas posso ouvir sua voz na minha mente, quente e fria na mesma intensidade. Morna e enjoativa, azeda como remédio e faz minha face se contorcer, quero cuspi-la para fora, mas soa calma e moribunda, ignorando meus protestos : O garoto pelo homem. Abra mão da pequena ninfa sedutora e destrutiva, tenha de volta o que é seu, o homem de guerra.

Minha visão se torna turva e difusa e algo com gosto de ferro inunda minha boca, parece sangue e deve ser, mas não consigo raciocinar. Memórias passam como cavalos trotando sobre meu crânio.

Meu Harry, tirando seu casaco no frio congelante e o colocando sobre meus ombros nus sem sequer pensar, naturalmente me aquecendo, e depois de minutos o observando, vejo que ele não pensou em fazer um feitiço de aquecimento em si mesmo. Eu o faço, e o modo como ele me olha é como alguém no deserto olha para o oásis a sua frente. Raro e precioso, uma benção dos céus.

Em outra memória empurrada imediatamente após a anterior, vejo meu Harry pela fresta da porta da sala de reunião da ordem. Lembro de ainda estar devagar pelo sono recente, e com a guerra pressionando meus lados dia e noite sem descanso, me esqueci da reunião semanal para novas estratégias. Ele está inclinado sobre a mesa com as mãos apoiadas e seu olhar é sério e tempestuoso por trás dos óculos, mostrando e explicando algo no mapa para os outros integrantes que não sei o que é por causa do feitiço de silêncio na sala. Me contento em observar seus lábios pelos próximos minutos, e quando toda a Ordem sai da sala, vou até ele para o questionar por não ter me acordado para a reunião.

Love me again - DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora