Concretizar a escolha

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Não se esqueçam de votar no cap. E boa leitura ♡
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Quando o relógio ansioso bateu o ponteiro menor no número três, eu olhei para fora da janelinha rachada e o céu azul índigo sorriu cintilante de volta, alheio ao meu humor sombrio. Engoli seco, e pude sentir as gotas de angústia escorrendo pelo meu corpo.

No meio do corredor do castelo, numa noite que deveria ser fria, tudo em mim queimava como brasa, chamuscando minha capa e a varinha em sua manga. Meus pés amortecidos, um na frente do outro de forma desatenta, me levando ao lugar onde tudo começou a fazer sentido. O sentido logo se perderia, esvoaçante como pluma e leve como pena, e eu seria deixado com a realidade crua e densa da minha tarefa.

Quando levantei os olhos, minutos depois, só faltavam dois degraus para meu destino. Haviam tantas estrelas no céu naquela noite, que pareciam um quadro trouxa muito conhecido do qual não me lembro o nome. Eu gostaria de prolongar aquele momento e divagar sobre como não muito tempo atrás subi aqueles mesmos degraus de forma apressada para encontrar com Harry. Agora, queria que demorasse anos. Queria que faltassem milhares de degraus.

Faltam só dois, e sou privado de demorar-me neles e contar cada irregularidade sobre meus pés.

- Draco ? - o garoto a minha frente está tocando meus ombros e me arrastando para perto do parapeito baixo da torre de astronomia.

Desvio de seus olhos e ignoro a altura em que estamos. Sua calça de pijama surrada e pés cobertos com meia me mostram que ele saiu apressado para me encontrar naquela noite. Harry, saindo de sua cama quente e confortável na Torre da grifinoria quando meu bilhete enfeitiçado bate em sua janela. É a visão que passa em minha mente, e é dolorosamente doce que ele esteja aqui, e que vai acontecer é como uma amargura que entra naquela memória e a deixa azeda e intragável.

Draco. Ele está dizendo, preocupado, e puxa meu queixo com os dedos macios para que o olhe. Seu polegar acariciando a maçã do meu rosto.

- O que houve ? - não posso mais tardar, e finalmente foco em seus olhos, e eles não parecem ter fundo algum, infinitos para dentro e ondulando em minha direção. Puxando-me até que eu desista de lutar contra.

Draco. O que está acontecendo?

É como se sua boca se mechesse mas sua voz soasse em meu estômago, me fazendo perder o fôlego. Algo frio contra o vento da noite molha meu rosto e quando toca meus lábios, é salgado.

- Draco, querido? Está me assustando.

Só consigo desviar de seu olhar quando ele pressiona o corpo contra o meu, passando os braços por mim e acariciando minhas costas. Abaixo a cabeça, deitando contra seu ombro e molhando suas vestes.

- Eu fiquei muito doente, Harry. Muito doente mesmo.

Minhas palavras saem cortadas pelos soluços consequentes da garganta chorosa. O moreno se desenrosca do meu corpo, fazendo com que eu sinta falta de seu calor contra minha pele.

- Doente? Doente de que, Draco? - ele me avalia. Demorando-se nos meus olhos e nariz vermelhos pelo choro e nos vincos de noites mau dormidas entre minhas sobrancelhas e abaixo dos olhos. - Você está com dor agora? Vou levá-lo para a enfermaria... sim, venha, como não percebi...

Não arredo o pé de onde estou, tentado a explicar o inexplicável. A Morte está me torturando e solando meus derredores como urubus esperam carne morta. Esperando a matéria de Harry. O motivo de suas atitudes parecem estar esculpidos em cada canto e dobra fresca do corpo de Harry: tentei contorna-lá. Tentei dar um jeito para o ciclo da vida. Tentei tomar o meu Harry dela, e traze-lo de volta para mim quando ele já não pertencia mais ao meu mundo. Ao mundo dos vivos.

Love me again - DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora