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FILIPE
— Tu tava vidradão na mina, rapá. — o Diogo fala me dando um pescoção.

— O cara nem piscou. — o Caio fala dando risada.

— Parecia até que estava assistindo televisão. — o Tico fala sentando ali do lado do Caio.

— Pode falar, melhor coisa que tu fez nesse dia de hoje foi ter vindo pra cá pra assistir a Lolla. — Caio disse me cutucando com um toque de ombro no ombro.

— Nem adianta negar, ninguém além de você estava tão focado na mina.— Diogo entrou na pilha deles e eu respirei fundo já ficando estressado.

— Vou ter que concordar. — o Tico fala rindo.

— Ficou interessado, T-re? Chega nela.— Caio voltou a falar e eu já me levantei dali.

— Tá maluco, rapá? Tô nessa vibe que vocês tão achando não, melhor eu assistir do que ficar caçando mulher. — ajeitei minha blusa e tirei a carteira do bolso, tirando dinheiro e deixando na mesa. — Vou meter meu pé.

— Que isso cara, relaxa aí.

— Tô de boa, Maneirinho. Deu por hoje já. — fiz um toque com ele e o Caio e sai dali sendo seguido pelo Tico. Antes de dobrar no corredor que dava pra mesma saída e entrada que viemos.

Vi a tal Lolla, ela estava com uma espécie de roupão e escorava no bar, pegando uma caneca enorme de cerveja, me acenou um tchauzinho e sorriu largo antes de se virar de costas e sair andando.

— Alguém notou você. — Tico passou a minha frente dando gargalhada e eu neguei desacreditado.

Sai dali logo antes que eu caísse na tentação de ir trás dela e perguntar se rolaria um show particular, vou deixar isso para outro dia.

Antes de dormir, toda aquela dança veio na minha mente e eu precisei me aliviar ou não iria dormir.

Eu não sei nem há quanto tempo eu não faço isso só de imaginar uma mulher, parecia que eu estava de novo na minha adolescência, molequinho emocionado pra caralho. Eu ainda tava um pouco bêbado e tinha tragado um depois de tudo. Precisei de outro banho gelado e caí na cama logo em seguida. Exausto.

Dias depois.
LOLLA
Desci do ônibus e comecei a caminhar, levaria ainda mais quatro ruas até chegar na boate. O entardecer estava muito bonito e eu estava me sentindo bem com o vento fresco que estava passando por mim.

Hoje tive que vir mais cedo, tinha uma idéia nova para incluir nos passos da minha apresentação e precisava também pegar o meu dinheiro da semana.

Precisava acertar o meu aluguel e as outras contas que dividia com a Vanessa, minha colega de apartamento. Ela era tranquila, trabalhava como promoter e sendo sincera... Mal conseguíamos nos vê durante o dia, mas quando conseguíamos era legal. Eu gosto da amizade que fomos criando.

Estava já na calçada que me levava até a boate, quando escutei uma buzina. Não olhei, não estava afim de me estressar com esses tipos de homens. A buzina continuou, por mais quatro vezes e eu já me virei com os dois dedos médios levantados e a língua de fora.

— Buzina pra sua mãe, filho da puta!

— Calma, Lollapalooza. — escutei aquele  apelido ridículo ser dito numa voz que eu conhecia, mas só revirei os olhos e cruzei meus braços. — Cheguei muito cedo?

— Vai se foder, Caio! Eu já tava pronta pra tacar uma pedra nessa merda de carro! — eu gritei com ele e ele gargalhou, enquanto saía do carro já estacionado. — Como você sabia que eu já ia está aqui?

— Você disse, Dory Filha.

— Não lembro.

— Pois é, gatona. — ele riu e eu bati em seu braço. — E aí, tá de bobeira?

— Tô nada. Tenho que ensaiar algumas coisas e preciso pegar meu pagamento. Hoje eu não me apresento aqui, só naquela outra na Barra.

— Tá foda de grana? Sabe que o pai ajuda né?

— Meu pai eu nem conheci, gatinho. — fiz piada e ele gargalhou. Filho da puta.

— Vim te entregar isso também... — levantou um saco com lanches do Burguer King.

— Não sei se choro ou se te mato. — peguei a sacola e beijei seu rosto. — Tava morrendo de fome mesmo, não consegui almoçar.

— Agora eu preciso ir, gatinha. Vou num amigo ali... Se precisar de alguma parada, tá ligada né?

— Tô ligada, Cá. — sorri e ele bagunçou meu cabelo, eu o chutei na bunda assim que ele se virou de costas e corri logo para alcançar a entrada dos fundos da boate.

Caio Luccas e eu nos tornamos amigos há uns meses. Ele apareceu aqui numa das noites que eu estava fazendo apresentação e tentou me cantar quando me viu próxima da bancada do barman.

Foi uma coisa tão horrível que eu não consegui sentir nem pena da tentativa, só dei muita risada e ele gargalhou junto.

Flashback on.
Você não vai comer ninguém assim, aqui, gatinho!! Essa foi horrível. — eu passei a mão no canto dos olhos, enxugando o meu choro que caiu inevitavelmente junto da risada.

— Que isso mina, qual foi né?

— E pior ainda, tenho uma notícia. Eu não transo com os caras, só venho pra dançar.

— Um desperdício, né não? Olha pro preto. Nós ia combinar demais, pô.

— Cara, que idade você tem? — eu perguntei dando risada de novo e bebi do meu drink.

— Idade não se conta em nada não, cara. Bora pô, agiliza com o preto e tá tudo certo.

— Se você vender sua autoestima, engarrafada. Vai lucrar mais que as meninas aqui. — eu sussurrei perto do ouvido dele e ele deu uma risada nasalar.

— Aí tu me quebra né não, preta? Fala que não pode nada e vem com essa voz ao pé do ouvido? Que sacanagem.

— Acontece, né.

— Me chamo Luccas. Caio Luccas.

— Lolla. — apertei a mão dele que estava estendida e sorri. — Só mais uma coisinha, eu poderia super ser sua amiga. Mas em outros aspectos... você é muito novinho e eu tenho um gosto peculiar para homens.

— Qual o tipo, fala comigo. Já que tu não quer nada com o pai, eu desenrolo um ali pra você e tu bota uma dessas tuas amigas na minha fita.

— Hum... Não sei direito. — me encostei com as costas no balcão do bar e fiquei olhando em volta pra vê se achava alguém similar ao meu gosto pessoal. — Vamos vê, Caio Luccas... Um pouco parecido com aquele ali.

— Aquele magrelo? Tá de sacanagem?
Tu é mó gostosa, porra.

— Mas respeito com sua nova amiga. E não, não esse. Aquele. Mais alto, as costas largas, ombros também.

— Tenho um amigo nesse naipe, qualquer dia te apresento. Agora bora, arruma uma pretinha pra mim.

— Gosta de uma preta, né não?

— Gosto mermo, pena que tu não gosta de um preto.

— Eu gosto de homem, Caio, não escolho cor, só um pouquinho do corpo. — ele me olhava com maior deboche e eu gargalhei alto. — Bastante tatuagem, fortinho de academia, as costas largas, homão mesmo. Grande.

— Que papo é esse, caralho? — ele me cutucou e eu dei de ombros.

— Já trago a minha parte. — pisquei pra ele e fui atrás da Larissa, sabia que ela iria ser o que ele queria.

flashback off.

Até hoje eu não sei como esse doido ainda continua vindo aqui. E na maioria das vezes, ele só vem pra me assistir e ficar me gastando dizendo que ele iria faturar muito mais se fosse gogoboy. Esse cara é uma figura.

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