No dia de sua partida preferi não o ver, mas, não sabia o que era pior, não o ver ou o ver pela a última vez. Meu coração doía, estava quebrado, sensível. No entanto, eu tinha que manter a fé que dias melhores e felizes viriam. Os primeiros dias após sua partida foram os piores, cada canto da casa lembrava ele, e o quarto, esse sim estava eternizado em minha memória, foi lá onde passamos nossos últimos momentos juntos. Entrar naquele quarto para limpar, era torturante para mim.
- Minha filha, preciso que me ajude com a roupa. Tenho tanta coisa pra fazer que não vou conseguir passar o vestido que dona Elise precisa para usar mais tarde! - ouço a voz da minha mãe adentrando pela a cozinha.
Eu estava sentada em volta da mesa da cozinha, onde os funcionários da casa se reuniam para fazer as refeições. No entanto, enquanto eu descascava as batatas para o almoço, senti um forte enjôo me dominar. Ainda com a faca de descascar legumes nas mãos, fecho meus olhos na tentativa de alguma forma amenizar a sensação de desconforto.
- Lavínia, o que você tem minha filha?! - ouço minha mãe perguntar preocupada.
- Não é nada mamãe, é apenas uma queda de pressão, vai passar! - tento disfarçar ao olhar nos olhos dela.
- Tem certeza?
Faço que sim com um leve sorriso forçado.
- Está bem! - minha mãe parecia mais aliviada.
- Consegue me ajudar com o vestido?- Sim, assim que eu terminar aqui vou passá-lo!
- Obrigada querida! Sei que você tem muitos afazeres e deve ser isso o que está te deixando assim, tão sensível... O curso, as tarefas aqui, em casa, sei que a vida que levamos não tem sido fácil, mas, confio em você, e sei que através do seu esforço você vai conseguir ser alguém nessa vida!
Minha mãe depositava todas as esperanças em mim, e isso de certa forma me assustava as vezes, como também me enchia de orgulho por mim mesma. Eu seria a primeira em nossa família a conseguir ter um futuro diferente.
Os dias continuavam passando e os enjoos e dores nos seios iam só aumentando, até que resolvi fazer o tão temido teste. Eu sabia que tinha chances de dar positivo, de todo o mal estar que eu sentia mas últimas semanas terem uma razão, mas, mesmo assim eu torcia para que não, para que desse negativo. Aquela foi a terceira decisão séria que tomei na vida, atrás da tatuagem e da noite com Ben, é claro. E então aconteceu, dois risquinhos no palitinho do teste, positivo. Meu coração foi a mil, disparou, parou, e depois voltou a disparar. Eu estava grávida, esperando um filho de Ben e eu simplesmente não sabia como lidar com aquela situação, não sozinha.
Enquanto estava ainda sentada sob o vaso sanitário do banheiro da casa dos fundos da propriedade dos Albuquerque e Ribeiro, mil e uma coisas se passaram por minha mente. Eu estava grávida, de um filho do Ben, sozinha, sem dinheiro, sem condições financeiras, sem apóio de ninguém. Quando a minha mãe descobrisse o que fiz e com quem fiz, certamente não me apoiaria e só Deus sabia o que ela iria fazer comigo. Os pais de Ben, esses eram piores. Do tipo ricos metidos a besta que achavam que pobre só prestavam para os servir, era nesse meio que meu filho iria entrar por irresponsabilidade minha.
- Tem certeza que está certa disso, Lavínia?! - Paloma, minha melhor amiga perguntou pela a milésima vez.
- Tenho! - digo decidida.
- Está bem, estou aqui para te apoiar em tudo, mas, sabe o que penso sobre isso.
- Eu não posso, amiga! Não posso contar a verdade a Ben, não posso fazer ele voltar para o Brasil, porque é isso que ele vai fazer se descobrir a verdade.
- Você não fez esse filho sozinha, ele deveria estar aqui para te apoiar, para te ajudar! E conhecendo Ben como eu conheço é exatamente isso o que ele faria. Não esconda a verdade dele, Laví! Você sabe o quanto Ben gosta de você, ele jamais te deixaria para trás estando nessa situação.
- Eu sei, mas, não posso. Não posso fazer isso com ele, não posso o privar de seguir seus estudos, não posso o prender a mim, não posso colocar sob ele essa responsabilidade.
- O filho também é dele! - ela rebate.
- Sim, e nada poderá mudar isso, mas, Ben precisa estudar, a família dele, todos estão contando com isso... Não posso estragar tudo. Vou seguir com meu plano, vai dar tudo certo! - torço para isso.
- Você que sabe!
E foi exatamente o que fiz.
Paloma morava sozinha num apartamento que o pai dela havia lhe dado de presente de aniversário um ano antes, mesmo sabendo que eu seria um incoveniente para ela, aceitei sua ajuda e fui morar com ela na capital. Com a desculpa que iria terminar meu curso de gastronomia na capital para ter mais oportunidades de trabalho, embora meu plano ainda fosse esse ainda mais agora que eu teria uma pessoa que dependeria de mim, segui, ainda nos primeiros meses de gestação para ter meu filho longe de todos. Eu não poderia contar nada a ninguém, se Ben soubesse que teria um filho certamente voltaria para o país o mais rápido possível e isso só aumentaria a raiva de sua família, e se sua família soubesse do bebê certamente o desprezaria, um neto filho de uma empregada como eu não seria bem vindo, e se minha soubesse seria ainda pior. Minha mãe via em mim a chance de eu ter uma vida melhor diferente da que ela teve um dia, ela foi mãe solteira, sozinha, sem ajuda de ninguém, sem amparo, me criou, batalhou, deu duro e sonhava com um futuro diferente para mim. Eu precisava seguir com nosso plano, um iria esperar pelo o outro e quando o dia finalmente chegasse iríamos ficar juntos, no entanto agora não seríamos apenas dois, e sim, três. E conhecendo Ben como eu conhecia, eu sabia que aquela criança nos uniria ainda mais.

CZYTASZ
Luna
RomanceEla é a filha da empregada Ele é o filho do patrão Eles se separam, ela engravida. O tempo passa e nada e como antes.