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LOLLA

Já tinha acabado de comer e estava sentada no banco, com pernas de índio, terminando de beber do refrigerante. O grandalhão do meu lado ainda estava comendo do seu terceiro hambúrguer.

— É assim que você mantém o shape, Filipe?

— Eu falei que tava com fome.

— Falou. Mas não imaginei que era tanta. Quantos você fumou?

— Quatro.

— E não trouxe um pra mim, seu maconheiro safado? Que porra de falta de consideração.

— Tem no porta luvas, sabe bolar?

— Tá de sacanagem, coroa? — perguntei já abrindo o porta luvas do carro e peguei tudo. — Da boa ainda. Pode me patrocinar umas que eu agradeço.

— Você é meio maluca, né? — ele estava limpando a boca com o guardanapo, juntou todos os lixos e pegou também o copo que estava no meio das minhas pernas. — Sem short, dançarina?

— Preguiça. — respondi concentrada em terminar de fechar o cigarro e ele riu.

Ele jogou a bolsa com lixo, num latão ali do estacionamento e eu fiquei acompanhando com o olhar, já tinha acendido o cigarro e traguei. Minha mente estava presa em memorizar os movimentos dele e se embolava com a onda que iria começar a dá sinais.

Ele estava andando devagar, concentrado em algo que digitava no telefone e eu estava gostando da vista. Filipe estava com uma camiseta branca e um short marrom, chinelo, relógio e cordão no pescoço. Ele coçou a cabeça por alguns segundos e depois jogou o telefone no bolso, voltando de uma vez para dentro do carro. Quando entrou, eu estiquei a mão, oferecendo para que ele fumasse comigo e ele deu um sorrisinho de lado. Segurou no meu pulso e levou minha mão até sua boca, sugou com os olhos nos meus e eu senti o pé da minha barriga esquentando. Puta merda.

— Trabalha amanhã? — perguntou depois de ter noção do quanto me desconcertou. Eu neguei devagar, voltando o cigarro pra minha boca e deixei a fumaça para o lado dele.

Ele ligou o carro e saímos dali ainda em silêncio, eu estava curtindo minha onda e às vezes passava o cigarro para ele. Depois de um tempo, estávamos entrando num condomínio e eu entendi que iríamos para a casa dele.

— Faz nem um convite, né? — brinquei quando já estava fora do carro e ele parou na minha frente, tomou o cigarro na minha mão, puxou e deixou a fumaça no meu rosto. Eu gostei. Sorri largo e ele riu de canto.

— Não achei que precisava.

Realmente não precisava. Não precisava de nada. Eu só tava afim de qualquer coisa desde que pudesse, de uma vez por todas, acabar com essa tensão sexual entre nós dois e assim eu sumisse de uma vez da vida dele.

Era só desejo.
Tesão.

E quando acabasse, tudo acabaria junto. Não tinha porquê ficarmos nessa. 

— Precisa? — soltou a fumaça para o lado e voltou o olhar pra mim.

— Não precisa, cantor. — passei a sua frente, com os braços cruzados e ele veio logo bem atrás, quase com o corpo colado no meu. Mas apenas me encostou quando eu parei em frente a porta, ele segurou uma das mãos no meu quadril e a outra destrancou a porta e a empurrou para abrir.

Era enorme e bem organizada, a maioria das coisas se mesclava em tons escuros. E claro que teria um quadro ali, enorme com foto do dono da mansão.

Eu me taquei no sofá retrátil e fiquei rindo enquanto olhava o quadro.

— Um ego indomável?

— Na verdade ganhei de presente, minha mãe quis deixar aí e eu não fui contra. Acabei gostando. Tô foda nela. — ele respondeu parando atrás do sofá e cruzou os braços, eu levantei o rosto para o vê e ele abaixo o olhar pra mim. Hummm, que visão instigante. — Quer beber alguma coisa pra relaxar?

— Quero outro beck e whisky. — pedi e ele assentiu. Foi caminhando para um canto da sala onde abriu uma caixinha e me deu já um beck pronto pra ser usado. Acendi e levantei do sofá, começando a andar por ali e acabei saindo na área externa da casa.

Tinha um espaço muito bom e uma piscina foda. Sentei na beirada, a água estava batendo mais ou menos na altura da metade da minha panturrilha. 

Filipe veio para o meu lado, me deu o copo, bebi um pouco. E fiquei observando ele puxar mais a bermuda e sentar do meu lado. Ele também estava com um copo na mão e pediu o beck.

— Esse lugar é enorme pra você ficar sozinho, não é não?

— Já quer se mudar pra cá?

— Para, cara. — o empurrei de leve no ombro e acabei rindo. — Só fiquei curiosa.

— Eu me mudei pra cá tem pouco tempo, era parte de outros planos. — ele respondeu baixo, com o pensamento longe.

— Que papo de corno. Quem teve a audácia de encher essa cabecinha de galhos?

— Minha ex. — o vi engolir a seco e eu assenti. — Nego acha que eu iria trair ela e várias vezes saiu esses bagulhos em instagram de fofoca. Mas porra, sem lógica, eu nunca nem pensei em fazer.

— Tem muito tempo que terminou?

— Uns dois meses.

— Ah merda, perdi todo o tesão. Você ainda tá sofrendo por causa dela. — eu comentei decepcionada e ele deu uma gargalhada altíssima, tirando de uma vez só a carinha de cachorro sem dono que ele estava antes. — Calma aí, seus amigos te levaram lá na boate pra te tirar da fossa?

— Uma parada assim...

— Foi isso mesmo!!! — Bebi mais do meu copo e deixei de lado, fumei mais e entreguei para ele. — Sinto muito em te dizer mas não tenho como te ajudar nisso. Não tenho experiência em ser chifruda.

— Vacilona.

— É sério! Não tem como ser corna sem nunca ter namorado.

— Você não vai meter o papo que é virgem, né?

— Eu falei que nunca namorei e não que nunca tinha visto um pau na vida, cantor!!

— Ah sei lá. Tu é toda novinha aí, mas pelo o que tu faz é meio difícil não pensar que você não faça nada.

— As outras fazem lá, eu não. Quer dizer... Às vezes sim, mas depende da minha vontade e não porquê alguém pagou. — reformulei lembrando do Rafael e dei um sorrisinho.

— Aquele cara que me levou até onde você estava ensaiando...

— Quem?

— Um grandão. Pô, tu tá se fazendo né...

— Eu não sei de nada. Se não lembro, não fiz. — dei de ombros rindo e ele riu alto, me fazendo acabar gargalhando junto dele. Acho que estávamos bem largados na onda.

Até de manhã | FILIPE RET Onde histórias criam vida. Descubra agora