9 Esquecer.

482 71 8
                                    


Bolo de fubá com calda de goiabada. 

Era o bolo preferido de Ben, e era justo esse bolo que eu estava terminando de decorar para um cliente do restaurante. Enquanto eu dava os toques finais no prato, lágrimas caíam de meus olhos, voltar ao trabalho não seria tão fácil como eu havia pensado. 

Meus dias só eram preenchidos quando no final do expediente eu voltava para casa. Estar com Luna, nossa mistura, sentir que de alguma forma eu tinha Ben ali, pertinho de mim através dela, me reconfortava um pouco. E foi num desses momentos de reconforto, enquanto eu e Luna assistíamos desenho sentadas no sofá da sala de casa, a campainha tocou. 

- Fica aqui meu amor, mamãe vai atender a porta! - falei para Luna enquanto me levantava do sofá. 

- Tá bom mamãe! - ele respondeu vidrada na televisão. 

Ao abrir a porta vi que era Paloma. 

- Estou feliz em te ver também! - ela brinca. 

Paloma entra e eu fecho a porta. Não é que eu não estivesse feliz em ver minha única amiga, mas, desde que Ben se foi, eu simplesmente não tinha mais motivos para sorrir. 

- Cadê o amor da vida da dinda?! - ela pergunta animada para Luna. 

- Estou aqui! - Luna diz animada. 

As duas se abraçam e riem juntas. 

- Luna! A dinda tem uma surpresa! - Paloma disse cantando. 

- Surpresa? - Luna perguntou curiosa. 

Paloma fez que sim. 

- Que tal, nós três fazermos uma super viagem para fora do país? - ela pergunta para Luna animada. 

- ÊBA! - Luna grita empolgada. 

- Viagem? - é a minha vez de falar. 

- Sim! Faz tempo que estou querendo fazer uma viagem, e, não quero ir sozinha... Pensei em levar minha afilhada preferida! - ela diz mais empolgada que Luna. 

- Você só tem Luna de afilhada! - retruco. 

- Que seja! - ela diz como se não se importasse. 

- Podemos mamãe? Podemos ir com a dinda pra essa viagem?! - Luna parecia animada. 

Eu não queria. Mas, não poderia privar minha filha de se divertir, de conhecer lugares novos, de conhecer o mundo... 

- Está bem! - digo vencida. 

Luna e Paloma gritam juntas animadas e se abraçam. 

- Luna, vamos fazer as malas! - Paloma diz empolgada. 

- Vamos! Vamos! - Luna diz contente. 

As vezes eu tinha a impressão que Luna era mais parecida com Paloma do que comigo. 

- E, para onde vamos? - pergunto. 

- Londres! - Paloma diz exibindo um leve sorriso. 

Logo meu pouco sorriso se desfaz. 

- Luna, querida. Vá vendo quais brinquedos você quer levar na mala, está bem?! - digo a minha filha. 

- Tá bom! - ela diz e saí. 

Encarando Paloma não consigo deixar de fuzilá-la com os olhos. 

- Londres? É sério isso? - pergunto zangada. 

- Amiga, eu posso explicar! - ela tenta. 

- Tá, tenta! - digo de braços cruzados. 

- Já fazem seis  meses amigas, Ben nos deixou há três meses! Tá na hora de superar. 

- E o que Londres tem a ver com isso? Você acha que me levando a um lugar onde ele morou por cinco anos antes de morrer vai me ajudar a superar? 

- Vai! Acredito sim. - ela é direta. 

- Tá falando sério? - indago. 

- Sim! Eu estou. - ela diz seriamente. 

Paloma estava. Eram raras as vezes que ela falava sério, mas ela falava. 

- Ainda não consigo entender! 

- Amiga, você precisa sofrer seu luto. Chorar, sentir a ausência dele, sentir Ben mesmo que não possa ver. 

- Paloma, eu já sofri por ele. Já chorei, já senti sua partida, não preciso passar por isso de novo. 

- Não, não passou! O que você viu foi um túmulo, uma lápide, e a ausência dele. Ausente Ben foi por cinco anos, você ainda acredita que ele vai voltar, no fundo, você se apega a isso, eu sei, você sabe. Laví, eu amo você amiga, e, acredito que você precisa seguir, mas, do jeito que você tá fazendo, não vai seguir nunca! 

Eu não queria admitir, mas sabia que Paloma tinha razão. Eu ainda o esperava. As noites em claro, a dor, o choro, a angústia, eram porque eu o esperava. Sonhava que chegaria um dia em que Ben surgiria na minha frente novamente, como ele fez no restaurante, e era por isso, agarrada a esse sonho, que eu voltei  a trabalhar, eu ainda o esperava. 

- E aí? Vamos sofrer de vez esse luto e enterrar Ben com suas lembranças? - Paloma indagou. 

Mesmo me sentindo ainda presa a ele, mesmo sentindo que eu não poderia o esquecer, que eu nunca iria o esquecer, aceitei. Me apeguei na esperança de que sim , era o certo a se fazer. Esquecer. 

LunaOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz