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FILIPE
Eu não sei em qual parada eu me envolvi pra no final tudo ficar errado desde jeito. Porra, não é possível que esses três anos não provou nada de bom que fosse capaz de mudar a decisão da Sabrina e fizesse ela escolher ficar.

Sou muito otário mesmo, como eu ainda consigo pensar nessa possibilidade depois de receber a quantidade de chifre que levei. Não sei, papo reto mesmo... Não sei em que planeta eu tava vivendo que não via que aquela filha da puta ia acabar com minha vida.

Eu li em algum lugar que a paixão é capaz de deixar a pessoa cega, te faz aceitar qualquer paradinha só pra ter a pessoa ali... Mas ultimamente, acho que o nome dessa porra é dependência emocional.

É ser muita filha da puta mesmo e eu um burro, imbecil do caralho. Mais de trinta e cinco na carcaça e caindo numa dessas.

Mas preciso ser realista, não me aprendi ainda como esquecer isso tudo e parar de sentir o tanto que isso tá me destroçando por dentro.

Sacudi minha cabeça várias vezes seguidas, o trago que eu dei no Beck, ainda estava preso na minha boca. Tava tentando fazer minha cabeça parar de funcionar, de me tontear e me deixar maluco de tanto que penso e, como que a voz da nossa mente simplesmente não consegue calar a porra da boca por cinco minutinhos? Ia ser mó paz.

Fiquei meio leso com toda essa movimentação e soltei a fumaça pelo nariz e boca, numa vez só.

Enchi mais o copo e encarei o vidro da garrafa que já tinha muito menos que um dedo de bebida. Dei dois goles no copo e fiquei olhando o marrom do whisky cintilar no gelo, bagulho tava parecendo um diamante todo sujo.

— Irmão, que porra é essa? —  Tirei o foco do meu olhar do copo e deixei a garrafa já vazia cair de lado no estofado do sofá. Respirei fundo, já esperando o sermão que iria ouvir. — Filipe, caralho mano.

— Tico, vai embora. Na moral mermo. — eu bebi o restante do whisky e fui na direção da prateleira a cima do mini bar, pegando outra garrafa e abrindo no dente mesmo.

— A situação tá pior do que eu imaginava, doidão. — Maneirinho chegou junto do Caio olhando tudo e os dois pararam ali do lado do Tico, Maneirinho cruzou os braços e maneou a cabeça em negação. — Tu não toma banho tem quantos dias, parceiro? Dormir? Nada né, não, T-re? Maior olhão de panda.

— Vou ligar no bioparque pra perguntar se eles querem tentar botar um panda aqui no Rio de  janeiro. — Tico entrou na loucura do Maneirinho e eu já tava de cara quente.

— Quer meu celular pra ligar? — o Caio fala gargalhando enquanto estende o celular pro Tico.

— Caralho, vocês são bando de cornos, filhos da puta! Me Deixa em paz mano, mete o pé, some pô.

— Aí, papo retão, nós não é o corno dessa história não. — Maneirinho apontou pra mim e eu quis matar esse cara.

— Coé, respeita o momento do cara. — o Caio fala vindo até mim, e se sentou do meu lado. — Irmão, relaxa. Já dizia um sábio: "um homem sem chifre é um animal indefeso".

— Vai se fuder, Caio.

Eles gargalharam e eu levantei com a garrafa e com meu copo, fui até a janela e fiquei olhando a movimentação da rua. São quase meia noite, há duas semanas atrás, eu estaria bem sóbrio com a gata. Vendo qualquer parada na tv ou só ocupado com o rosto no meio das pernas dela.

— Mas agora papo sério, vim te buscar pra boa. — o Diogo fala chamando minha atenção. — Tu também Tico.

— Lá vem, Maneirinho e tuas ideias.  — viro focando nele. — Chora.

Até de manhã | FILIPE RET Onde histórias criam vida. Descubra agora